Naturalismo Metafísico (análise e objeções)
by
Andrei
- outubro 14, 2014
Análises e objeções acerca do Naturalismo Metafísico
O naturalismo é, em oposição ao sobrenatural ou espiritual, a ideia ou
crença de que apenas as leis e as forças naturais operam no mundo. Basicamente, trata-se de um sistema filosófico que suporta a ideia de que não
existe nada para além da natureza, das forças e causas do tipo das que
são estudadas pelas ciências naturais, ou seja, aquelas que são requeridas para compreender o nosso mundo físico. O naturalismo metafísico afirma que todos os conceitos relacionados com a consciência e a mente fazem referência a entidades que podem ser reduzidas a relações de interdependência (superveniência) com forças e causas naturais. Mais especificamente, afasta a hipótese da existência objetiva de
algo sobrenatural, como ocorre nas religiões humanas. Também afasta a
ideia de teleologia, ou seja, atribuir um processo a uma finalidade, vendo o que é sobrenatural explicável do ponto de vista natural. O naturalismo ontológico resume-se na visão não dualista da realidade. Os
adeptos do naturalismo afirmam que as leis naturais são as regras que
regem a estrutura e o comportamento do universo natural e que cada etapa
da evolução do universo é um produto dessas leis, porém, o que os naturalistas falham em perceber é que o universo natural, por
consequência lógica, não pode dar origem a si mesmo, simplesmente porque
se a causa desse universo fosse natural (material), então o que
entendemos por universo natural (realidade material e física) já existiria, caindo em contradição ao falar de
"causa do universo". Existir o natural (matéria) anterior ao surgimento do natural
(matéria) é, obviamente, uma contradição lógica. Portanto, se há uma causa
primeira, ela deve ser sobrenatural (imaterial). Pensemos acerca da alegação que o mundo natural é tudo o que existe:
Esta alegação é logicamente equivalente ao ateísmo, entretanto, não se pode provar cientificamente o último, haja vista que a ciência somente estuda o mundo natural. Como é possível a ciência comprovar que não há nada além do mundo natural, visto que esta é uma questão metafísica? O único caminho pelo qual os naturalistas poderiam realizar isto seria através da fé. Mas esta, obviamente, estaria contradizendo sua própria visão que diz que nós somente devemos acreditar no que pode ser cientificamente comprovado, isto é, a adoção do cientificismo. Esta posição parece demonstrar incoerência. Agora, consideremos a segunda alegação: nós devemos acreditar somente no que pode ser cientificamente provado. Bem, esta alegação é comprovadamente falsa. Em primeiro lugar, é muito restritiva. Há uma série de coisas que nós, racionalmente, aceitamos, mas que não podem ser provadas cientificamente, por exemplo, verdades matemáticas e lógicas, verdades metafísicas (o mundo externo é real), verdades éticas, verdades estéticas e até mesmo verdades científicas. O fato é que a própria ciência é permeada de suposições que não podem ser provadas. Por exemplo, a teoria da relatividade, um dos pilares da física contemporânea, é baseada na suposição da constância da velocidade da luz entre dois pontos A e B, mas, estritamente, isto não pode ser provado. Nós simplesmente devemos fazer essa suposição se quisermos manter a teoria. Dito isso, conclui-se que é simplesmente muito restritivo sustentar que nós somente devemos acreditar no que pode ser cientificamente provado. Mas, pior do que isso, o naturalismo é auto-refutável, pois "considerando que somente devemos acreditar no que pode ser cientificamente provado", pode esta sentença ser cientificamente provada? Obviamente não! Portanto, esta posição científica naturalista refuta a si mesmo e não pode ser verdade. Da mesma forma, filósofos como Alvin Plantinga têm obtido sucesso ao argumentarem contra essa cosmovisão, como por exemplo utilizando o argumento evolutivo contra o naturalismo:
1- Um ser requer um processo racional para avaliar a verdade ou falsidade de uma alegação (doravante, para ser convencido por um argumento).2- Se os seres humanos são capazes de serem convencidos por um argumento, o seu processo de raciocínio precisa ter uma fonte racional.
3- Racionalidade não pode surgir de não-racionalidade. Nenhuma arranjo de materiais não-racionais criam uma coisa racional.
4- Nenhum material meramente físico ou combinação de apenas materiais físicos constituem uma fonte racional.
5- Nenhuma avaliação que é verdadeira ou falsa pode vir de uma fonte meramente física.
6- As avaliações de mentes humanas são, de fato, capazes de verdade ou falsidade.
7- O processo de raciocínio humano precisa ter uma fonte não-física e racional.
8- Naturalismo, a posição de que tudo (incluindo a razão) nasce de processos físicos, é falso.
O naturalismo não pode sequer ser racionalmente afirmado, pois se o mesmo constituísse uma verdade, a probabilidade de que nossas faculdades cognitivas fossem confiáveis seria ínfima. No referido cenário naturalista, nossas faculdades seriam moldadas por um processo de seleção natural, que não seleciona para a verdade, mas apenas para a sobrevivência. Há muitas maneiras em que um organismo pode sobreviver sem que suas crenças sejam verdadeiras. Assim, se o naturalismo fosse verdadeiro, não poderíamos ter alguma confiança de que nossas crenças são ,de fato, verdadeiras, incluindo a crença no naturalismo em si! Deste modo, o naturalismo parece ter um invalidador embutido que o torna incapaz de ser racionalmente afirmado. Em tempo, existem ainda outras inúmeras objeções ao naturalismo. Listarei abaixo oito delas, sendo a última objeção brilhante, demonstrando claramente a irracionalidade do naturalismo metafísico:
Argumento da intencionalidade
1- Se o naturalismo é verdadeiro, logo eu não posso pensar sobre nada, pois não há estado intencional.
2- Eu penso sobre o naturalismo, o que implica que:
3- Portanto, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento do significado
1- Se o naturalismo é verdadeiro, logo nenhuma sentença possui um significado.
2- A primeira premissa tem sentido, pois todos nós entendemos.
3- Logo, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento da verdade
2- A primeira premissa é verdadeira.
3- Logo, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento da exaltação moral e culpa
1- Se o naturalismo é verdadeiro, então eu não serei mais moralmente louvável ou censurável por nenhuma de minhas ações, pois valores e deveres morais objetivos não existem.
2- Eu sou moralmente louvável ou censurável por minhas ações. Se você pensar que alguma vez fez algo verdadeiramente errado ou correto, logo, deverá concluir que:
3- O naturalismo não é verdadeiro.
Argumento da liberdade
1- Se o naturalismo é verdadeiro, eu não faço nada livremente, pois tudo é determinado.
2- Eu posso concordar ou discordar dessa premissa.
3- Logo, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento do propósito
1- Se o naturalismo é verdadeiro, eu não planejo fazer nada.
2- Eu planejei argumentar.
3- Logo, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento da permanência
1- Se o naturalismo é verdadeiro, eu não permaneço por dois momentos do tempo.
2- Eu estou escrevendo aqui por mais de 1 minuto.
3- Logo, o naturalismo não é verdadeiro.
Argumento da existência pessoal
1- Se o naturalismo é verdadeiro, eu não existo, pois não há perspectiva de primeira pessoa.
2- Eu existo.
3- Portanto, o naturalismo não é verdadeiro.
Os naturalistas tendem a pensar que não existe nada além da
matéria. Em outras palavras, nossa mente seria apenas um subproduto
natural do acaso. Mas se as leis da física, na cosmovisão ateísta,
possui caráter prescritivo, isto é, guiam o mundo natural, logo, não
teríamos livre-arbítrio. Dito isso, nós não teríamos o controle dos
nossos próprios pensamentos, ficando desta forma, presos à determinação
físico-biológica. Então, por que nós continuamos a nos questionar sobre
a origem do Universo? Afinal de contas, que argumentos temos a favor do
naturalismo? Bem, certamente, são poucos. Por outro lado, objeções tem-se muitas. Não parece haver boas razões para crer que o o mundo natural é tudo o
que existe, e, certamente, não há boas razões para crer que nós só
devemos acreditar no que pode ser cientificamente provado. Em resumo, é
difícil ver qualquer boa razão para pensar que o naturalismo científico é
verdadeiro. Simplesmente, o naturalismo anda distante da razão e da experiência, sendo, portanto, absurdo e logicamente insustentável.