Carta aberta aos "cristãos marxistas"
by
Andrei
- outubro 18, 2016
Razão em Questão, 18 de outubro de 2016.
Caros irmãos,
Sinceramente, eu não entendo – excluso o analfabetismo político – como um cristão pode se posicionar dentro de alguma vertente do marxismo. Aqui, vos deixo claro que não se trata de divergência política ou opinião pessoal. Antes de tudo, trata-se de coerência filosófica. Tanto o socialismo quanto o comunismo são sustentados pelo pilar central de toda e qualquer teoria marxista: o materialismo dialético. Nesse sentido, todas as relações humanas se dão estritamente no plano material – e aqui inclui-se o ambiente, os fenômenos físicos e qualquer organismo. Ou seja, todas as esferas das relações humanas são, em última análise, explicadas em termos materiais. Em suma, o materialismo está em franca oposição ao dualismo filosófico, que nos diz que os fenômenos e propriedades mentais são exteriores ao mundo material.
Agora, percebam que o materialismo dialético exclui qualquer possibilidade de se explicar a história humana por vias não materiais. Nesse sentido, como vocês – cristãos marxistas – esperam explicar a relação do homem com Deus; o espírito ou a vida eterna em um plano filosófico que é essencialmente ateu? Sim, é impossível. Ora, Marx sabia disso (afinal, se inspirou em Feuerbach); Engels sabia disso; Lenin sabia disso, os Estados Ateus (como eram conhecidos os regimes comunistas como a China de Mao) sabiam, até a Igreja Católica sabia disso – não é à toa que condena o marxismo desde pelo menos 1846 – menos você. E aqui cabe o aviso: Segundo a mesma Igreja, ser cristão e, ao mesmo tempo, professar o materialismo histórico é cometer apostasia (antes, era excomunhão ipso facto). Sim, amiguinho, você está entre a cruz e a foice.
Caros irmãos,
Sinceramente, eu não entendo – excluso o analfabetismo político – como um cristão pode se posicionar dentro de alguma vertente do marxismo. Aqui, vos deixo claro que não se trata de divergência política ou opinião pessoal. Antes de tudo, trata-se de coerência filosófica. Tanto o socialismo quanto o comunismo são sustentados pelo pilar central de toda e qualquer teoria marxista: o materialismo dialético. Nesse sentido, todas as relações humanas se dão estritamente no plano material – e aqui inclui-se o ambiente, os fenômenos físicos e qualquer organismo. Ou seja, todas as esferas das relações humanas são, em última análise, explicadas em termos materiais. Em suma, o materialismo está em franca oposição ao dualismo filosófico, que nos diz que os fenômenos e propriedades mentais são exteriores ao mundo material.
Agora, percebam que o materialismo dialético exclui qualquer possibilidade de se explicar a história humana por vias não materiais. Nesse sentido, como vocês – cristãos marxistas – esperam explicar a relação do homem com Deus; o espírito ou a vida eterna em um plano filosófico que é essencialmente ateu? Sim, é impossível. Ora, Marx sabia disso (afinal, se inspirou em Feuerbach); Engels sabia disso; Lenin sabia disso, os Estados Ateus (como eram conhecidos os regimes comunistas como a China de Mao) sabiam, até a Igreja Católica sabia disso – não é à toa que condena o marxismo desde pelo menos 1846 – menos você. E aqui cabe o aviso: Segundo a mesma Igreja, ser cristão e, ao mesmo tempo, professar o materialismo histórico é cometer apostasia (antes, era excomunhão ipso facto). Sim, amiguinho, você está entre a cruz e a foice.
Ora, o Cristianismo sempre se compadeceu com os pobres e oprimidos. Justamente por isso deveríamos considerar a Doutrina Social da Igreja Católica. A título de exemplo, a Igreja de Roma sempre reconheceu o direito à propriedade privada, mas, em contrapartida, condenando a ganância capitalista e a exploração desumana da força de trabalho, como o Papa Francisco vem fazendo. Ainda assim, a Igreja observa os direitos fundamentais dos trabalhadores, como a limitação da jornada de trabalho, o descanso aos fins de semana, o estabelecimento de salários dignos, as férias remuneradas, entre outros direitos. A preocupação com os pobres está, antes de tudo, fundamentada nos evangelhos. Não é algo novo ou nascido do marxismo. A diferença entre ambos está nos fundamentos.
O que a Igreja Católica condena no marxismo ou na teologia da libertação é, a título de exemplo, o materialismo dialético, o ódio entre classes e a negação do transcendente. Não se pode querer excluir Deus do evangelho e colocar os pobres em seu lugar. Isso é professar uma antropologia materialista e corroborar uma falsa epistemologia. O Cardeal Ratzinger nos diz:
"Sem resposta para a fome da verdade, sem cura das doenças da alma ferida por causa da mentira ou, numa palavra, sem a verdade e sem Deus, o homem não se pode se salvar. Aqui descobrimos a essência da mentira do demônio. Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. Deus é um luxo dos ricos. Segundo ele, a única coisa decisiva é o pão, a matéria. O centro do homem seria o estômago".
Daí o fato de se cometer apostasia ao adotar esse tipo de antropologia. Nesse sentido, fica evidente que nesses pontos não há (e não pode haver) contradição alguma no Cristianismo. Logo, quando um cristão critica o capitalismo e, ao mesmo tempo, se preocupa com os pobres e oprimidos, ele ainda é cristão, afinal, não faz mais do que consta na Doutrina Social da Igreja Católica. O problema aparece justamente nas palavras de Ratzinger. Quando se atinge o materialismo, você deixa de ser cristão e passa a ser um apóstata. O tipo de contradição citado aqui é filosófica e teologicamente insuperável.
Em conclusão, nos parece óbvio que o Marxismo é e sempre foi filosoficamente oposto ao Cristianismo. “Mas, Razão em Questão, não tem mesmo como conciliar as duas coisas?" Teoricamente, um cristão pode ser "marxista" se não professar o materialismo dialético, mas é impossível fazê-lo sem demolir a estrutura de toda a teoria. Então, não. Não tem como. Enfim, um conselho aos amigos (cristãos e não-cristãos): estudem a Doutrina Social da Igreja Católica. Talvez vocês se reconheçam ali mais que em qualquer outro lugar. Em tempos escuros, de "fla-flu" político e descargas de ódio por todos os lados, um pouco de luz vai bem.
O que a Igreja Católica condena no marxismo ou na teologia da libertação é, a título de exemplo, o materialismo dialético, o ódio entre classes e a negação do transcendente. Não se pode querer excluir Deus do evangelho e colocar os pobres em seu lugar. Isso é professar uma antropologia materialista e corroborar uma falsa epistemologia. O Cardeal Ratzinger nos diz:
"Sem resposta para a fome da verdade, sem cura das doenças da alma ferida por causa da mentira ou, numa palavra, sem a verdade e sem Deus, o homem não se pode se salvar. Aqui descobrimos a essência da mentira do demônio. Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. Deus é um luxo dos ricos. Segundo ele, a única coisa decisiva é o pão, a matéria. O centro do homem seria o estômago".
Joseph Aloisius Ratzinger
Daí o fato de se cometer apostasia ao adotar esse tipo de antropologia. Nesse sentido, fica evidente que nesses pontos não há (e não pode haver) contradição alguma no Cristianismo. Logo, quando um cristão critica o capitalismo e, ao mesmo tempo, se preocupa com os pobres e oprimidos, ele ainda é cristão, afinal, não faz mais do que consta na Doutrina Social da Igreja Católica. O problema aparece justamente nas palavras de Ratzinger. Quando se atinge o materialismo, você deixa de ser cristão e passa a ser um apóstata. O tipo de contradição citado aqui é filosófica e teologicamente insuperável.
Em conclusão, nos parece óbvio que o Marxismo é e sempre foi filosoficamente oposto ao Cristianismo. “Mas, Razão em Questão, não tem mesmo como conciliar as duas coisas?" Teoricamente, um cristão pode ser "marxista" se não professar o materialismo dialético, mas é impossível fazê-lo sem demolir a estrutura de toda a teoria. Então, não. Não tem como. Enfim, um conselho aos amigos (cristãos e não-cristãos): estudem a Doutrina Social da Igreja Católica. Talvez vocês se reconheçam ali mais que em qualquer outro lugar. Em tempos escuros, de "fla-flu" político e descargas de ódio por todos os lados, um pouco de luz vai bem.
Att, Razão em Questão
Andrei S. Santos
Graduando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense