O Argumento da Contingência (Análise)
O Argumento Cosmológico da Contingência
Este é, sem sombra de dúvidas, um dos meus argumentos filosóficos preferidos. O argumento da contingência, também conhecido como argumento cosmológico modal, é, ao meu ver, um das mais fortes evidências lógicas que dispomos acerca da existência de Deus. Ele me surpreende não somente pela sua força e solidez, mas também por sua simplicidade. Este é, basicamente, um tipo de argumento cosmológico que afirma que a contingência do mundo ou do universo é melhor explicada por Deus. Além disso, este é um dos argumentos para a existência de Deus mais antigos e o mais proeminente dos argumentos cosmológicos. É interessante ressaltar que ele se distingue do argumento cosmológico Kalam por ser consistente com a possibilidade do universo ser eterno no passado, ainda que tenha sido apresentado em diferentes versões por filósofos como Platão, Tomás de Aquino e Leibniz.
A estrutura do argumento
Conclusão e considerações finais
Este é, sem sombra de dúvidas, um dos meus argumentos filosóficos preferidos. O argumento da contingência, também conhecido como argumento cosmológico modal, é, ao meu ver, um das mais fortes evidências lógicas que dispomos acerca da existência de Deus. Ele me surpreende não somente pela sua força e solidez, mas também por sua simplicidade. Este é, basicamente, um tipo de argumento cosmológico que afirma que a contingência do mundo ou do universo é melhor explicada por Deus. Além disso, este é um dos argumentos para a existência de Deus mais antigos e o mais proeminente dos argumentos cosmológicos. É interessante ressaltar que ele se distingue do argumento cosmológico Kalam por ser consistente com a possibilidade do universo ser eterno no passado, ainda que tenha sido apresentado em diferentes versões por filósofos como Platão, Tomás de Aquino e Leibniz.
Sabemos que o argumento cosmológico da contingência apresenta-se de várias formas, no entanto, eis uma versão simples da famosa versão da contingência, versão esta atualmente defendida e apresentada por filósofos como W.L. Craig, Richard Swinburne, Robert Koons, Alexander Pruss, Stephen Davis e Timothy O'Connor:
(1) Tudo que existe tem uma explicação para a sua existência, quer na necessidade de sua própria natureza, quer numa causa externa.
(2) Se o universo tem uma explicação para sua existência, essa explicação é Deus.
(3) O universo existe.
(4) Logo, o universo tem uma explicação para sua existência (de 1, 3).
(5) Logo, a explicação da existência do universo é Deus (de 2, 4).
Percebam que esse argumento é, em termos de estrutura, logicamente perfeito. Em decorrência disso, se as premissas forem verdadeiras, logo a conclusão será inevitável, quer gostemos ou não. Não importa que tenhamos outras objeções à existência de Deus, pois, uma vez que admitamos a validade das três premissas, temos de aceitar necessariamente a conclusão. Por fim, a pergunta que devemos fazer é: o que é mais plausível, essas premissas serem verdadeiras ou falsas?
Analisando a premissa 1
Consideremos primeiro a primeira premissa. De acordo com ela, há dois tipos de coisas: as que existem necessariamente, e as que são produzidas por alguma causa externa (contingências). Permitam-me explicar. As coisas que existem necessariamente existem por uma necessidade da sua própria natureza. Para elas, é impossível não existir. Muitos matemáticos pensam que números, conjuntos numéricos e outras entidades matemáticas existam dessa forma. A sua existência, portanto, não seria causada por outra coisa qualquer; elas apenas existiriam necessariamente. Em contrapartida, as coisas cuja existência é causada por outra coisa qualquer, não existem necessariamente, ou seja, objetos físicos conhecidos, como pessoas, planetas e galáxias, pertencem a essa categoria, cujo nome nos é assimilável por contingências.
Portanto, a Premissa 1 assevera que tudo o que existe pode ser explicado por uma dessas duas maneiras. Essa afirmação, quando se refletida na referida premissa, parece-nos sólida e verdadeira. Como o Dr. Craig exemplifica:
"Imagine que você está fazendo uma caminhada pela mata e, então, se depara com uma bola translúcida no chão do bosque. Naturalmente, você fica pensando em como foi que ela chegou ali. Se algum de seus companheiros de caminhada lhe dissesse: “Não se preocupe com isso! Não existe explicação para a existência disso!”, você acharia que ele é maluco ou que apenas queria que você continuasse andando. Ninguém levaria a sério a sugestão de que a bola existia ali literalmente sem nenhuma explicação."
Suponha agora que você aumente a bola dessa história para o tamanho de um caminhão. Isso em nada serviria para satisfazer ou remover a exigência de uma explicação. Imagine agora que fosse do tamanho de um prédio. Do mesmo modo, a exigência continuaria. Presuma que fosse do tamanho de um continente ou de um planeta. Sim, teríamos o mesmo problema. Agora, consideremos que seja do tamanho de um universo inteiro. Teríamos exatamente o mesmo problema. Mais uma vez, nos fica evidente que mero aumento do tamanho da bola nada faz para afetar a necessidade de uma explicação. Uma vez que qualquer objeto poderia ser substituído pela bola nessa história, isso proporciona a base para pensar que a Premissa 1 deve ser verdadeira.
Alguns ateus até aceitam que a Premissa 1 seja, de fato, verdadeira, porém, eles pensam que assim o é para todas as coisas que há no universo, mas não em relação ao universo em si. Em síntese, tudo o que existe no universo tem uma explicação, mas o próprio universo não teria explicação. Como o Dr. Craig salienta:
"Essa resposta comete o engano que tem sido apropriadamente chamado de “falácia do táxi”. Pois, segundo o gracejo de Arthur Schopenhauer, filósofo ateu do século XIX, a Premissa 1 não pode ser despachada como um táxi, uma vez que se chegue ao destino desejado! Não se pode dizer que há uma explicação para a existência de tudo e então, de repente, deixar o universo de fora. Seria arbitrário alegar que o universo é uma exceção à regra. (Deus não é uma exceção à Premissa 1: ver abaixo em 1.4). A nossa ilustração da bola no meio da mata mostra que o mero aumento do tamanho do objeto a ser explicado, até mesmo tornando-se o próprio universo, nada faz para dispensar a necessidade de uma explicação para sua existência."
Não obstante, alguns filósofos sustentam que é impossível haver uma explicação para a existência do universo, pois tal explicação estaria em algum estado prévio de coisas em que o universo não existia ainda. Mas isso seria o nada, e o nada não pode ser a explicação de alguma coisa. Portanto, o universo deve existir exatamente de modo inexplicável. Essa linha de raciocínio, no entanto, é obviamente falaciosa, pois assume que o universo é tudo o que existe; se o universo não existisse, nada existiria. Noutras palavras, a objeção considera que o próprio ateísmo é verdadeiro. Quem levanta a objeção está, portanto, utilizando uma petição de princípio em favor do ateísmo, isto é, argumentando em círculos. O teísta concordará que a explicação do universo deve ser (explicativamente) algum estado de coisas anterior em que o universo não existia, mas esse estado de coisas é Deus e sua vontade, não o nada. Mas, então, por que não o nada?
Na verdade, esta pergunta está um tanto mal formulada. A indagação correta seria: pode algo vir do nada? Se não existia nada físico, então teríamos apenas duas opções:
(1) O Universo emergiu de alguma substância não-física, de natureza ontológica, que existia naquele estado.
(2) O Universo surgiu a partir de absolutamente nada. E É ESSE o maior erro dos ateus! O nada não é material e o nada também não é imaterial, o nada simplesmente não é. O nada absoluto é justamente aquilo que não tem NENHUM predicado positivo. Justamente por isso ele não é algo ontológico.
(2) O Universo surgiu a partir de absolutamente nada. E É ESSE o maior erro dos ateus! O nada não é material e o nada também não é imaterial, o nada simplesmente não é. O nada absoluto é justamente aquilo que não tem NENHUM predicado positivo. Justamente por isso ele não é algo ontológico.
Muitas vezes os ateus surgem falando que “o Universo surgiu do nada” sugerindo que ele surgiu do vácuo quântico. O que eles falham em perceber, no entanto, é que o vácuo quântico é um ente cheio de características, ou seja, ele não é um "nada", mas um mar de energia flutuante dotada de uma rica estrutura e sujeita a leis físicas de diversas espécies. O próprio fato do vácuo quântico ser estudado pela ciência demonstra que ele tem um caráter ontológico, pois assim como a ciência não pode estudar o "não-cachorro" ou "não-humano", ela não pode estudar o "não-ser". Nesse caso, absolutamente coisa alguma positiva poderia se falar acerca do nada. Só poderíamos negar as suas características. Essa é a verdadeira definição do nada. No momento em que os ateus começam a dizer que, por exemplo, a lei da gravidade criou o Universo, eles estarão admitindo que alguma substância ontológica é o estado do qual emergiu o Universo, só discordando qual é a natureza dessa substância. Igualar “Lei da Gravidade” ou “Vácuo Quântico” com “Nada” seria simplesmente uma tolice. Logo, em função do argumento da contingência, parece que a Premissa 1 é de, fato, muito mais plausivelmente verdadeira do que falsa, e isso é tudo o que precisamos para um bom argumento.
Analisando a Premissa 2
Seria ela mais plausivelmente verdadeira do que falsa? Embora, à primeira vista, essa premissa pareça dúbia, o que é embaraçoso de fato para o ateu é que ela equivale à resposta ateísta típica ao argumento da contingência. (Duas declarações são logicamente equivalentes se for impossível que uma seja verdadeira e a outra seja falsa. Elas permanecem ou caem juntas.) Assim, o que o ateu quase sempre diz em resposta ao argumento da contingência? Ele, tipicamente, afirma o seguinte:
(A) Se o ateísmo é verdadeiro, não há explicação para a existência do universo.
Haja vista que, no ateísmo, o universo é a realidade máxima, ele existe exclusivamente como fato bruto. Isso equivale logicamente a dizer que:
(B) Se o universo tem uma explicação para sua existência, então o ateísmo não é verdadeiro.
Logo, não é possível afirmar (A) e negar (B). Mas (B) é praticamente sinônima da Premissa 2! Portanto, ao afirmar que, dado o ateísmo, o universo não tem explicação, o ateu está admitindo implicitamente a Premissa 2: se o universo tem de fato uma explicação, então Deus existe.
Além disso, a Premissa 2 é por si só muito plausível. Basta pensarmos naquilo de que o universo é composto: toda a realidade espaço-temporal, inclusive toda matéria e energia. Por isso, se há uma causa para que o universo exista, tal causa deve ser um ser não físico, imaterial, além do tempo e do espaço. (Ver Argumento Cosmológico Kalam) Ora, só há dois tipos de coisa que caberiam nessa descrição: um objeto abstrato, como um número, ou então uma mente incorpórea. Mas objetos abstratos nada podem causar; faz parte do significado de ser abstrato. O número sete, por exemplo, não é capaz de causar nenhum efeito. Logo, se há uma causa para a existência do universo, ela tem de ser uma Mente incorpórea e transcendente que os cristãos entendem ser Deus.
Analisando a Premissa 3
Bem, a Premissa 3 é inegável para qualquer um que sinceramente procure a verdade. É óbvio que o universo existe!
Conclusão e considerações finais
Dessas três premissas, infere-se que Deus existe. Logo, se Deus existe, a explicação para a sua existência está na necessidade da sua própria natureza, visto que, conforme até mesmo os ateus admitem, é impossível que Deus tenha uma causa. Portanto, se for válido, esse argumento prova a existência de um Criador do universo que é necessário, incausado, atemporal, ilimitado, imaterial, pessoal. Temos aqui, portanto, um argumento logicamente válido e bastante forte para a existência de Deus.
Referências:
Referências:
[1] Craig, William Lane. Reasonable Faith, 3.ed. Wheaton: Crossway, 2008 [cap. 3]. [Publicado em português com o título Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012.]
[2] Davis, Stephen T. “The Cosmological Argument and the Epistemic Status of Belief in God”. Philosophia Christi 1 (1999): 5–15.
[3] *———. God, Reason, and Theistic Proofs. Reason and Religion. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
[4] Leibniz, G. W. F. von. “On the Ultimate Origin of Things”, pp. 345–355, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque York: Scribner’s, 1951.
[5] ———. “The Principles of Nature and of Grace, Based on Reason”, pp. 522–533, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque: Scribner’s, 1951.
[6] *O’Connor, Timothy. Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency. Oxford: Blackwell, 2008.
[7] *Pruss, Alexander. “The Leibnizian Cosmological Argument”, pp. 24–100, in The Blackwell Companion to Natural Theology, William Lane Craig e J. P. Moreland, orgs.. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
[8] *———. The Principle of Sufficient Reason: A Reassessment. Cambridge Studies in Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
[9] http://teonismo.wikia.com/wiki/Argumento_da_conting%C3%AAncia
[2] Davis, Stephen T. “The Cosmological Argument and the Epistemic Status of Belief in God”. Philosophia Christi 1 (1999): 5–15.
[3] *———. God, Reason, and Theistic Proofs. Reason and Religion. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
[4] Leibniz, G. W. F. von. “On the Ultimate Origin of Things”, pp. 345–355, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque York: Scribner’s, 1951.
[5] ———. “The Principles of Nature and of Grace, Based on Reason”, pp. 522–533, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque: Scribner’s, 1951.
[6] *O’Connor, Timothy. Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency. Oxford: Blackwell, 2008.
[7] *Pruss, Alexander. “The Leibnizian Cosmological Argument”, pp. 24–100, in The Blackwell Companion to Natural Theology, William Lane Craig e J. P. Moreland, orgs.. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
[8] *———. The Principle of Sufficient Reason: A Reassessment. Cambridge Studies in Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
[9] http://teonismo.wikia.com/wiki/Argumento_da_conting%C3%AAncia
[10] http://www.reasonablefaith.org/portuguese/o-argumento-da-contingencia
84 comentários
Valeu Andrei, você cumpriu o que eu havia pedido, obrigado!
ResponderExcluirMas a análise foi feita sob suas palavras?
ExcluirEm parte, sim.
ExcluirAndrei, gostaria que você me respondesse essa objeção:
ExcluirA filosofia só pode dizer o que seria Deus, mas não que este existe ".
Tal afirmação possui embasamento razoável?
É óbvio que essa afirmação não faz sentido algum. Ela simplesmente exclui a ontologia da filosofia.
ExcluirNão, Andrei, não é óbvio.
ExcluirA ontologia trata da origem/natureza dos entes. Quando você estuda o que seria Deus, você estuda suas características/propriedades. A partir da dedução lógica feita à luz da ontologia, chegamos às duas formas de existir: contingência e necessidade. Deus, de acordo com o argumento ontológico modal, só pode existir de forma necessária, ou não pode existir. Não importando a conclusão dessa asserção, tem-se aqui um exemplo de um argumento a favor da EXISTÊNCIA de Deus. Tratar de existência, é tratar de ontologia, seja ela contingente ou necessária. Logo, a filosofia pode, de fato, dizer se Deus existe ou não. Espero que minha explicação tenha sido de alguma utilidade. Obrigado pelas perguntas.
ExcluirEntão, a filosofia provou que Deus existe ou somente provou que é racional crer em sua existência?
ExcluirPor meio de evidências de sua existência, a filosofia pode provar que é racional crer em Deus. Afinal, um conjunto de boas evidências seria um bom motivo para crer em Deus, certo? Se entendermos prova da existência de Deus como um conjunto de evidências que nos remetem a ele, logo, estamos no caminho correto, não? Espero ter ajudado.
ExcluirSe o universo fosse necessário, excluiria Deus?
ResponderExcluirEu sei que a pergunta não é para mim, todavia gostaria de respondê-la.
ExcluirNão. Pois para tudo que existe HÁ uma razão para que seja o que é e não o contrário (porque as coisas existem e não nada). O universo pode ser eterno, mas há uma explicação para isso, dizer que ele existe sem explicação é ignorar o princípio de todo o conhecimento humano (podemos explicar como se comporta a realidade física externa supostamente contigente)
Para entender este argumento, devemos saber o que significa nada, contingência, necessidade e universo em filosofia analítica.
ExcluirAfirmar que o universo é tudo que existe é pressupor o ateísmo, enquanto aparentemente afirmar que o universo não é tudo o que existe é pressupor o teísmo, mas não, pois o ateísmo é impotente para responder questões fundamentais a respeito da existência, o teísmo é exatamente o contrário.
Estou querendo dizer que está fora de nosso alcance provar que o universo é tudo o que existe, todavia, no meu primeiro comentário, já expliquei que a suposta eternidade do universo NÃO REFUTA o argumento, pois para que a filosofia e ciência sejam objetos interpretativos do mundo devemos nos basear em princípios lógicos e este é o mais simples possível:
ExcluirTudo o que existe tem uma explicação para ser o que é!
Se esse princípio não existisse, ambas, ciência e filosofia, seriam coisas vãs.
Conclusão:
A eternidade do universo não fere o argumento, pois deve haver uma explicação para a existência da eternidade, seja de Deus ou do universo.
Esteja ciente que nada é sinônimo de inexistência, necessidade significa razão própria de existência, contingência, por sua vez, quer dizer exatamente o contrário (entes que a razão de sua existência depende de seres preexistentes), universo corresponde a realidade física externa supostamente contigente.
Excluir(Fui o cara que fez a pergunta) A primeira premissa do argumento é que tudo q existe tem uma explicação para sua existência, seja na sua própria natureza ou algo externo. Oq eu quero saber se o a explicação do universo esta em sua própria natureza, assim excluindo Deus.
ResponderExcluirSinceramente, você me pegou, não posso responder esta questão, chame o Andrei Santos
ExcluirNa verdade, a sua pergunta esconde algo importante: a causa. A explicação do que veio a causar o universo (afinal, é disso que se trata a contingência, uma vez que entendemos o universo como sendo uma) é que deve ser explicada. Essa explicação, então, está em sua própria natureza ou além dela? Se não existia nenhuma entidade ontológica que deu origem ao universo, isso significa que o PRÓPRIO Universo, que não existia, é o responsável por sua passagem à existência. Mas essa visão é logicamente incoerente. Para o Universo ser sua causa, ele deve ser ou logicamente ou temporalmente anterior a si mesmo. Obviamente, é impossível que algo seja anterior a si mesmo, pois nesse caso ele já existiria. Tudo nos indica, portanto, que o mesmo é uma contingência, de fato, e que sua explicação está naquilo que o causou.
ExcluirObg por responder, sucesso no blog e Deus te abençoe.
ResponderExcluirDeus te abençoe. Obrigado pelos votos e seja sempre bem-vindo.
ExcluirAndrei, caso o Big bang esteja refutado como teoria científica e a regressão infinita de eventos passados também esteja e a eternidade do universo estiver novamente em voga, por acaso, este argumento cosmológico da contingência ainda estará de pé?
ExcluirAcredito que sim, pois, à luz da lógica, se o universo eterno existe, ele deve possuir uma explicação, como foi muito bem elucidado acima.
ExcluirMas se assim o fosse (eterno) significaria que ele SERIA a razão de sua própria existência segundo a primeira premissa! Estou errado?
ExcluirLembre-se qualquer coisa possui explicação, ou em SUA própria natureza ou em uma causa anterior ao ente
Eu consigo identificar ao menos dois enormes problemas que impossibilitam essa asserção. Ao dizerem que é impossível para o universo ter uma explicação para sua existência em função de sua suposta necessidade, incorre-se em petição de princípio, pois a explicação do universo deveria ser um prévio estado de coisas em que o universo ainda não existia (o nada), mas, do nada, nada vem, ou seja, o nada não pode ser a explicação de coisa alguma. Então, eles presumem que o universo deve existir inexplicavelmente. A falácia fica clara quando percebemos que eles dão a entender que o universo é tudo o que existe, então se não houvesse o universo, não haveria nada.
ExcluirUm outro grave problema seria a suposta necessidade do universo. Absolutamente nenhuma das coisas que o compõe existe necessariamente, justamente porque elas poderiam deixar de existir. Aliás, houve um ponto no passado, quando o universo era muito denso, onde nenhuma delas existia. O ponto é que tudo o que compõe o universo poderia vir a existir de outra maneira, tal como o ordenamento dos quarks que compõem a matéria, logo, segue-se que o universo poderia existir de outra maneira, e portanto, segue-se que é contingencial.
Mas dizem por aí que quanto ao universo, muitos dizem que o argumento comete um erro chamado falácia de composição
ExcluirAndrei Santos?
ExcluirEu não consigo enxergar essa falácia, ainda mais quando tratamos de um princípio filosófico como a razão suficiente. É quase intuitivo nós utilizarmos o "porquê".
ExcluirÉ um hábito instintivo, certo?
ExcluirContra o niilismo
Acredito que sim.
ExcluirCara ve esse video http://m.youtube.com/watch?v=iixjdQDU-wM ele refutou o argumento cosmologico kalam?
ResponderExcluirEu respondi esse vídeo lá na comunidade.
ExcluirQue comunidade?
ExcluirRazão em Questão do Facebook. Está em algum post, acho. Mas se não estiver, eu faço questão de postá-la.
ExcluirPode postar dnv?
ExcluirO primeiro erro do autor do vídeo é achar que o argumento Kalam tem o intuito de provar o deísmo, e não o teísmo. A referida conclusão está equivocada. O Kalam tem o intuito de demonstrar uma causa primária que é imaterial, transcendental, atemporal e eterna. Ao analisarmos o conjunto destas características, percebe-se que uma visível semelhança para com o Deus abraâmico. Outro fator imprescindível que deve ser levado em conta é que o argumento Kalam quase nunca é apresentado sozinho. Sempre leva-se em conta o argumento da contingência (que atesta, além das conclusões do Kalam, a existência de um ser pessoal).
ExcluirO segundo erro do autor baseia-se em uma grande falta de conhecimento em física ao abordar a termodinâmica. A segunda lei da termodinâmica nos diz que o universo está lentamente perdendo energia utilizável. Logo, se o universo existisse eternamente, ele já teria esgotado toda a sua energia utilizável. Em 1929, Edwin Hubble mediu o desvio para o vermelho na luz de galáxias distantes. Esta evidência EMPÍRICA não apenas confirma a expansão contínua do universo, mas que ele veio à existência a partir de um ponto singular no passado finito. Chamamos isto de ponto de singularidade.
Além desse erro grotesco de física e até mesmo relações causais, ainda comete-se outro erro pior, desta vez na física quântica. Atribuir o estado de “surgir do nada” nesses casos é um grande equívoco. O vácuo quântico não é um "nada", mas um mar de energia estruturado e sujeito às leis da física. Isso é BEM diferente do nada, que por sua vez, simplesmente NÃO É. O nada é aquilo que não possui nenhum predicado positivo, potencialidade ou intencionalidade. Dizer que as partículas virtuais surgem do nada no meio do Universo é simplesmente bizarro, pois se elas surgem dentro do Universo elas surgem dentro do ser. O o autor quis dizer, na verdade, é que essas partículas deveriam surgir sem uma causa específica ou "aleatoriamente", mas não a partir do “nada”. Na verdade, o que existe na Física Quântica é o princípio do Indeterminismo, pelo qual não conseguimos saber ou prever de forma “fixa” os comportamentos das partículas, pela alteração do observador. E o fato dos seres humanos não terem uma barreira epistemológica para encontrar uma causa para um determinado evento não significa que ele tenha surgido aleatoriamente.
Outro erro do autor é pensar que não se pode falar nada acerca do "antes" do universo. Bem, a lógica inferencial serve justamente para isso. Se não havia tempo, só poderia haver a eternidade. Se não havia matéria, só poderia haver a imaterialidade. Por aí vai. A metafísica é a área do conhecimento filosófico responsável pelo estudo de objetos como números, valores estéticos e meta-éticos, contingências e necessidades, etc. É o plano correto de estudo que deve ser adotado para o estudo do antes.
Mais um erro do autor é pensar que não há provas que o nosso universo começou a existir na singularidade. Isso é consenso desde a evidência da radiação cósmica de fundo em micro-ondas. Arvind Borde, Alan Guth, Alexander Vilenkin, o próprio Einstein contribuíram para que este pensamento se tornasse hegemônico dentro da ciência. ), Todos esses cientistas provaram que qualquer universo que esteja se expandindo ao longo de sua história, não pode ser eterno no passado, mas deve ter um início absoluto. Isto e aplica, até mesmo, a teoria do multiverso (mesmo que seja uma teoria não falseável, e, portanto, não-científica). Eis uma citação interessante: "Não há como fugir, eles têm de enfrentar o problema do começo cósmico" (Alexander Vilenkin).
ExcluirOutro erro do autor é dizer que não temos bases empíricas para dizer que tudo o que começa a existir tem uma causa. Bem, sequer precisamos de provas empíricas para aceitar tal afirmativa, pois trata-se de um axioma. Seres contingentes requerem seres contingentes para existir. Em síntese, um ser contingente é o ser que existe, mas poderia não existir. Já que poderia não existir, compreende-se que não existe necessariamente, isto é, não existe por sua própria essência (ou por suas notas próprias constitutivas). Por conseguinte, se não existe por sua própria essência, existe em virtude de outro ser, do qual recebe a existência. Logo, temos aqui uma relação causal. Outro pilar de sustentação desse axioma, já assegurado firmemente pelo primeiro, é também interessante: o princípio de causalidade não pode ser negado sem que caia em contradição quem o pretende negar, no sentido de que se afirma a contingência de um ser ao passo que afirma sua razão suficiente. Resumindo, é um axioma que não necessita de comprovações empíricas, mas apenas da lógica. No entanto, é válido ressaltar que, no contexto do argumento Kalam, falamos na necessidade de uma causa primária, que por sua vez, se relaciona com a impossibilidade de uma regressão de eventos infinitos no passado.
O autor diz que não há sentido em falar de eternidade fora do tempo ou que algo existe fora do espaço-tempo. O que o autor do vídeo aparenta não entender é que estamos tratando de ontologia. Só há três possibilidades:
Excluir1- O universo sempre existiu.
2- O universo se auto-criou.
3- O universo teve um começo absoluto.
O universo sempre existiu? Não, pois o que conhecemos como realidade física (matéria, energia, tempo e espaço) começou a existir na singularidade cosmológica. O universo se auto-criou? Não, pois para isso ele teria que existir cronologicamente antes de si mesmo para se auto-criar, o que é um absurdo lógico. O universo teve um começo absoluto? Bem, aparentemente, é a única saída lógica. Resta-nos, portanto, inferir as características dessa causa. Se ela não está sujeita ao tempo, ao espaço e não é constituída de massa ou energia, logo, ela é atemporal (eterna, isto é, não começou a existir), não espacial (não está delimitada pelo espaço), imaterial (não é constituída de matéria ou energia) e transcendental (pois tem sua natureza assentada fora do universo. Isso é lógica inferencial.
Por fim, outro erro do autor é dizer que: "se algo existe fora do universo, que Deus não faz parte do nosso universo e que, portanto, Deus não existe no nosso universo." O autor ainda afirma que "dizer que faz algo que não faz parte do nosso universo é o mesmo que dizer que algo não existe."
O primeiro equívoco é achar que uma afirmação é consequência lógica da outra. Obviamente, comete-se a falácia da falsa dicotomia. A referente causa tem sua NATUREZA distinta da nossa, mas não quer dizer que ele não venha a interagir com seu efeito. E como ele interage? Simples: Deus é atemporal sem o universo e temporal com o universo. A razão por que sustento que Deus é atemporal sem o universo se deve ao meu entendimento da impossibilidade de uma regressão temporal infinita de eventos, e, conforme a teoria relacional do tempo, na falta de quaisquer eventos, o tempo não existiria (atente-se: o tempo só existe com eventos). A razão por que sustento que Deus é temporal desde a criação do universo situa Deus numa nova relação, a saber, a de coexistir com o universo, e só essa mudança extrínseca (sem mencionar a ação do poder causal de Deus) é suficiente para existir uma relação temporal. Logo, temos uma entidade descrita em dois estados. Aqui, refutamos a afirmação de que Deus não faz parte do nosso universo e que, portanto, não existe. Por fim, dizer que algo que não faz parte do nosso universo não existe é ilógico. Valores morais objetivos são fundamentados em um legislador moral externo, logo, não existem no nosso mundo? Não é isso que observamos ao clamarmos a todo tempo por justiça ou dignidade por exemplo. Simplesmente, trata-se de achismo.
Sobre o argumento cosmológico
ResponderExcluirExistem três premissas no argumento:
1. Tudo o que existe tem uma explicação para sua existência (tanto na necessidade de sua própria natureza como em uma causa exterior).
2. Se o universo tem uma explicação para a sua existência, esta explicação é Deus.
3. O universo existe.
Agora, o que segue logicamente destas três premissas?
De 1 e 3 segue logicamente que:
4. O universo tem uma explicação para sua existência.
5. Portanto, a explicação para a existência do universo é Deus.
Este é um argumento sólido. Se o ateu quer negar a conclusão, ele tem que dizer que uma das três premissas é falsa.
Mas qual ele irá rejeitar? A premissa três é inegável para qualquer pessoa que procure sinceramente a verdade. Então o ateu tem que negar a 1 ou a 2 se ele quer continuar ateu e ser racional. Então toda questão se resume a isto: as premissas 1 e 2 são verdadeiras, ou são falsas? Bom, vamos olhar para elas.
De acordo com a premissa 1, existem dois tipos de coisas: (a) coisas que existem necessariamente e (b) coisas que existem contigentemente. Coisas que existem necessariamente existem por uma necessidade de sua própria natureza. Muitos matemáticos pensam que números, conjuntos e outras entidades matemáticas existem desta maneira. Elas não foram causadas à existência por alguma coisa; elas apenas existem por uma necessidade de suas próprias naturezas. Por contraste, coisas contingentes são causadas à existência por alguma outra coisa. Elas existem porque alguma outra coisa as produziu. Objetos físicos comuns como pessoas, planetas e galáxias pertencem a esta categoria.
ResponderExcluirEntão que razão pode ser oferecida para pensar que a premissa 1 é verdadeira? Bem, quando você pensa sobre o assunto, a premissa 1 tem uma espécie de natureza auto-evidente. Imagine que você esteja caminhando na floresta um dia e você encontre uma bola translúcida repousando sobre o chão da floresta. Você iria naturalmente imaginar como ela foi parar ali. Se um dos seus companheiros de caminhada dissesse, “ela apenas existe inexplicavelmente. Não se preocupe sobre isso!”, você iria pensar que ele está louco ou iria imaginar que ele apenas queria que você continuasse andando. Ninguém iria levar a sério a sugestão de que a bola está ali literalmente sem nenhuma explicação.
Agora, suponha que você aumente o tamanho da bola nesta história até que se torne do tamanho de um carro. Isto não faria nada para satisfazer ou remover a demanda para uma explicação. Suponha que ela fosse do tamanho de uma casa. Mesmo problema. Suponha que ela seja do tamanho de um continente ou de um planeta. Mesmo problema. Suponha que ela seja do tamanho do universo inteiro. Mesmo problema. Simplesmente aumentar o tamanho da bola, não irá fazer nada para mudar a necessidade de uma explicação.
A premissa 1 é aquela que o ateu tipicamente rejeita. Alguns ateus irão responder à premissa 1 dizendo que ela é verdadeira sobre tudo dentro do universo, mas não sobre o universo em si mesmo. Mas esta resposta comete o que tem sido chamado apropriadamente de “falácia do táxi”. Como o filósofo do século dezenove Arthur Schopenhauer satirizou, a premissa 1 não pode ser abandonada como um veículo de aluguel assim que você chegou ao seu destino!
Seria arbitrário para o ateu dizer que o universo é exceção à regra. A ilustração da bola na floresta mostra que apenas aumentar o tamanho do objeto a ser explicado, até que se torne do tamanho do universo inteiro, não faz nada para remover a necessidade de uma explicação para a sua existência.
Note, também, como a resposta deste ateu não é científica. Pois a moderna cosmologia é devotada à busca para uma explicação sobre a existência do universo. A atitude do ateu iria mutilar a ciência.
Alguns ateus tentaram justificar transformando o universo em uma exceção para a premissa 1 ao dizerem que é impossível para o universo ter uma explicação para sua existência. Pois a explicação do universo deveria ser um estado de coisas em que o universo ainda não existia. Mas isso seria nada, e nada não pode ser a explicação de alguma coisa. Então o universo deve existir inexplicavelmente.
Esta linha de pensamento é obviamente falaciosa. Pois ela assume que o universo é tudo o que existe, então se não houvesse o universo, não haveria nada. Em outras palavras, a objeção assume que o ateísmo é verdadeiro! O ateu então está cometendo petição de princípio, argumentando em círculos. Eu concordo que a explicação para o universo deve ser um estado de coisas em que o universo não exista. Mas eu afirmo que este estado de coisas é Deus e sua vontade, não o nada.
Então parece para mim que a premissa 1 é plausivelmente mais verdadeira do que falsa, o que é tudo o que precisamos para um bom argumento.
E quanto à premissa 2? Ela é mais plausivelmente verdadeira do que falsa?
ResponderExcluirO que é mais estranho para o ateu neste ponto é que a premissa 2 é logicamente equivalente à resposta ateísta típica para o argumento da contingência. Duas asserções são logicamente equivalentes se é impossível para uma ser verdadeira e a outra ser falsa. Elas sobrevivem ou sucumbem juntas. Então o que o ateu quase sempre diz em resposta ao argumento da contingência? O ateu tipicamente afirma o seguinte:
A. Se o ateísmo é verdadeiro, então o universo não tem explicação para sua existência.
Isto é precisamente o que o ateu diz em resposta à premissa 1. O universo existe inexplicavelmente. Mas isto é logicamente equivalente a dizer:
B. Se o universo tem uma explicação para a sua existência, então o ateísmo não é verdadeiro.
Então você não pode afirmar (A) e negar (B).
Mas (B) é virtualmente sinônimo da premissa 2! Então ao dizer em resposta para a premissa 1 que, dado o ateísmo, o universo não tem explicação, o ateu está implicitamente admitindo a premissa 2, que se o universo tem uma explicação, então Deus existe.
Além disso, a premissa 2 é muito plausível por si própria. Pois pense no que o universo é: toda realidade espaço-temporal, incluindo toda matéria e energia. Segue que se o universo tem uma causa para a sua existência, esta causa não deve ser física, imaterial além do espaço e do tempo. Agora há apenas duas espécies de coisas que podem adequar-se a esta descrição: tanto um objeto abstrato como um número ou uma mente sem corpo. Mas objetos abstratos não podem causar nada. Isto é parte do que significa ser abstrato. O número 7, por exemplo, não pode causar nenhum efeito. Então a causa da existência do universo deve ser uma Mente transcendente, que é o que os crentes entendem que Deus seja.
O argumento então demonstra a existência de um Criador do Universo necessário, não-causado, atemporal, não-espacial, imaterial. Isto é alucinante!
O ateu tem uma alternativa aberta para ele neste ponto. Ele pode retraçar seus passos, abandonar sua objeção à premissa 1, e dizer que sim, o universo tem uma explicação para sua existência. Mas esta explicação é: o universo existe por uma necessidade de sua própria natureza. Para o ateu, o universo poderia servir como um tipo de substituto de Deus que existe necessariamente.
Agora, isto seria um passo bem radical para o ateu dar, e não consigo pensar em nenhum ateu contemporâneo que tenha, de fato, adotado esta linha. Há alguns anos atrás na conferência da Filosofia do Tempo em City College, Santa Barbara, pareceu para mim que o professor Adolf Grünbaum, um filósofo da ciência ateu e vociferador da Universidade de Pittsburgh, estava flertando com esta idéia. Mas quando eu levantei a questão do auditório se ele pensava que o universo existia necessariamente, ele ficou bem indignado com a sugestão. “Claro que não!”, ele repreendeu, e continuou a dizer que o universo simplesmente existe sem nenhuma explicação.
ResponderExcluirA razão pela qual os ateus não estão ávidos para abraçar esta alternativa é clara. Assim que olhamos para o universo, nenhuma das coisas que o compõe existe necessariamente. Elas poderiam deixar de existir; de fato, em algum ponto no passado, quando o universo era muito denso, nenhuma delas existia.
Mas, você poderia dizer, e quanto à matéria de que estas coisas são feitas? Talvez a matéria exista necessariamente, e todas estas coisas são apenas configurações contingentes da matéria. O problema com esta sugestão é que de acordo com o modelo padrão das partículas subatômicas, a matéria em si é composta de minúsculas partículas denominadas “quarks”. O universo é apenas uma coleção destes quarks ordenados de maneiras diferentes. Mas então surge a questão: uma coleção diferente de quarks não poderia existir em vez desta? Será que cada quark e todos eles existem necessariamente?
Note que o ateu não pode dizer neste ponto. Ele não pode dizer que os quarks são apenas configurações da matéria que poderiam ser diferentes, mesmo que a matéria de que os quarks são compostos existam necessariamente. Ele não pode dizer isto porque os quarks não são compostos de nada! Eles são apenas unidades básicas de matéria. Então se um quark não existe, a matéria não existe.
Agora parece óbvio que uma coleção diferente de quarks poderia ter existido em vez da coleção que existe. Mas se fosse este o caso, então um universo diferente poderia ter existido. Para ver a questão, imagine sua mesa. Sua mesa poderia ser feita de gelo? Note que não estou perguntando se você poderia ter uma mesa de gelo no lugar de sua mesa de madeira que teria o mesmo tamanho e estrutura. Em vez disso, estou perguntando se sua própria mesa, aquela feita de madeira, se esta mesa poderia ser feita de gelo. A resposta é obviamente não. A mesa de gelo seria uma mesa diferente, não a mesma mesa.
Similarmente, um universo feito de diferentes quarks, mesmo que idênticamente ordenados como neste universo, seria um universo diferente. Segue então que o universo não existe por uma necessidade de sua própria natureza.
Então os ateus não têm sido tão ousados a negarem a premissa 2 e dizerem que o universo existe necessariamente. A premissa 2 também parece plausivelmente ser verdadeira.
Mas dada a verdade das três premissas a conclusão é logicamente inevitável:Deus é a explicação para a existência do universo. Além disso, o argumento implica que Deus é uma Mente sem corpo, não causada, que transcende o universo físico e até mesmo o espaço e o tempo e que existe necessariamente. Que grande argumento!
Qualquer coisa que exista necessita de uma explicação para existir ao invés do contrário, isto é, inexistir.
ResponderExcluirSua explicação está em sua própria natureza ou em uma causa anterior, certo?
Mas e se o universo for necessário no fim das contas, se assim o for não excluiria Deus neste argumento (teoricamente ao menos)?
Vendo dessa forma, sim, talvez. No entanto, soa impossível, ao menos pra mim, que o universo possa ser necessário. Eu jamais vi alguém levantar essa objeção. Para isso, ele deveria existir em TODOS OS MUNDOS POSSÍVEIS, do mesmo jeito (senão, seria outro universo) e não pode deixar de existir. Isso me parece absurdo por uma série de problemas: uma sucessão infinita de causas materiais, uma regressão infinita de eventos no passado, as evidências contrárias da ciência onde, comprovadamente, temos que a constituinte da matéria muda de configuração, a procura da ciência por uma causa para o universo, as falhas do naturalismo, a falácia do táxi, o problema do nada (por que existe algo ao invés de nada) etc... São tantos problemas que não vejo como isso seria possível...
ExcluirMesmo que haja várias objeções não deixa de ser possibilidade,pois não é logicamente impossível, certo?
ExcluirEu penso que seja mesmo uma incoerência lógica, haja vista a impossibilidade de uma regressão infinita de eventos no passado em função da ilogicidade da existência de um infinito real.
ExcluirNa verdade, acabou de me ocorrer o seguinte: Se tudo o que existe tem uma explicação para a sua existência (seja nela mesma ou em algo anterior), por que existe algo ao invés de nada? (essa pergunta vale para um universo eterno). Isso fere o princípio da razão suficiente.
3- Por que um universo eterno existe? Como Leibniz observou, a eternidade do universo em nada explica a sua necessidade de existir.
Além do mais, se qualquer coisa no universo pode deixar de existir em algum ponto no tempo (pessoas, árvores, plantas, planetas, estrelas e até mesmo o próprio universo), logo o mesmo é uma contingência. Então, um universo feito de diferentes maneiras seria um universo diferente. Segue-se, então, que o universo não existe por uma necessidade de sua própria natureza.
Mesmo que o princípio da razão suficiente e a contradição lógica do infinito sejam ignorados, penso que seja um absurdo postular a necessidade do universo quando observamos claramente que as coisas deixam de existir. É um apelo cético extremo que chega a ser inacreditável. Eu diria que é uma ofensa aos princípios mais elementares da razão humana.
Isto quer dizer que nada a ciência é vã caso não houver causa para o universo e aparentemente, dado as evidências, não foi provado a existência necessária do universo, certo?
ExcluirAs objeções tornam quase impossível a existência necessária do universo, é isso?
ExcluirSim, as objeções tornam praticamente impossível a existência necessária do universo. Para caminharmos até essa hipótese, teríamos que passar por cima de princípios filosóficos e da própria razão humana.
Excluirpor quê teríamos que ultrapassar?
Excluirporque teríamos que ignorar a impossibilidade lógica de uma regressão infinita de eventos no passado; o princípio da razão suficiente e o conhecimento intuitivo que coisas que as coisas podem deixar de existir.
ExcluirEm outras palavras e caso o universo for tal como Deus é em questões de filosofia teológica?
ResponderExcluirVocê quer dizer em uma espécie de panteísmo?
ExcluirTalvez. Só estou falando que não é logicamente impossível um universo eterno existir embora seja dinâmico pelo que bem entendo
Excluire quanto ao panteísmo?
ResponderExcluirSe o Universo fosse Deus, ele teria que ser material, portanto, estudado pelo método científico. Isso nos leva a muitas contradições, inclusive a eternidade da matéria e sua potencialidade.
ExcluirNão entendi muito bem.
ExcluirSe Deus fosse material e não-pessoal, poderíamos nos perguntar: qual é a origem da matéria que deu origem à matéria (Ad infinitum). Ainda assim, tal ente teria potencialidade/intencionalidade mesmo sendo não-pessoal? São problemas que devem ser levados em consideração.
ExcluirValeu pela explicação
ExcluirA matéria é feita de átomos, pixels de várias dimensões que pertence a esta realidade. Decompondo em elétrons, prótons e nêutrons e se dividindo mais ainda em suas partículas, chegando em um ponto que foge das leis como conhecemos, diminuindo até desaparecerem, se tornando virtual, voltando a não existir, paradoxo. Cheguei a conclusão, o que vemos como realidade,estamos presos nela, e uma ilusão, que engana nossa percepção e delimita nossa ações e pensamentos. O vácuo absoluto não existe, mesmo no vazio existe flutuações quânticas, gerando partículas e antipartículas, que se anulam, voltando a não existir. Deus é a união de tudo, onde tudo faz parte dele, é o suporte de toda a realidade, de onde se originou todas as leis desta realidade, e toda ação e reação passa por ele. A ciência só descobriu algumas coisas que se originou dele, mais por não conseguir prova-lo, muitos não acreditam.
ResponderExcluirPosso presumir que você defende uma espécie de panteísmo?
ExcluirNo panteísmo Deus é igualado ao Universo, apesar de o Universo esta contido em Deus, ele é imaterial. Acredito na IMANÊNCIA do ser divino que permeia todas as coisas ou seja estar inseparavelmente em tudo. Inclusive a matéria e seres vivos, são pequenos pedaços desta união harmonica. Enquanto nós temos cada um uma consciência individual, ele tem a consciência coletiva de nós todos e de tudo, sentido o que cada ser humano sente, e vendo o que nossos olhos veem, estando dentro de cada um.
ExcluirAh, sim. Compreendo e concordo.
ExcluirOlha Andrei... Eu penso desta maneira: o fato de sermos os únicos animais conscientes da própria morte não poderia ser um argumento a favor de deus? O que acha? Soaria Especismo, mas negar a ideia usando como argumento essa desculpa:
ResponderExcluir‘o velho anseio de imortalidade do homem’
Em nada refuta como ideia possivelmente verdadeira.
velho anseio é um truque retórico, pois está querendo dizer que por uma ideia ser velha, isto implica quer ela é falsa ou irrelevante enquanto o irrelevante é usar desta falácia.
Acredito que devemos ter cuidado nesses casos. Alguns primatas de ordem maior, por exemplo, possuem consciência. É preciso, igualmente, estruturar logicamente o argumento, tendo como a premissa maior Deus, para, deste modo, evitar qualquer tipo de mal-entendido. Por outro lado, essa linha de pensamento parece ser interessante, de fato.
ExcluirQuais símios?
ExcluirChimpanzés, por exemplo.
ExcluirEssa é nova... Quais são suas fontes, Andrei Santos?
Excluirhttp://www.scientificamerican.com/article/chimpanzees-understand-death/
ExcluirIndico a leitura de "Humans befor humanity" também, do Dr. Robert Foley.
São confiáveis?
ResponderExcluirComo podemos concluir empiricamente que outros seres fora nós possuem consciência?
Sim, são confiáveis. Podemos concluir empiricamente através da observação direta (primatologia) e da medição de ondas cerebrais. Isso é consenso dentro da antropologia e da neurociência. Inclusive, essa questão foi homologada por um grupo de neurocientistas que provaram a existência de consciência em animais como pássaros, macacos, elefantes, golfinhos, polvos, cães e gatos.
ExcluirEntão ele possuem senso moral?
ExcluirSenso moral requer uma relação estreita entre autoconsciência e mente, o que já está definitivamente fora do alcance deles.
ExcluirIsso quer dizer?
ExcluirQuer dizer que eles, por não possuírem uma mente, não podem entrar em relação moral, pois estão impedidos de realizarem julgamentos morais, tais como inferências acerca do que é o bem e o mal.
ExcluirUm ser “contingente” é um ser que não tem em si mesmo a completa razão de sua existência. Isso é o que entendo por um ser contingente.
ResponderExcluirCausa é um tipo de razão suficiente.
ResponderExcluirApenas seres contingentes podem ter uma causa.
Deus é Sua própria razão suficiente; mas Ele não é a causa em Si mesmo.
Por Razão suficiente em um sentido completo eu entendo uma explicação adequada para a existência de algum ser particular.
Falácia Anedótica.
ResponderExcluirDefinição: usar uma experiência pessoal, relato, ou exemplo isolado como evidência.
Descrição: muitas vezes, é muito mais fácil acreditar em testemunho em vez de compreender dados complexos, como variações através de um espectro contínuo. Medidas científicas quantitativas são quase sempre mais precisas do que as percepções e experiências pessoais, mas a nossa inclinação é acreditar que o que é tangível para nós, e / ou a palavra de alguém de confiança é mais real do que as análises quantitativas abstratas.
Exemplo:
Jason disse que seu avô fumou 30 cigarros por dia e viveu até 97 anos, e por isso não devemos acreditar nos alertas do ministério da saúde contra o consumo de cigarros.
O princípio de razão suficiente e a primeira premissa do argumento cosmológico modal são sinônimos? E o que é modalidade em filosofia?
ResponderExcluirSim, ambos dizem que uma causa anterior, ou uma explicação, é necessária para entes contingentes. Modalidade em filosofia nos remete à lógica modal. É justamente o estudo das modalidades como o tempo, probabilidades, possibilidades, etc. Lembre-se: "é possível que..." Enfim, as modalidades mais comuns são a possibilidade e necessidade, sob os quais o argumento ontológico e o cosmológico trabalham.
ExcluirEntão é por isso que o argumento da contingência é chamado também de cosmológico modal por postular um ser metafisicamente necessário como explicação pro universo existir?
ExcluirExatamente.
ExcluirModal porque o original (santo Anselmo) tratava o argumento na questão da necessidade, enquanto Plantiga trabalha a luz da possibilidade de Deus existir, certo? Só há duas modalidades: possibilidade e necessidade? Pergunto porque honestamente não sei o significado de modal. Poderia esclarecer pra mim bem resumido? Por favor?
ExcluirAndrei Santos, em filosofia, o que seria um Deus?
ResponderExcluirJá ouvi dizer que ele seria o maior ser concebível, mas o que isso significaria?
Poderia me explicar tudo isso se não houver inconvenientes de sua parte, por favor?
Essa questão está respondida no prefácio do Argumento Ontológico de Alvin Plantinga, no entanto, você está certo quando ao maior ser concebível. É simplesmente o ser dotado com as melhores propriedades de se ter, sempre à luz da lógica. Esse é o ponto.
ExcluirObrigado
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