Antropoceno: a era colossal dos humanos
by
Andrei
- janeiro 14, 2016
O Antropoceno
É chegado o momento em que a humanidade, finalmente, marcou sua passagem na história natural. O homem, enquanto espécie cultural, foi capaz de transformar de forma inigualável e irreversível o ambiente. As mudanças foram tão grandes que se comparam aos maiores fenômenos geológicos dos quais temos notícias. Civilizações que deixaram tantas ou mais marcas que um processo de erupção vulcânica, terremotos ou erosões. O ser humano é, indubitavelmente, uma força de transformação planetária, comparável até mesmo ao meteoro que dizimou os dinossauros há cerca de 66 milhões de anos, segundo a Comissão Internacional de Estratigrafia (ICS). Em função desse fato, está em vigor uma proposta para a adoção oficial do Antropoceno, a "era dos humanos", no sistema de divisão do tempo geológico do planeta, sucedendo, portanto, o Holoceno. As mudanças ocasionadas pela humanidade têm consequências até então inimagináveis. Impactos são sentidos tanto na geologia como na própria seleção natural.
Estamos vivenciando uma época em que os processos geológicos da Terra foram transformados de tal forma que estamos criando um novo tipo de geologia, um novo estrato com fósseis e um novo padrão da química nas rochas. Geólogos do futuro, certamente, notaram que algo aconteceu, que mudou drasticamente o curso da história natural, tal como o meteoro que atingiu a Terra e extinguiu os dinossauros há milhões de anos. A seleção artificial faz-se majestosa como a comissão de frente da humanidade: manipulações genéticas; recombinações de DNA; clonagem. O homem conduz o processo com o objetivo de selecionar características desejáveis em animais, plantas e outros seres vivos. Como resultado, o aumento da produção de carne, leite, lã, seda ou frutas. A produção de diversas raças domésticas de cães, gatos, pombos, bovinos, peixes e plantas ornamentais. É uma seleção em que a luta pela vida fora manipulada pela escolha humana.
Elementos radioativos espalhados pelas explosões das primeiras bombas atômicas perdurarão por muitos e muitos anos, bem como a alta concentração de dióxido de carbono (CO²) preso nas calotas polares e geleiras glaciais pelo mundo. Embora os exemplos já citados sejam de pouca relevância em uma escala de tempo geológico, outros materiais não o são. Neste grupo, encontram-se as alterações na biosfera, tanto com o extermínio de espécies de animais e plantas em uma velocidade somente vista em extinções massivas do passado, quanto com a sua redistribuição pela superfície da Terra. Essas mudanças seriam vistas, no futuro, como sendo distintas e, até mesmo, radicais. São, de fato, mudanças permanentes e irreversíveis. Este conjunto de eventos únicos estão mudando drasticamente o curso da história natural de forma que todos os fósseis nos estratos acima da camada do impacto são diferentes. Segundo recentes estudos publicados na revista Nature, o impacto da humanidade é capaz de adiar em até 100 mil anos o início da próxima Idade do Gelo. Lembrando que o último ciclo glacial acabou há 11,7 mil anos.
Segundo as pesquisas sobre o impacto climático realizadas na Alemanha, seria esperado um novo ciclo de resfriamento no futuro, porém, as constantes emissões de CO² com a queima de petróleo, carvão e gás estão levando a civilização a transpassar essa fase. Os cientistas citam ainda que as mudanças provocadas pela ação do homem na Terra podem interferir no ciclo natural do carbono pela queima de combustíveis fósseis. No futuro, a química presente nas rochas indicará as alterações na forma como o carbono circulou pela Terra, com uma composição isotópica diferente do ciclo original. Este é mais um exemplo da magnitude das ações provocadas pelo homem. Na lista de evidências duráveis também está o que o grupo de cientistas da ICS batizou de tecnofósseis: restos fossilizados dos produtos tecnológicos. São rastros de plástico, cinzas, fuligem e concreto que serão reconhecidamente diferentes de tudo que existia ou aconteceu no planeta antes.
Talvez, os cientistas do futuro não reconheçam um computador fossilizado, mas perceberão que o contorno de seu monitor, por exemplo, é muito diferente de uma concha ou osso fossilizado. O homem, cujo poder cognitivo foi adquirido pela evolução gradual de seu cérebro, superou e domou o mecanismo que o fez ser quem é. Todos os elementos das diversas civilizações mundanas dispostas e diversificadas no tempo, um dia, servirão como um quebra-cabeças àqueles que habitarão o futuro, de modo que vos deixaremos por descobrir a história de uma espécie sem igual: o homem colossal.
Imagem: Jason de Caires Taylor, “Vicissitudes”.
Graduando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense
Elementos radioativos espalhados pelas explosões das primeiras bombas atômicas perdurarão por muitos e muitos anos, bem como a alta concentração de dióxido de carbono (CO²) preso nas calotas polares e geleiras glaciais pelo mundo. Embora os exemplos já citados sejam de pouca relevância em uma escala de tempo geológico, outros materiais não o são. Neste grupo, encontram-se as alterações na biosfera, tanto com o extermínio de espécies de animais e plantas em uma velocidade somente vista em extinções massivas do passado, quanto com a sua redistribuição pela superfície da Terra. Essas mudanças seriam vistas, no futuro, como sendo distintas e, até mesmo, radicais. São, de fato, mudanças permanentes e irreversíveis. Este conjunto de eventos únicos estão mudando drasticamente o curso da história natural de forma que todos os fósseis nos estratos acima da camada do impacto são diferentes. Segundo recentes estudos publicados na revista Nature, o impacto da humanidade é capaz de adiar em até 100 mil anos o início da próxima Idade do Gelo. Lembrando que o último ciclo glacial acabou há 11,7 mil anos.
Segundo as pesquisas sobre o impacto climático realizadas na Alemanha, seria esperado um novo ciclo de resfriamento no futuro, porém, as constantes emissões de CO² com a queima de petróleo, carvão e gás estão levando a civilização a transpassar essa fase. Os cientistas citam ainda que as mudanças provocadas pela ação do homem na Terra podem interferir no ciclo natural do carbono pela queima de combustíveis fósseis. No futuro, a química presente nas rochas indicará as alterações na forma como o carbono circulou pela Terra, com uma composição isotópica diferente do ciclo original. Este é mais um exemplo da magnitude das ações provocadas pelo homem. Na lista de evidências duráveis também está o que o grupo de cientistas da ICS batizou de tecnofósseis: restos fossilizados dos produtos tecnológicos. São rastros de plástico, cinzas, fuligem e concreto que serão reconhecidamente diferentes de tudo que existia ou aconteceu no planeta antes.
Talvez, os cientistas do futuro não reconheçam um computador fossilizado, mas perceberão que o contorno de seu monitor, por exemplo, é muito diferente de uma concha ou osso fossilizado. O homem, cujo poder cognitivo foi adquirido pela evolução gradual de seu cérebro, superou e domou o mecanismo que o fez ser quem é. Todos os elementos das diversas civilizações mundanas dispostas e diversificadas no tempo, um dia, servirão como um quebra-cabeças àqueles que habitarão o futuro, de modo que vos deixaremos por descobrir a história de uma espécie sem igual: o homem colossal.
Imagem: Jason de Caires Taylor, “Vicissitudes”.
Andrei S. Santos
Graduando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense