Alegações Extraordinárias precisam de Evidências Extraordinárias? (Refutação)

by - setembro 04, 2013


Alegações Extraordinárias precisam de Evidências Extraordinárias?

Um dos slogans usados para rejeitar qualquer evidência teísta, por parte dos neo-ateus, é que “Alegações Extraordinárias precisam de Evidências Extraordinárias”. Não que eles tenham inventado isso, é claro. Acho que a primeira vez que vi essa frase foi no programa Cosmos, de Carl Sagan. A partir daí, ela se espalhou pelo submundo dos que acham que são “livre-pensadores” (mas só no nome)… Mas qual o verdadeiro valor intelectual desse slogan? Segundo a minha análise, ele tem problemas tanto na teoria quanto na prática. Pense um segundo: o que é algo “extraordinário”? Isso depende completamente da nossa “background information”, que varia de indivíduo para indivíduo. Certas coisas que são “extraordinárias” para você certamente podem não ser para mim.

Um homem que vive nos trópicos em um local em que o gelo e a neve nunca se formam acharia a menção da existência do gelo algo extraordinário. Para o viajante que vem do Polo Norte (e que mencionou sobre a neve), a existência desse estados naturais seria a coisa mais ordinária do mundo – provavelmente ao ponto de ele nunca mais querer ver neve na sua vida. E algo semelhante acontece para qualquer outro assunto, como a existência de Deus. Pela experiência de alguém, a existência de Deus ou de milagres pode se tornar algo esperado. Temas como esse seriam tão óbvios que chegam a ser auto-evidentes; Locke, por exemplo, pensava algo nessa linha. Como está em um dos seus livros, “Pelo que foi dito, está claro para mim que temos mais certeza do conhecimento da existência de Deus do que qualquer coisa que nossos sensos não tenham imediamente descoberto para nós”. (An Essay concerning Human Understanding) E uma pessoa como Locke poderia pensar diante de um ateu: “Deus não existe? Oh, ESSA sim é uma afirmação EXTRAORDINÁRIA! Espero que você tenha provas EXTRAORDINÁRIAS disso para eu me convencer do contrário!”

Esse é um problema de usar um termo que acaba sendo significativo em primeiro pessoa (“extraordinário”) dentro de uma discussão que vai pelo quadro clássico de querer justificativas de “terceira pessoa” (onde elimina-se as particularidades do sujeito, como na ciência). Então temos um problema teórico, já que o critério se baseia na informação de fundo de cada indivíduo. Acabamos em uma confusão entre sujeitos. Na prática, ele também não vai muito melhor. Vamos pegar um primeiro exemplo: imagine que algumas décadas atrás dois homens estejam conversando. Um deles afirma que viajou até os desertos do outro lado do mundo: “Lá, no meio do nada, debaixo de um sol escaldante e das dunas de areia, há milhares de anos atrás, homens de tecnologia “primitiva” fizeram construções gigantes de mais de 100 metros de altura e largura! Eles chamam de “Pirâmides do Egito!”.

O outro nunca ouviu falar nada disso. Não faz a mínima ideia do que sejam pirâmides. Milhares de anos no passado? 100 metros de altura? No meio do DESERTO? “Bem, essa é uma alegação bastante extraordinária para mim! Não consigo acreditar em uma letra do que você diz!”. “Ah é? Então revele meu filme fotográfico e veja se estou mentindo”. O outro sujeito, que é fotógrafo profissional e trabalha com fotos todos os dias (a ponto de elas não o surpreenderem), revela o filme. E a imagem estava lá em uma das várias fotos do tourque o outro fez pelo mundo. “Oh, era verdade. Realmente existiam as pirâmides”.

Como vemos, uma simples e pequena foto foi suficiente para estabelecer uma verdade que era “extraordinária”. Da mesma forma, um argumento filosófico, se bem montado, é uma coisa relativamente simples. Mas pode nos ajudar a tirar grandes conclusões mesmo assim. Outro exemplo é o testemunho pessoal. É uma das evidências mais simples e menos extraordinárias de todas. Digamos que exista um evento cuja ocorrência seja de uma chance em mais de 50 milhões. E alguém lhe diz “Sim, essa chance de uma em 50 milhões ocorreu. Eu vi”. Por esse critério, você JAMAIS poderia aceitar o testemunho, justamente por ele não ser nada extraordinário.

Mas agora suponha que você aposte na Mega-sena a combinação  “18-22-33-44-53-55”. A chance de que VOCÊ saia vencedor com essa combinação é de uma em 50 milhões. Então você liga o noticiário e a repórter do evento dá seu testemunho: “Atenção, atenção! “18-22-33-44-53-55”! O número vencedor é “18-22-33-44-53-55”!” Então o improvável aconteceu! “Eu consegui ganhar na Mega-sena!”  O testemunho, que é uma evidência simples, nesse caso, é suficiente para formar uma crença que algo extraordinariamente improvável ocorreu. E nós dois sabemos que você não iria rejeitá-lo… Novamente, uma evidência simples (testemunho) serviu para estabelecer o “extraordinário”. Então temos dois problemas com o slogan:

1- Teórico: critério do que é extraordinário depende do sujeito.

2- Prático: há casos em que POUCA e SIMPLES evidências são suficientes para estabelecer “alegações extraordinárias”.

Diante disso, já podemos descartá-lo.

Conclusão e considerações finais:

Algumas pessoas pode estar sinceramente enganadas com o slogan. Outras, sem dúvida, usavam como uma arma-mantra: “Não é extraordinário o suficiente, não é extraordinário o suficiente, não é extraordinário o suficiente”. Em ambos os casos, não precisamos mais aceitar a ladainha de nenhum deles, pois isso está, de imediato, refutado.

Referências:


https://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/

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