O Pecado como Arma de Dominação (Análise e Refutação)

by - setembro 18, 2013



O Pecado como Arma de Dominação


Nessa afirmação, o oponente dirá que o “pecado” é somente um instrumento de dominação utilizado pelas religiões. A ideia é mais ou menos a seguinte: As pessoas tem vontades e impulsos de fazer determinados atos. No entanto, é dito que se elas realizarem essas vontades estarão cometendo “pecados”. A religião aproveita-se e cria um estado moral censurando essa vontade. Logo, esses mesmos indivíduos ficariam assustados em descumprir aquela norma, mesmo desejando fazer tal coisa (o que geraria um sentimento de culpa), tornando-se dominadas por aquele sistema.
Essa técnica comete uma baita falácia da pressuposição. Uma única premissa aceita de forma oculta – Deus não existe – muda todo o raciocínio realizado. Se Deus realmente não existe, então eu devo concordar parcialmente com essa ideia. Se o ateísmo é verdadeiro, então não há nada como “uma norma moral”. Somente há ILUSÕES de moralidade dentro dos cérebros dos seres humanos. Dessa forma, a noção de “pecado” trazido pelos líderes religiosos, que se baseia diretamente no que é moral ou não fazer, é vazia. Não sei se eles realmente inventaram com o objetivo de “dominação”, pode ser que eles estivessem sinceramente enganados, como eu acredito que deveriam estar, se for o caso, mas esse seria o único efeito prático do conceito e da culpa gerada por ele. Mas vamos pelo outro lado, considerando que Deus, de fato, existe. Nesse caso, há um ser essencialmente bom que é o próprio “locus” da verdade moral. Enunciados morais como: Amar o seu próximo é uma coisa moralmente boa. São verdadeiros e reais nesse mundo que conta com Deus. E mais: refletindo essas qualidades morais que fazem parte de Sua própria natureza, Ele também exige um comportamento moral dos outros seres pessoais no Universo. “Amar o próximo” não é somente uma verdade moral; esse enunciado também é um DEVER dos seres livres do Universo com relação uns aos outros.

Esses seres também não são seres quaisquer; eles são, de uma forma ou de outra, o resultado de um processo que foi iniciado ou, no mínimo, supervisionado por Deus. Então Deus é a própria fundação dos valores morais. Ele é o responsável pela existência dos seres humanos e ao mesmo tempo exige que eles tenham um comportamento moral, sob a forma de um dever. Nesse caso, parece-me provável que os seres humanos iriam ter alguma área neurológica relacionada ao sentimento de culpa por descumprimento do dever moral. Falando de forma branda, a violação dos deveres iria se refletir dentro do nosso esquema mental, gerando uma sensação de desconforto ou inadequação perante àquela situação. Respeitar meus pais, que sempre me deram apoio e cuidaram de mim, é algo bom, e também é um dever moral da minha parte. Mas eu não o faço, por pura birra da minha parte, eu xingo meus familiares e os desprezo profundamente em certa situação. Isso gera em mim um estado de miséria e desconforto pessoal, que é resolvido pelo admissão do erro e tentativa de reconciliação. Esse mesmo estado é um inibidor para que eu volte a repetir minha violação daquele dever moral.

É claro que eu não estou dizendo que isso SEMPRE acontece ou em todas situações de deveres morais isso necessariamente iria acontecer, é possível que a estrutura ética de uma pessoa esteja afetada e que, dentro da hipótese de que Deus realmente tenha feito tal coisa, ela não funcione apropriadamente em alguns eventos. Mas isso não muda o fato de que o teísta tem uma boa explicação do porquê isso acontecer. Lembramos que esses deveres também poderiam estar sistematizados dentro de uma revelação religiosa demonstrada pelo próprio Deus e que ajudariam a pessoa a se manter na linha de acordo com Sua natureza boa. Outro erro comum é pensar em moral APENAS em termos mundanos e ralos. Algumas pessoas costumam pensar que algo não é imoral desde que “Não prejudique a terceiros”. Mas é claro que essa não é a concepção de moral para um teísta tradicional. Se a moral está fundamentada em Deus, não é somente um jogo de perde e ganha entre as pessoas de uma sociedade, então MESMO atos que não prejudiquem a terceiros podem ser imorais. O pecado, definido de forma direta, é uma separação, em ato, do agente em relação à natureza moral de Deus. Se eu me fechar numa sala e começar a proferir uma tonelada de impropérios contra Deus (imagine que eu esteja lendo a citação de Dawkins, em tom provocativo, e me deleitando nela: “Seu mesquinho, pestilento, filicida, etc”…), isso seria um pecado, se o teísmo é verdadeiro? Dentro do meu critério anterior, sim. Não prejudica a ninguém, mas certamente é um pecado, pois meu comportamento citado representa uma separação da natureza santa de Deus. Então, se entendermos em termos teístas:


(A) O pecado é reflexo da existência de valores morais objetivos (fundamentados em Deus).


(B) O sentimento de culpa ou preocupação gerado pela prática do “pecado” faz parte de um esquema que pode ser explicado facilmente dentro dessa cosmovisão.

(C) Longe de ser uma forma de “dominação”, essa é uma força de aperfeiçoamento moral e desenvolvimento humano, que nos levaria à virtude e a verdadeira felicidade (que é o conhecimento de Deus).


A ideia de “viver sem culpas” não passa de uma sociopatia moderna. Mas “viver sem culpas” pode significar ainda uma terceira coisa: pode significar a abolição pura e simples da ideia de culpa. Neste caso, faça o indivíduo o que fizer, seus atos não serão examinados sob a categoria da culpa, do arrependimento, da pena e da reparação. Não importando a natureza desses atos nem as consequências que deles decorram para terceiros, serão sempre enfocados de modo a evitar o constrangimento de um acerto de contas moral. Poderão ser explicados sociologicamente, psicologicamente, pragmaticamente, ser avaliados em termos de vantagem e desvantagem, descritos em termos de desejo, gratificação e frustração. Só não poderão ser julgados. Este último sentido é, com toda a evidência, o único em que é possível, na prática, “viver sem culpas”. É ele, evidentemente, que os ideólogos modernos têm em vista quando oferecem à humanidade esse ideal de futuro.

Mas, no presente, já há muitas pessoas que vivem sem culpas, que não se submetem ao exame da consciência moral, que não se sentem constrangidas quando suas ações produzem danos para terceiros. Chamam-se sociopatas. Não são doentes mentais, nem retardados. São indivíduos inteligentes, capazes, não raro dotados de certa genialidade e impressionante desenvoltura social, e apenas desprovidos de sensibilidade moral para sentir culpa pelos seus atos. Entre eles encontram-se assaltantes, traficantes, chefes de gangues e todos os líderes de movimentos totalitários, sem exceção. Quem deseje ser como eles sente seu coração bater forte, cheio de esperança, quando ouve alguém anunciar que é possível viver sem culpas. Nossa civilização começou quando Cristo ordenou ao apóstolo: “Toma tua cruz e segue-me.” Dois milênios depois, o ideal que se anuncia é jogar a cruz fora, pouco importando em cima de quem ela caia, e seguir correndo o carro da História, pouco importando quem ele venha a esmagar pelo caminho.

Conclusão e considerações finais:

O importante é manter em mente que a aplicação dessa técnica REQUER a aceitação oculta da premissa que a religião e o teísmo são falsos, inventados por muquiranas querendo mandar nos outros. O pecado está relacionado a noção de “desvio” e “culpa”, sim. Mas essas noções, se o teísmo for verdadeiro, não são formas de “dominação”, mas um importante instrumento para o desenvolvimento do verdadeiro valor moral e realização do ser humano. E se o teísmo é verdadeiro, como de fato é, então toda a argumentação referente ao pecado na forma de instrumento de dominação está refutada.

Referências:

https://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/outras-postagens/

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2 comentários

  1. Cara, achei muito boa esse técnica de refurtação. A questão do "Pecado" é amplamente utilizada por ateístas ou como você escreveu "neo-ateu" para justificar a enorme quantidade de pessoas que se convertem ao evangelho. Respostas como essa ajudam num debate. Todo esclarecimento é válído para desmistificar qualquer resposta que confronte a existência de Deus.
    Obrigado!

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    1. Muito obrigado, amigo! De fato, esta técnica é amplamente utilizada e devemos ter ciência de como refutá-las! É sempre um prazer contribuir!

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