O Desafio Divino (Análise e Refutação)

by - setembro 23, 2013


O Desafio Divino

Essa é uma técnica de intimidação praticada em debates. O estratagema consiste em uma variação do Deus Call-Center que vimos em outro post: se Deus não responder imediatamente a um desafio qualquer proposto pelo neo-ateu, significa que Ele não existe. Claro que esse argumento beira o pífio, mas vamos dissecá-lo de qualquer forma.

A fraude pode ocorrer da seguinte maneira:


- NEO-ATEU: Eu faço um desafio a Deus então. Se ele existir, que ele venha aqui e quebre meu dedo agora. Se ele é onipotente, deve ser fácil para ele. Se ele não o fizer, vou concluir que ele não existe. E aí, será que ele consegue?

No fundo, essa ideia não é nada diferente desta: O neo-ateu vai ao banheiro, faz um barrão e vê que não tem papel higiênico. Aí ele resolve desafiar: “Deus, se você existe, limpe a minha bunda! Se você não limpar, significa que você não existe!”. Ele espera alguns minutos, vê que a situação não mudou nada e sai por aí, com as calças arriadas, gritando, “Agora sim! Descobri! Deus, quase com certeza, não existe! Viva!”. O erro COLOSSAL desse argumento é que ele INVERTE a descrição da realidade normalmente proposta pelo religioso tradicional (coisa típica da mentalidade revolucionária, diga-se de passagem). Para um religioso tradicional, existe uma ordem no Universo, na qual Deus é o ser superior e o homem está abaixo. Ou seja, é o HOMEM que tem que seguir essa ordem existente e não Deus que deve se sujeitar aos caprichos e desejos humanos. E isso não implica em incapacidade de Deus, pois basta que ele tenha motivos suficientes para não responder ao desafio para que não aja (o que é diferente de não ter o poder para isso).

Esse fato só implicaria falta de poder se Ele fosse um ente utilizável como um “controle remoto” universal ou um gênio da lâmpada, o que é bem diferente do descrição clássica. Assim, se alguém faz um desafio para Deus, o fato de ele não aceitar não influência em absolutamente NADA, filosoficamente, na discussão sobre sua existência ou não. A questão é simples: se houver qualquer razão para Deus (que está acima na escala, segundo a definição religiosa) não agir imediatamente diante de qualquer provocação, como preservação do livre-arbítrio, produção de resultados ruins em longo prazo diferentes do que ele gostaria ou etc, o argumento (se é que podemos chamar de argumento) é falho. Enquanto existir a mínima possibilidade de haver alguma razão, então o neo-ateu já perdeu feio no seu desafio infantil que conclui a não existência de Deus.

Vamos ilustrar com um caso banal: imagine que existam dois coleguinhas de uns oito anos em um parquinho. Um deles não aceita de jeito nenhum que o outro acredite que têm um pai está vivo. Aí, para resolver a questão, ele diz: “Se seu pai existe, que ele venha aqui me dar uma surra então! Se ele é adulto, ele deve ser forte o bastante para isso! E aí, será que ele vai conseguir?” Mas é claro que o pai teria razões morais suficientes para não aceitar esse desafio estúpido. Possivelmente ainda iria desprezá-lo por completo, por ser algo completamente imaturo. A refutação pode seguir mais ou menos assim:


- NEO-ATEU: Se Deus exista, eu DESAFIO que ele venha aqui impedir que esse meu post seja publicado. Se o post for publicado, vou concluir que ele não existe.


- REFUTADOR: Estranho, pois na definição de Deus não há nada disso de “moleque esquentadinho de 14 anos que precisa responder a qualquer provocação”. Você pode indicar em qual livro de Teologia você leu isso?

- NEO-ATEU: Se ele é onipotente, ele TEM que agir. Por que Deus não age para impedir que alguém como eu faça campanha contra ele?

- REFUTADOR: Não sei. Por permitir o livre-arbítrio, por exemplo? Se houver alguma razão possível, seu argumento já é falho.

- NEO-ATEU: Mas se Deus pode então ele faria. Não fazendo, não existe. Afinal, ele quer que todos o conheçam.

- REFUTADOR: Não, essa sua definição não possui absolutamente NADA a ver com a normal. Existem outras maneiras de conhecer Deus que não são por meios de desafios, segundo a tradição. Se você não quer aceitar isso, ótimo. Mas não INVENTE uma definição própria em que o conhecimento tenha que vir por meio de um duelo e besta e fique enchendo o saco de quem tem uma diferente da sua.


[e assim por diante, até que o público fique alerto da fraude intelectual]



Conclusão e considerações finais:

Que a inexistência de Deus, definido teologicamente tal qual um Supremo Senhor do Universo, seja provada por ele não andar por aí limpando bundas e quebrando dedos, certamente ultrapassa a compreensão de qualquer homem médio pensante. E que neo-ateus concluam tal coisa, por uma situação análoga à presença inalterada de coliformes e fezes em suas cavidades retais, é algo que, por si, já demonstra uma ingenuidade além do normal ou uma desonestidade deliberada do proponente dessa ideia.

Referências:

https://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/outras-postagens/

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