O Dilema Moral do Ateísmo: o argumento da moralidade objetiva como a melhor evidência a favor da existência de Deus
O Dilema Moral do Ateísmo
O argumento da moralidade objetiva como a melhor evidência a favor da existência de Deus
O argumento da moralidade objetiva como a melhor evidência a favor da existência de Deus
História do Ateísmo
Embora todas as sociedades humanas, em algum ponto de suas histórias, tenham estabelecido algum tipo de ligação com deuses ou outras entidades sobrenaturais, nem sempre houve unanimidade. Na antiguidade, já haviam aqueles que negavam ou duvidavam da existência dos deuses, e isso não era tão incomum como muitos de nós temos em mente. O ateísmo ocidental tem suas raízes fincadas na filosofia grega pré-socrática, embora não tivesse emergido como uma visão do mundo propriamente dita até o final do Iluminismo, no século XVIII. O filósofo grego do século V a.C., Diágoras, é constantemente tido como o "primeiro ateu", e é citado como tal por Cícero em sua obra De Natura Deorum. Crítias, por exemplo, via a religião como um instrumento de dominação social, utilizado sobre as pessoas para fazê-las seguir a ordem moral vigente. Atomistas, como Demócrito, foram um dos primeiros a tentar explicar o mundo de um ponto de vista puramente materialista, sem fazer referência aos deuses. No século III a.C. os filósofos gregos Teodoro, o Ateu e Estratão de Lâmpsaco também não acreditavam na existência de deuses.
Desde a revolução francesa, impulsionada pelo pensamento iluminista, passando pela ascensão do marxismo no século XX, até o início do período vigente, o ateísmo vem crescendo de forma notável, estabelecendo-se no mundo como uma força social. Para alguns ateus e agnósticos, a inexistência de divindades não se limita ao mero espectro da dúvida ou da negação particular. Em contrapartida, se estabelece como uma proposição objetiva e coletiva acerca da realidade que nos circunda. Nesses termos, o ateísmo se afasta do modo de vida particular e se aproxima da coletividade enquanto grupo político e social, com sua própria identidade e demandas. Essa postura se coloca em contraste direto com o ateísmo clássico dos séculos XVIII, XIX e meados do XX, marcado pela preocupação com as consequências filosóficas e pelo discurso dialético. Nessa galeria, entram nomes como Nietzsche, Schopenhauer, Philipp Mainlander, Ludwig Feuerbach, Max Stirner e outros mais que produziram as obras de base da filosofia ateísta moderna.
O positivismo do século XIX e o seu desdobramento lógico no século XX (neopositivismo) promoveram um afastamento radical entre a metafísica e o discurso filosófico. Já flagelada pelas críticas de Kant e de outros filósofos iluministas, a metafísica passou a ocupar os cantos escuros das salas de aula, junto com Deus. Segundo o evangelho do positivismo lógico, para definir se uma declaração era significativa ou não, se deveria recorrer ao critério do verificacionismo para fazer a demarcação entre o que era científico e o que não era. Segundo este, uma declaração somente seria significativa se passasse pelo crivo da experiência sensorial, de modo a determinar conclusivamente sua verdade. Afirmações metafísicas, teológicas e éticas falhavam nesse ponto, passando, então, a serem consideradas como pseudoproblemas. Como consequência direta, declarações de natureza metafísica foram consideradas irrelevantes. O positivismo somente foi derrotado na década de 60, devido aos seus inúmeros problemas. Ao final dos anos 70, praticamente todos os seus defensores já haviam abandonado a teoria, por umas simples razão: a declaração "o positivismo lógico é verdadeiro" falha no teste sensorial. Em outras palavras, é autorrefutável e circular, uma vez que não é possível provar a si mesma através do método empírico.
Embora as obras ateístas mais importantes tenham sido produzidas nos séc. XVIII e XIX, a mudança de postura mais radical ocorre após a Segunda Guerra Mundial. A profunda desilusão com a própria condição humana, como resposta natural às atrocidades cometidas durante a guerra, fez explodir o pensamento existencialista. Em meio a milhões de mortos, perseguições sistemáticas, estupros em massa, genocídios, estados totalitários e campanhas globais de morte, o homem viu o século XX se tornar mais letal que todos os outros séculos anteriores somados. A essa altura, a humanidade passou a questionar não mais somente a Deus, mas também o seu valor e propósito no mundo. Autores como Jean-Paul Sartre e Albert Camus foram dois dos maiores precursores do existencialismo ateu. Em termos teleológicos, ambos falaram, respectivamente, sobre a "náusea" e o "absurdo" de se estar vivo, sobretudo em meio à ameaça da tragédia que ronda a vida humana.
Para Sartre, "a existência precede a essência”. Isso quer dizer que o homem, condenado a ser livre, é o responsável pela sua própria construção. Quando um escultor começa a lapidar um bloco de gesso, ele já sabe o que a peça irá se tornar. Nesse sentido, a fabricação depende dessa ideia prévia, contida na mente de seu criador. Quando falamos sobre o homem, Sartre não admitia a mesma ideia. Como, para ele, não há alguém que o tenha imaginado antes, sua essência não é pré-determinada, cabendo ao próprio homem a sua construção. Aqui, a subjetividade se torna a base da construção humana. Devemos notar que este é um importante contraponto, não somente à antropologia teísta, mas também à antropologia materialista, uma vez que ambos partem do pressuposto de que há uma pré-determinação colocada à priori ao ser: o projeto de Deus e o projeto natural, respectivamente.
Já o existencialismo de Albert Camus e Emil Cioran é caracterizado pelo grande enfoque dado à teleologia. O absurdismo de Camus, tão bem expresso em sua magnífica obra "O Mito de Sísifo", escancara o conflito entre a tendência humana de buscar significado inerente à vida e a inabilidade para encontrá-lo em um universo sem propósito. Nesse mundo, não há um destino final celeste onde podemos habitar por toda a eternidade, tampouco um legislador moral para nos prescrever regras morais. Não há um propósito final, mas apenas um sentido secundário e subjetivo conferido pelo próprio sujeito sobre si mesmo. Os conflitos sangrentos do século XX proporcionaram o ambiente perfeito para o questionamento da condição humana, o que gerou fortes impactos na filosofia moderna.
Mais a frente na linha do tempo, com o avanço do pós-modernismo e o sepultamento do positivismo, o ateísmo se renova e ganha contornos sociopolíticos. Aqui, as preocupações filosóficas são postas de lado e cedem lugar às demandas sociais e à militância política. O caráter inerentemente reformador daquilo que veio a ser conhecido como neo-ateísmo intenta transformar uma determinada sociedade por meio da revolução. Uma vez que sua base está fincada no pós-modernismo, a subjetividade assume papel central no discurso ateu, juntamente com posturas mais combativas. Em outras palavras, busca-se a desconstrução do imaginário cristão, incluindo suas bases metafísicas, valores e tradições, visando substituí-los pelos valores do humanismo secular. A essa altura, a crítica filosófica à existência de Deus é colocada em segundo plano, sendo muitas vezes utilizada somente a fim de recrutar simpatizantes à causa. Em primeiro plano, se encontram as críticas às instituições religiosas e seus representantes, os rotulando de opressores, ultrapassados e autoritários.
O ateísmo, livre dos grilhões da moral religiosa, se mostra essencialmente amoral. Em outras palavras, não há normas éticas a serem seguidas ou fundamentos metaéticos a serem observados. Sob a égide da subjetividade, cada indivíduo seria então responsável por construir seus próprios códigos e valores. Essa constatação tem sido a principal bandeira do que chamamos de neo-ateísmo, sobretudo no combate aos valores cristãos, ironicamente preservados pelos neo-ateus como herança direta da formação da civilização ocidental. De todo modo, o tsunami da pós-modernidade vem varrendo o cenário contemporâneo e redesenhando os principais contornos do pensamento ocidental clássico, e com ele, o neo-ateísmo se espalha.
Como resposta a sua popularidade e ao domínio secular quase absoluto nas academias, a filosofia cristã contemporânea se ergueu, e, surpreendente, no coração de algumas das melhores universidades do mundo. Filósofos renomados como W. L. Craig, Alvin Plantinga, Peter Von Inwagen e J. P. Moreland têm apresentando, com sucesso, argumentos cada vez mais problemáticos para o ateísmo. Antes "imbatíveis", agora os ateus passavam a ser incomodados e postos contra a parede. Um destes argumentos, particularmente interessante para este trabalho, é o argumento da moralidade objetiva, o qual busca demonstrar que a existência de valores e deveres morais objetivos somente fazem sentido quando fundamentados em um parâmetro externo a nós, a saber, Deus.
De todo modo, o desenrolar dessa história está impregnado de implicações mais complexas, marcadas por posturas e pressupostos até então inimagináveis. Mas, afinal, o que significa ser um ateu na contemporaneidade? Quais são as implicações éticas do ateísmo? Ao mergulharmos a fundo no tema, iremos descobrir os seus desdobramentos e as múltiplas formas de se reconhecer e agir em um mundo sem Deus, sobretudo no que diz respeito à moralidade. Antes de prosseguirmos, no entanto, convém ressaltar que o propósito desse trabalho não é a conversão de ateus. O propósito é pura e simplesmente oferecer uma crítica à cosmovisão ateísta e seus desdobramentos, bem como confrontá-lo com uma alternativa teísta para a fundamentação de valores e deveres morais objetivos.
Introdução ao Pensamento Naturalista
Também conhecido como naturalismo metafísico ou ontológico, esta é uma das mais clássicas e populares formas de ateísmo. Em uma cosmovisão essencialmente naturalista, podemos compreender a natureza como sendo a totalidade da existência. Não há nada além dela. Não há um Deus, não há vida após a morte, não há um legislador moral para emitir prescrições éticas e tampouco um parâmetro moral que transcende espaço, tempo e cultura. Estamos falando, portanto, de um universo livre de leis morais superiores ou quaisquer divindades. Nesse cenário, as leis e fenômenos naturais ditam as regras do jogo. Em outras palavras, prescrevem como o universo deve funcionar. Uma vez que o universo não possui a propriedade da pessoalidade, podemos concluir que igualmente não possui intencionalidade, uma vez que intenção somente existe com ação previamente pensada para um finalidade, envolvendo propósito, plano, ideia, intento ou desejo. Como consequência direta, as leis e fenômenos que regem o universo podem ser traduzidas em forças cegas, impessoais e arbitrárias. Naturalmente, tudo o que está contido nele se sujeita às leis naturais, e uma vez que integramos o conjunto natural, nós também estamos, incluindo nossas propriedades constitutivas, como a mente, racionalidade, agência moral e capacidade de emitir juízos éticos e estéticos sobre o mundo.
Uma das leis naturais mais fundamentais da natureza é a evolução biológica. Não entraremos aqui no mérito de ser uma teoria válida ou não, o que eu particularmente entendo que é. Mas, a fins argumentativos, vamos considerar que sim. Em termos naturalistas, a sobrevivência das espécies por meio da reprodução e perpetuação de genes é único e verdadeiro objetivo. Nesse cenário sem rumo e sem propósito, nós seríamos meros seres biológicos condenados inevitavelmente à extinção, que é, em termos biológicos, um destino muito mais comum que perpetuação. As regras morais seriam resultados de pressões sociobiológicas condicionadas à sobrevivência. Nesse sentido, as regras não se orientam pelo que é certo ou errado, bom ou mau, mas apenas pelo que é vantajoso ou desvantajoso. Em consequência, atitudes tidas outrora como moralmente boas ou más passam a ser apenas vantajosas ou desvantajosas à sobrevivência, apenas.
Para os naturalistas, propriedades morais são propriedades naturais. Portanto, a ética e a moral passam a ser objetos de estudo das ciências naturais. Isso significa dizer que é a biologia agora o novo critério para estabelecer a verdade de declarações morais e ratificar a validade de uma determinada ação moral. Alguns filósofos e cientistas ateus suportam essa ideia, como Sam Harris, Richard Dawkins e Daniel Dennett. Basicamente, a ética é totalmente reduzida às ciências naturais. A deontologia kantiana é um bom exemplo de tese naturalista. Trata-se de uma teoria normativa da ética que se baseia em obrigações. Uma vez que as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas, a deontologia kantiana se inclui entre as teorias morais que orientam nossas escolhas sobre o que deve ser feito. Seu fundamento ontológico encontra-se na razão (concebida em termos naturais), que, por sua vez, emite os comandos na forma do imperativo categórico kantiano. O consequencialismo e utilitarismo também são teorias da ética normativa alocadas dentro do naturalismo ético. Com aplicações em semântica moral (definindo-se o bem como a felicidade ou o prazer) ambas se pautam na consequência das ações. O utilitarismo, doutrina esta teorizada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século XIX, difere do consequencialismo no sentido de que a atitude mais correta seria a que resulta no maior bem-estar ou prazer para o máximo de pessoas (hedonismo), ao passo que o primeiro se sustenta na premissa eudemonística de que é a felicidade quem possui valor intrínseco.
As tentativas de reduzir a ética e a moral às ciências naturais não são uma surpresa, uma vez que o naturalismo metafísico busca compreender o universo unicamente sob a ótica natural, seja reduzindo entes e propriedades metafísicas à propriedades naturais ou negando sua existência. O método comumente adotado par a investigação e acesso ao conhecimento nesse cenário é o naturalismo metodológico, que nos diz que efeitos naturais possuem causas essencialmente naturais. E, como tais, estão aptas à análise empírica e experimental, reproduzíveis e replicáveis em ambiente controlado, como um bom empreendimento científico. O naturalismo metodológico também serve como a barreira que separa o conhecimento científico do conhecimento teológico. O naturalismo foi muito popular no século XX e ainda resiste saudosamente nos corações de alguns neo-ateus, como Richard Dakwins, Sam Harris e Daniel Dennett. No entanto, alguns deles, como Dakwins, acabam tropeçando no cientificismo, que nada mais é que o velho positivismo lógico disfarçado.
A Teleologia do Ateísmo
Começamos este tópico parafraseando o autor russo Fiódor Dostoiévski: “Se
não há imortalidade, tudo é permitido". Ora, de fato, se a vida termina na sepultura, não faz diferença viver como um marginal ou como um santo. Afinal, o que significa habitar um mundo onde não há um Deus para nos estabelecer leis morais? O que significa viver em um mundo onde a morte é o fim absoluto? Qual é a minha importância enquanto ser vivo num universo vazio? O que a vida representa nesse cenário? Desde o Iluminismo, quando o mundo arrancou de si os grilhões da religião, o homem procura responder tais perguntas existenciais sem fazer referência a Deus. No entanto, as respostas obtidas não são divertidas, mas tenebrosas e terríveis: “Você é subproduto acidental da natureza, resultado de uma soma de matéria, tempo e acaso. Não há razão alguma para que exista. Tudo que lhe espera é a morte”. O homem moderno pensava que, ao livrar-se de Deus, também se livraria de tudo que o reprimia e coibia. Em vez disso, descobriu que, ao matar Deus, também matou a si mesmo. Pois, se não há Deus, a vida do homem torna-se absurda. Se a pessoa deixa de existir quando morre, então, que significado supremo pode ser dado a esta vida? Que importância real tem se ela existiu?
A vida da pessoa pode ter importância relativa a certos eventos, mas qual é a importância final de qualquer um desses eventos? Se todos os eventos não têm sentido, então que sentido último há em influenciar qualquer um deles? Em última análise, não faz nenhuma diferença. A mesma lógica se aplica à espécie humana como um todo. A humanidade é uma espécie condenada à destruição num universo em processo de morte. Uma vez que a humanidade deixará finalmente de existir, não faz basicamente nenhuma diferença se ela algum dia realmente existiu. A humanidade é, portanto, não mais importante do que um enxame de mosquitos ou uma manada de porcos, pois o fim de todos eles é o mesmo. O mesmo processo cósmico cego que de início os lançou para fora no final os engolirá de novo totalmente. E o que falar dos portadores de doenças congênitas e deficientes? Quer gostemos ou não, nesse cenário, eles não passam de efeitos colaterais de um processo evolucionário cego que não se importa com vidas individuais. São meros produtos malsucedidos da mutação genética. Nada são frente uma cega, cruel e impiedosa indiferença postulada por um universo sem valor e sem sentido. O DNA não se importa. O DNA simplesmente é.
Não obstante, a mesma lógica ainda pode ser aplicada, porém, dessa vez com consequências ainda mais brutais. As contribuições dos cientistas para avançar o conhecimento humano, as pesquisas dos médicos para aliviar a dor e o sofrimento, os esforços diplomáticos para assegurar a paz no mundo, os sacrifícios dos homens bons em todos os lugares para melhorar a condição da raça humana, tudo isso resulta em nada. Este é a conclusão necessária: uma vez que ele termina em nada, o homem não é nada. Os existencialistas franceses Jean-Paul Sartre e Albert Camus também tiveram a mesma compreensão. Em sua peça Entre quatro paredes, Sartre retratou a vida como o inferno, onde a fala da última cena são as palavras de resignação: “Pois é, vamos continuar?”. Por isso, noutro livro, Sartre escreve sobre a “náusea” da existência. Camus também via a vida como um absurdo. No final de seu romance O estrangeiro, o herói de Camus percebe de repente que o universo não tem sentido e não existe Deus para dotá-lo de um. Nas palavras de Kai Nielsen, filósofo ateu que tenta defender a viabilidade de uma ética sem Deus:
"Não conseguimos mostrar que a razão exige o ponto de vista moral, ou que todas as pessoas realmente racionais, cujos olhos não estão vendados pelo mito ou pela ideologia, não têm necessidade de ser egoístas individuais ou amoralistas clássicos. Aqui, a razão não toma decisões. O quadro que pintei para vocês não é nada agradável. Pensar a respeito dele me deprime [...] A razão pura e prática, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não levará à moralidade."
Kai Nielsen
Logo, o fantasma do naturalismo nos assombra novamente: homem e o universo seriam, portanto, meros acidentes do acaso, empurrados na existência sem razão alguma. Sem Deus, o universo é o resultado de um acidente cósmico, de uma explosão por acaso. Não há razão para que exista. O homem não passa de um bocado de lodo que evoluiu racionalmente. Se Deus não existe, somos um aborto da natureza, lançados num universo despropositado para viver uma vida sem propósito. A conclusão, mais uma vez, nos espanta. Se Deus está morto, nós também estamos. A maioria das pessoas não pensa nas consequências do ateísmo e, assim, como a multidão da praça do mercado, continua a viver inadvertidamente. Mas, quando compreendemos, assim como Nietzsche, qual a implicação do ateísmo, a seguinte pergunta nos oprime: como nós, assassinos de todos os assassinos, consolaremos a nós mesmos? A única solução, portanto, que os ateus conseguem nos oferecer é que devemos encarar o absurdo da vida e viver corajosamente. Bertrand Russell, por exemplo, escreveu que temos de edificar a nossa vida sobre “o firme alicerce do desespero inabalável”. Somente reconhecendo que o mundo é de fato um lugar terrível podemos entrar num acordo eficaz com a vida. Camus chegou à conclusão de que deveríamos reconhecer honestamente o absurdo que é a vida e, então, viver em amor mútuo. No entanto, o problema dessa estrutura de pensamento é a impossibilidade de viver de modo coerente e feliz nessa visão de mundo. Se alguém vive coerentemente, não será feliz; se vive feliz, é só porque não é coerente. Francis Schaeffer, afirma:
"O homem moderno habita um universo com dois andares. No andar de baixo, está o mundo finito sem Deus; aqui a vida é absurda, como já vimos. No andar de cima, há sentido, valor e propósito. Todavia, o homem moderno vive no andar de baixo, pois acredita que Deus não existe. Ele não consegue ter uma vida feliz nesse mundo tão absurdo; por isso, sempre dá saltos de fé até o andar de cima para afirmar sentido, valor e propósito, mesmo não tendo esse direito, já que não acredita em Deus."
Francis Schaeffer
Por fim, o homem, tal como qualquer outro organismo biológico, morrerá, e o próprio Universo também enfrentará um fim próprio. Segundo recentes descobertas no campo da astronomia, o universo está se expandindo, e isso o leva a ficar cada vez mais frio conforme sua energia vai sendo utilizada. Eventualmente, todas as estrelas irão se reduzir às cinzas e toda a matéria vai entrar em colapso, resultando em um grande cemitério de corpos celestes e enormes buracos negros. Não haverá luz, não haverá calor e não haverá vida, restando apenas os corpos de estrelas mortas e galáxias se expandindo na escuridão interminável de um espaço sem calor. Esta é uma teoria científica amplamente aceita, cujo nome nos é assimilável através do termo "Big Freeze". Por mais inimaginável que isso possa soar, é o que os atuais estudos nos indicam. No fim, seríamos apenas pedaços de carne que interagem entre si e têm reações químicas no corpo, onde o nosso único objetivo é, nas palavras do biólogo ateu Richard Dawkins, propagar DNA. Obviamente, tal visão tem implicações éticas: se nós, meros sacos de uma sopa primordial reorganizada decidimos, por exemplo, assassinar um semelhante, logo, o que é o assassinato senão um saco de compostos químicos impactando outro saco de compostos químicos?
A distinção entre Objetividade e Subjetividade
Antes de discorrermos sobre valores e deveres morais, devemos fazer a distinção entre dois conceitos centrais para essa discussão: objetivo e subjetivo. Quando dizemos que uma determinada proposição é objetivamente verdadeira queremos dizer que ela constitui uma verdade independentemente de nossas preferências pessoais. É possível pensarmos em alguns exemplos: equações numéricas e declarações factuais sobre o mundo. Notem que 1+1=2 independentemente do que pensamos a respeito. Agora, tenhamos em mente um balão vermelho. As pessoas podem discordar acerca da cor do balão, mas a cor dele independe de qualquer inferência pessoal. Ele é verdadeiramente vermelho. Ainda assim, se um indivíduo daltônico enxergar o referido balão como sendo verde, ele não será verde de fato, mas continuará sendo vermelho. Do mesmo modo, um círculo será sempre um círculo, independente do nome que lhe pusermos. De qualquer maneira, um círculo sempre será redondo. Um outro exemplo claro de objetividade pode ser encontrado nas leis da natureza. Observem que elas se sustentam, quer as reconheçamos ou não. Logo, são, de fato, objetivas. Denomina-se, portanto, objetividade o o conjunto de proposições que expressam valor de verdade independentemente de nossas inferências pessoais, tais como expressões matemáticas e descrições factuais acerca da realidade.
A subjetividade, por sua vez, é constituída estritamente de leituras humanas acerca da realidade que nos circunda. Em outras palavras, afirmar que algo é subjetivo significa dizer que algo é dependente da opinião humana. Por exemplo, questões ligadas ao gosto, como achar que o café tenha ou não um sabor agradável, são relativas a cada pessoa. Em suma, a preferência está no sujeito, e não no objeto, e por isso não se aplica a outras pessoas. Do mesmo modo, a subjetividade moral somente se aplica ao sujeito. Isso quer dizer que ela não é válida ou obrigatória para qualquer outra pessoa. Aqui, nos é evidente que inferências subjetivas são dependentes e variam em função do tempo, espaço, cultura, sociedade, política, estado emocional ou gosto pessoal de cada indivíduo ou grupo de indivíduos. Afirmar a subjetividade da moral significa dizer que o bem ou o mal, ontologicamente falando, são conceitos fincados nas bases da mente humana. Do mesmo modo, certo e o errado são conceitos normativos dependentes da mente humana e do que as pessoas pensem a seu respeito.
Notem que, por serem fincados na mente humana, estão sujeitos às variações do tempo, do espaço, da cultura e, principalmente do estado emocional das pessoas. Logo, o raciocínio anterior nos leva a três conclusões básicas: A primeira é que, nesse cenário, poder-se-ia afirmar sem problemas que, se eu estou com raiva, matar pode ser algo que considero bom, se eu assim considerar. A segunda é que, se não há um padrão objetivo que estabeleça deveres morais, não pode haver obrigações ou deveres morais, uma vez que a minha declaração moral não é mais valida que a declaração de outra pessoa. Finalmente, a terceira é que, em um mundo sem um parâmetro objetivo, não pode haver nenhum mal ou nenhum bem reais, restando apenas atos moralmente indiferentes conceituados por nossas preferências e gostos pessoais. Em resumo, o valor de verdade de declarações morais objetivas independem de opiniões humanas, ao passo que o valor de verdade de declarações morais subjetivas são dependentes da mente humana, sendo condicionado a fatores puramente humanos.
A distinção entre moral, valor, ética e dever
Neste momento, é de suma importância o estabelecimento da distinção entre moral, ética e valor e dever. A moral nada mais é que uma reunião de inferências socioculturais acerca dos valores morais reunidas em um conjunto que denominamos moralidade. Já os valores morais podem ser entendidos como o substrato da moralidade. Em outras palavras, servem como parâmetro para nossos juízos de valor. A título de exemplo, temos a justiça, a honra e a dignidade. Com base nestes valores, podemos julgar se uma ação é ou não justa, e, consequentemente, se é boa ou má. Para alguns filósofos, valores morais são expressões de sentimentos ou estágios emocionais humanos. Nesse cenário, declarações morais não possuem valor de verdade (teses não-cognitivistas), constituindo-se apenas de aprovações e desaprovações, fundamentadas em seus estágios emocionais. Por outro lado, há filósofos que entendem os valores morais como sendo externos a nós, na condição de reflexos da natureza divina. Aqui, os valores morais são expressões da natureza de Deus, sendo, portanto, objetivos. Aqui, declarações morais possuem valor de verdade, uma vez que não são meras expressões de gostos pessoais, mas refletem uma relação direta com a realidade.
A ética, do grego ethos, pode ser entendida como a reflexão dos princípios e valores universais que regem, orientam e regulam a conduta humana. Nesse sentido, a ética se assemelha à moral, pois ambos buscam se aproximar ao máximo dos valores morais. Todavia, a ética tem como característica fundamental a universalidade e a adaptação em função de um determinada realidade social. Aqui, por mais que a distinção entre os dois termos não seja mais tão recorrente na filosofia, pode-se diferir ética de moral, sendo a última, um fenômeno estritamente local e fruto de fatores socioculturais. O estudo da ética dentro da filosofia divide-se, atualmente, em alguns sub-ramos que se encarregam de trabalhar com distintas vias filosóficas. Essa divisão ocorreu principalmente após o advento da filosofia analítica, no século XX, em contraste com a filosofia continental ou com a tradição filosófica grega. As referidas subdivisões são:
Metaética: levanta questões sobre a teoria da significação e da referencia dos termos e proposições morais e como seus valores de verdade podem ser determinados, fundamentados e sustentados;
Ética normativa: encarrega-se de refletir sobre os meios práticos de se determinar as ações morais; teorias do dever; referente ao certo e errado ou bom ou mau; normas de conduta; como as pessoas devem agir e se comportar;
Ética aplicada: sobre como a moral é aplicada em situações específicas; aborto; eutanásia; pena de morte; direito dos animais;
Ética descritiva: também conhecida como ética comparativa, é o estudo das visões, descrições e crenças que se tem acerca da moral; comparação de interpretações culturais acerca dos valores (sistemas morais);
Ética Moral: trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual; síntese da disciplina ética; reflexão sobre deveres e valores morais;
Nesse momento, uma distinção importante deve ser feita: valor tem a ver com o fato de algo ser bom ou mau, ao passo que deveres têm a ver com o fato de algo ser certo ou errado. É evidente que você não é moralmente obrigado a fazer algo somente porque seria bom que você fizesse aquilo. Por exemplo, seria bom que você se formasse em medicina, mas você não está moralmente obrigado a se tornar um médico. Além disso, às vezes tudo que se tem são escolhas ruins (vide A escolha de Sofia), embora não seja errado você escolher uma delas, uma vez que se tenha que escolher uma. Assim, nos é evidente que existe uma diferença entre bom e mau e certo e errado. Em tempo: bom e mau têm a ver com o valor de algo, enquanto certo e errado têm a ver com o fato de algo ser obrigatório. Deveres são prescrições, e, como tais, representam o corpo das teorias da ética normativa. Em outras palavras, os deveres estão diretamente relacionados àquilo que deveria ser.
Tradicionalmente, filósofos cristãos têm atribuído a existência de valores e deveres morais objetivos a um legislador externo, pessoal e moralmente perfeito. Todavia, há quem os fundamente objetivamente em termos naturalistas. A título de exemplo, o naturalismo ético é uma teoria normativa que se encontra dentro do realismo moral. Nesse cenário, declarações morais podem ser objetivamente verdadeiras ou falsas. No entanto, o naturalismo ético enfrenta uma série de problemas, os quais veremos mais a frente. De todo modo, é importante lembrarmos que a conclusão de Deus como o fundamento dos valores e deveres morais não é uma novidade. Foi reconhecida e aceita até mesmo por ateus existencialistas como Nietzsche, Camus e Sartre, ao passo que entendiam e concordavam que deveres e valores morais objetivos requerem um legislador moral para fazerem sentido. Com isso, não quero dizer que aceitavam a existência de Deus. Pelo contrário: a negavam, junto com os valores e deveres morais. Talvez, Nietzsche tenha sido o mais sincero dos filósofos, uma vez que o seu pensamento alcança a consequência final do ateísmo: a pura e indiferente amoralidade.
O parâmetro moral perfeito
Afinal, por que muitos filósofos pensam em Deus como um legislador moral? Por que Deus deve ser a fonte dos valores morais? Além de Deus, poderíamos conceber outros dois candidatos ao fundamento de valores e deveres morais: os números e as formas geométricas. Há quem defenda que os números, tais como as formas geométricas são entidades abstratas que existem na realidade por si só, independentemente de nossas mentes. Em outras palavras, existiriam da mesma maneira que Deus. Essa discussão é particularmente pesada na filosofia da matemática. Mas afinal, o que há de errado em tais entes (e similares em natureza) constituírem a fonte dos valores e deveres morais? Simplesmente porque ambos não são agentes causais ou pessoais. Tanto os números quanto as formas geométricas não possuem a capacidade de serem bons ou maus, tampouco possuem intencionalidade ou potencialidade. Ainda assim, por não serem entes pessoais, não se constituem como autoridade moral, minando, portanto, a normatividade dos deveres. Nesse sentido, o candidato mais plausível ao fundamento adequado dos valores e deveres morais que nos resta é, de fato, um ser pessoal e com poder causal. Logo, um legislador moral na condição de parâmetro para todas as nossas ações e fonte de todos os valores morais (assentados em sua natureza benevolente) parece ser a melhor opção para nós. Contudo, isso nos levanta outra questão: como podemos saber se Deus é bom?
À priori, Deus é definido na filosofia com um ente de grandeza máxima. Um ente de grandeza máxima, por sua vez, é definido como um ser que possui todas as qualidades que são desejáveis de se ter e que podemos definir como propriedades que o tornam excelente, ou seja, o maior ser logicamente concebível. Podemos saber que Deus é bom, portanto, pela sua própria natureza perfeita, afinal, são características desejáveis de se ter, o amor, a sabedoria e a bondade. Um ente de grandeza máxima teria tais propriedades em uma extensão máxima, tornando-o um ser perfeito. Tal ente também não possuiria qualidades que não são desejáveis, tais como imperfeição e corrupção. Essas são definidas como propriedades que o tornam menos excelente. Portanto, Deus é bom porque a sua natureza moral lhe é essencial. Dizer que uma propriedade é essencial a Deus significa dizer que não há nenhum mundo possível em que Deus exista e não tenha essa propriedade. Deus não “aconteceu de ser”, por acidente, amoroso, bondoso, justo e por aí vai. Ele é dessa forma essencialmente porque é a necessidade lógica de um ente de grandeza máxima. Se não o fosse, não seria um ente de grandeza máxima, não sendo portanto, Deus. Da mesma forma, C.S. Lewis indica que o criador do Universo deve ser moralmente perfeito, porque o mal não pode existir por si mesmo, já que é sempre uma perversão do bem. Consequentemente, Deus deve ser benevolente para que possa existir. Os mais versados em filosofia poderão reconhecer tal conceito no Argumento Ontológico.
O Dilema de Eutífron
Alguns ateus costumam questionar os fundamentos morais em Deus à luz do Dilema de Eutífron. O referido dilema é apresentado por Platão no diálogo Eutífron, no qual Sócrates pergunta a Eutífron: "Então, a piedade é amada pelos deuses, porque é piedade, ou é piedade, porque é amada pelos deuses?" Em termos monoteístas, isto é usualmente transformado em: "A moral é comandada por Deus por ser moral ou é moral por ser comandada por Deus?" Para responder a essa questão, nada melhor do que apresentar um diálogo entre o filósofo e teólogo Dr. William Lane Craig e um de seus alunos:
"Olá, Dr. Craig. Eu tenho me perguntado ultimamente se você pode gastar algum tempo me ajudando a resolver alguns problemas. Eu estive lidando com o Dilema de Eutífron. Como você sabe, o Dilema consiste numa pergunta parecida com: “Isso é bom porque Deus aprova, ou Deus aprova por ser bom? Agora, o teísta não vai querer dizer que a “Bondade” é boa simplesmente porque Deus a aprova, já que isso faria a moralidade ser arbitrária (chame isso de “Opção A”). Também não vai querer dizer que Deus aprova a Bondade porque ela é, de fato, boa, porque isso pareceria levar à conclusão da existência de padrões de bondade fora de Deus (chame isso de “Opção B”.) Então, o teísta pode tentar quebrar o dilema entre escolher “A” e “B”, criando uma terceira opção que é: Deus é necessariamente bom, e a fonte e o padrão de Bondade são a própria natureza de Deus. Por um lado, isso evita a “Opção B”, já que Bondade, ao invés de existir fora de Deus, é parte da própria natureza Dele (e depende, na realidade, da Sua existência para existir também).
E, ainda por outro lado, também evita a “Opção A”, já que as vontades de Deus não são arbitrárias, mas, ao invés disso, operam de acordam com um padrão absoluto de moral (i.e. a natureza necessariamente boa de Deus). Mas parece que, agora, o ateu pode reformular em um novo dilema: “É a natureza de Deus boa porque aconteceu na maneira de Deus ser, ou é boa porque corresponde a algum padrão externo de Bondade?” Parece-me que a resposta para o Dilema reformulado envolve alguma coisa como a afirmação que a natureza de Deus não poderia ser nada além de boa – i.e. que a natureza de Deus não simplesmente “aconteceu” de ser de uma certa maneira. Mas eu não tenho certeza do que significa dizer isso, visto que, a menos que nós tenhamos uma concepção de Bondade externamente a Deus, isso não parece importar muito, no sentido que não parece sobrar lugar para colocar qualquer restrição na natureza de Deus. Eu suspeito que o conceito de mundos possíveis possa ajudar aqui. Mas eu não tenho certeza como ou por que. Minha sugestão para um argumento seria algo como isso:
• (1) Deus é, por definição, um ser maximamente notável;
• (2) Isso implica em Ele ser metafisicamente necessário e moralmente perfeito.
• (3) Logo, por (2), Deus existe em todos os mundos possíveis.
• (4) Mas, se valores morais são objetivos, a perfeição moral representa (ou pelo menos, tende a) um único, máximo conjunto de valores morais.
• (5) Então, por (1), (3) & (4), segue que Deus tem o mesmo padrão moral em todos os mundos possíveis.
• (6) Logo, a natureza de Deus é boa nem pelo modo que ele “veio” a ser, tampouco por corresponder a um padrão externo de moralidade.
—o que responde o Dilema reformulado.
Isso parece OK para mim. Mas eu não estou convencido de (4). Eu também estou preocupado que eu tenho ido longe demais com isso e tenha começado a falar besteira nesse ponto. Parece que eu estou andando em círculos na minha cabeça. Se você puder explicar de forma clara e simples para mim, eu seria extremamente grato."
James
Dr. William Lane Craig responde:
"Eu penso que sua intuição acertou o alvo, James! O argumento que você deu simplesmente precisa de alguns ajustes. Quanto o ateu diz “A natureza de Deus é boa porque “aconteceu” na maneira de Deus ser, ou é boa porque corresponde a algum padrão externo de Bondade?”, a segunda opção do Dilema não apresenta nada novo – é a mesma que a segunda opção do Dilema original, ou seja, que Deus aprova alguma coisa por ser boa, e nós já rejeitamos isso. Então a questão se nós estamos presos na primeira opção do Dilema. Bom, se o “aconteceu de ser” que o ateu se refere significa ser uma propriedade contingente de Deus, então a resposta óbvia é “Não”. A natureza moral de Deus é essencial a Ele; foi por isso que nós dissemos que era parte de Sua natureza. Dizer que uma propriedade é essencial a Deus significa dizer que não há nenhum mundo possível em que Deus exista e não tenha essa propriedade. Deus não “aconteceu de ser”, por acidente, amoroso, bondoso, justo e por aí vai. Ele é dessa forma essencialmente.
Você não precisa se preocupar com “o que significa dizer que, a menos que nós tenhamos uma concepção de Bondade externamente a Deus, isso não parece importar muito”. Pois isso é confundir ontologia moral com semântica moral. Nossa questão é com é ontologia moral, isto é, o fundamento na realidade dos valores moral. Nossa questão não é com semântica moral, isto é, o significado dos termos morais. O teísta está pronto para responder que nós temos um entendimento claro do vocabulário moral como “bom”, “mau”, “certo”, e assim vai, sem fazer referência para Deus. Dessa maneira, é instrutivo aprender que “Deus é essencialmente bom”. Muito frequentemente os opositores do Argumento Moral lançam ataques confundindo ontologia moral tanto com semântica moral com, ainda com mais frequência, epistemologia moral.
Se nos perguntarem por que Deus é o paradigma e o padrão da Bondade moral, então eu penso que a premissa (1) de seu argumento responde à questão. Deus é maior ser que pode ser concebido, e é maior ser concebido como o paradigma do valor moral que corresponder a ele. Sua premissa (2) também é verdadeira, que é por que Deus pode servir para o fundamento das verdades morais necessárias, isto é, verdades morais que são em qualquer mundo possível. Eu não tenho certeza do que você queria dizer com a premissa (4); mas eu penso que é dispensável. Tudo que você precisa dizer é que os valores morais (ou pelo menos a maioria deles) não são contingentes, mas existentes em todos os mundos possíveis. Então Deus será a base desses valores em todos os mundos possíveis. Isso parece, a mim, resolver o problema. Bem distante de estar falando besteira, parece-me que você nos dirigiu exatamente para a resposta correta!"
O que devemos ter em mente, portanto, é que os valores morais não são baseados na vontade de Deus, mas em sua própria natureza. Os deveres morais, por sua vez, são baseados em seus comandos (expressos nos mandamentos, a título de exemplo), sempre em consonância com sua natureza benevolente. São justamente os deveres morais que nos fornecem uma base objetiva para nossas ações (por exemplo, julgar de a ação x é certa ou errada). De forma similar, são os valores morais expressos pela natureza de Deus que nos fornecem a base objetiva para reconhecer o bem e o mal. Devemos ainda manter em mente que valores morais são anteriores a sua vontade, já que a própria natureza de Deus não é algo inventado por Deus. Como a sua vontade não é independente de sua natureza, mas deve expressar sua natureza, é logicamente impossível para Deus emitir determinados tipos de comandos, a saber, contrários a sua vontade. Para fazer isso, Ele teria de ter uma natureza diferente, o qual é logicamente impossível, pois se Deus é definido como o maior ser logicamente concebível, ele deve ser como é em todos os mundos possíveis. Isso acontece porque, se ele é um ser necessário, logo, deve, necessariamente, existir do mesmo modo em todos os mundos possíveis. Portanto, sua natureza é imutável. Em resumo, nossas ações morais e juízos de valor estão assegurados na natureza do maior ser logicamente concebível.
Moralidade Subjetiva
Nós vimos nos tópicos anteriores que, em um universo moralmente subjetivo, todas as regras éticas e morais são dependentes da mente humana, ou seja, são prescrições fundamentadas em gostos e opiniões pessoais. Nesse cenário, cada indivíduo ou sociedade define para si o que é certo e errado. Se nós fazemos as regras e não existe nenhum padrão externo para assegurar uma prescrição moral como sendo objetivamente verdadeira, independentemente do que nós pensamos a respeito, sua "verdade" se torna relativa, passando a ser condicionada ao gosto ou opinião individual. Na ausência de uma autoridade competente (lê-se externa e moralmente superior) para nos prescrever regras morais, as mesmas se liquefazem. Todavia, quais são as possíveis implicações desse sistema? A subjetividade moral tem sido, ao longo dos séculos, constantemente estudada. Filósofos amantes do existencialismo como Nietzsche, Sartre, Bertrand Russel, além de serem adeptos do subjetivismo moral, dissertaram incansavelmente sobre o assunto. Devemos lembrar que a moralidade subjetiva pode variar conforme a
sociedade, isto é, ela não tem o objetivo de ser universal ou obrigatória, mas apenas de expressar uma relação mental entre o sujeito e o objeto.
Nesse cenário, por que deveríamos nos comportar moralmente, sobretudo quando isso conflita com nossos próprios interesses? Quem ou o quê nos obriga a ser moral? A opinião de um indivíduo ou um grupo de indivíduos é mais válida que a minha? Por que eu deveria agir moralmente ao invés de apenas seguir meus interesses biológicos, sobretudo aqueles voltados à sobrevivência? Quando um gato se alimenta de um rato, ele não está fazendo nada imoral, mas está apenas agindo de acordo com sua natureza. Se, em um cenário puramente naturalista, nós somos moralmente indistinguíveis dos outros seres vivos, logo, a mesma regra se aplica a nós: assim como eles, nós não teríamos obrigação moral alguma uns com os outros. A fins argumentativos, vamos considerar que o nosso senso moral evoluiu como resultado de pressões sociobiológicas no Homo sapiens, nos conferindo um tipo de “moralidade gregária” que funciona bem na perpetuação de nossas espécies na luta pela sobrevivência. Ora, não parece realmente haver alguma coisa a respeito do Homo sapiens que torne essa moralidade objetivamente verdadeira. Certos tipos de atividades, digamos, como o incesto ou o canibalismo, podem não ser biológica nem socialmente vantajosas e, portanto, no curso da evolução humana foram convertidas em tabu. Todavia, percebam que não há nada realmente errado quanto ao cometimento desses atos. Se os princípios morais que governam nosso comportamento estão enraizados no hábito e no costume, no sentimento e na moda”, então, o inconformado que prefere debochar da moralidade gregária ao cometer um ato tido como "moralmente abominável" não está fazendo nada mais grave do que andar fora da moda.
Nesse cenário, estuprar uma criança não é errado e tampouco moralmente abominável, sendo, em contrapartida, apenas uma atitude "fora de moda" e desvantajosa à sobrevivência. Não faz sentido enxergar um estuprador como um monstro dentro desse cenário, e nem Madre Tereza como uma boa mulher. Ninguém, nestas circunstâncias, poderia ser moralmente condenado ou louvado por nada, pois não há parâmetros objetivos para isso. Afinal, para o subjetivista moral, tudo é uma questão de ponto de vista. Uma vez que não há um referencial objetivo pelo qual podemos condenar ou louvar alguém por boas ou más ações, essa tarefa torna-se impossível. Da mesma maneira, bradar ao mundo que "escravidão é moralmente abominável" ou que "o holocausto foi uma monstruosidiade" não faz sentido, pois nenhum de nós é autoridade competente ou legítima para definir o que é bom ou mal, tampouco certo ou errado. Aqui, uma opinião não é mais válida que a outra. Essa grave objeção à a teoria do subjetivismo moral é conhecida na filosofia da ética como o problema do referencial.
Nesse cenário, por que deveríamos nos comportar moralmente, sobretudo quando isso conflita com nossos próprios interesses? Quem ou o quê nos obriga a ser moral? A opinião de um indivíduo ou um grupo de indivíduos é mais válida que a minha? Por que eu deveria agir moralmente ao invés de apenas seguir meus interesses biológicos, sobretudo aqueles voltados à sobrevivência? Quando um gato se alimenta de um rato, ele não está fazendo nada imoral, mas está apenas agindo de acordo com sua natureza. Se, em um cenário puramente naturalista, nós somos moralmente indistinguíveis dos outros seres vivos, logo, a mesma regra se aplica a nós: assim como eles, nós não teríamos obrigação moral alguma uns com os outros. A fins argumentativos, vamos considerar que o nosso senso moral evoluiu como resultado de pressões sociobiológicas no Homo sapiens, nos conferindo um tipo de “moralidade gregária” que funciona bem na perpetuação de nossas espécies na luta pela sobrevivência. Ora, não parece realmente haver alguma coisa a respeito do Homo sapiens que torne essa moralidade objetivamente verdadeira. Certos tipos de atividades, digamos, como o incesto ou o canibalismo, podem não ser biológica nem socialmente vantajosas e, portanto, no curso da evolução humana foram convertidas em tabu. Todavia, percebam que não há nada realmente errado quanto ao cometimento desses atos. Se os princípios morais que governam nosso comportamento estão enraizados no hábito e no costume, no sentimento e na moda”, então, o inconformado que prefere debochar da moralidade gregária ao cometer um ato tido como "moralmente abominável" não está fazendo nada mais grave do que andar fora da moda.
Nesse cenário, estuprar uma criança não é errado e tampouco moralmente abominável, sendo, em contrapartida, apenas uma atitude "fora de moda" e desvantajosa à sobrevivência. Não faz sentido enxergar um estuprador como um monstro dentro desse cenário, e nem Madre Tereza como uma boa mulher. Ninguém, nestas circunstâncias, poderia ser moralmente condenado ou louvado por nada, pois não há parâmetros objetivos para isso. Afinal, para o subjetivista moral, tudo é uma questão de ponto de vista. Uma vez que não há um referencial objetivo pelo qual podemos condenar ou louvar alguém por boas ou más ações, essa tarefa torna-se impossível. Da mesma maneira, bradar ao mundo que "escravidão é moralmente abominável" ou que "o holocausto foi uma monstruosidiade" não faz sentido, pois nenhum de nós é autoridade competente ou legítima para definir o que é bom ou mal, tampouco certo ou errado. Aqui, uma opinião não é mais válida que a outra. Essa grave objeção à a teoria do subjetivismo moral é conhecida na filosofia da ética como o problema do referencial.
Mas isso significa então que o ateu é imoral? Não. Aqui, devemos ser muito cautelosos, pois a linha ortográfica que separa a amoralidade da imoralidade é demasiada e perigosamente tênue: o ateísmo, enquanto proposição, não é essencialmente imoral, mas sim amoral, pois não se preocupa com regras morais objetivas. Uma das formas mais radicais de ateísmo, o niilismo, talvez tenha sido a responsável por fazer surgir as constatações mais cruas e verdadeiras acerca das consequências de um mundo onde valores e deveres morais são subjetivos. Nietzsche entendeu que, no final das contas, regras morais e juízos de valor fundamentados na opinião e gosto pessoal, justamente por dizerem mais sobre si mesmo (seu estado mental) que sobre o objeto, não fazem sentido. E não o fazem justamente por não se constituírem como verdades, mas como expressões de gostos e opiniões pessoais. Aqui, declarações morais podem ser justificadas no sentido de "algo ser certo porque eu gosto ou aprovo". Este é um fato preocupante e
perturbador, pois absolutamente tudo poderia ser justificado, dependendo de quem emite a declaração.
Naturalmente, um mundo onde ninguém pode ser condenado por cometer abominações morais, ser obrigado a seguir regras morais ou ser louvado por atos de bravura e heroísmo não faz sentido, mesmo que muitos de nós já tenham perpetrado atos de bravura alguma vez na vida. No entanto, Todos entendemos que existem coisas no mundo que são verdadeiramente boas (como heroísmo e atos de caridade) e más (como o holocausto), e chegamos a essa conclusões com base em nossa própria experiência moral. Notem que em toda e qualquer cultura disposta e diversificada no tempo e no espaço, recorremos a categorias como bem, mal, certo e errado para nos referirmos a determinadas situações. Em outras palavras, sempre emitimos declarações morais sobre o mundo, mesmo que discordemos sobre o que é bom, mau, certo ou errado. Este é um ponto de convergência entre cristãos, agnósticos, ateus e todos os outros. Afinal, negar que haja coisas boas e más no mundo corresponde a negar a própria experiência humana. O problema, no entanto, está em fundamentar os valores e deveres morais objetivos de maneira adequada.
Uma vez que entendemos que essa tarefa é impossível dentro do subjetivismo moral, podemos então nos perguntar: qual seria o fundamento dos valores e deveres morais? Ou ainda: nesse cenário, qual é a base para o valor dos seres humanos? Sem um parâmetro externo, fica difícil até mesmo ver alguma razão para considerarmos que os seres humanos sejam moralmente especiais ou que a moralidade deles seja objetivamente verdadeira, pois tudo isso estaria fundamentado na nossa própria concepção acerca de nós mesmos (refletidos em gostos e opiniões pessoais). Além disso, se não há nada acima de nós que sirva como um parâmetro para o bem, o mal, o certo e o errado, por que razão acharíamos que temos obrigações morais para fazer qualquer coisa? Os naturalistas são tipicamente adeptos do materialismo ou do fisicalismo e consideram o homem como organismo puramente animal. Mas, se o homem não tiver nenhum aspecto imaterial relacionado ao seu ser (uma mente que confira agência e responsabilidade moral), então, ele não será qualitativamente diferente de nenhuma outra espécie animal. É verdade que considerar a moralidade humana como objetivamente verdadeira é cair na armadilha do especismo. No entanto, se assume erroneamente que a mera diferença entre espécies implica em superioridade. Isso não é mais verdade desde o século XX, quando desvinculamos a ideia de progresso da evolução humana, passando a significar apenas a mudança como continuidade ao longo do tempo.
Uma vez que entendemos que essa tarefa é impossível dentro do subjetivismo moral, podemos então nos perguntar: qual seria o fundamento dos valores e deveres morais? Ou ainda: nesse cenário, qual é a base para o valor dos seres humanos? Sem um parâmetro externo, fica difícil até mesmo ver alguma razão para considerarmos que os seres humanos sejam moralmente especiais ou que a moralidade deles seja objetivamente verdadeira, pois tudo isso estaria fundamentado na nossa própria concepção acerca de nós mesmos (refletidos em gostos e opiniões pessoais). Além disso, se não há nada acima de nós que sirva como um parâmetro para o bem, o mal, o certo e o errado, por que razão acharíamos que temos obrigações morais para fazer qualquer coisa? Os naturalistas são tipicamente adeptos do materialismo ou do fisicalismo e consideram o homem como organismo puramente animal. Mas, se o homem não tiver nenhum aspecto imaterial relacionado ao seu ser (uma mente que confira agência e responsabilidade moral), então, ele não será qualitativamente diferente de nenhuma outra espécie animal. É verdade que considerar a moralidade humana como objetivamente verdadeira é cair na armadilha do especismo. No entanto, se assume erroneamente que a mera diferença entre espécies implica em superioridade. Isso não é mais verdade desde o século XX, quando desvinculamos a ideia de progresso da evolução humana, passando a significar apenas a mudança como continuidade ao longo do tempo.
Em seguimento, para a antropologia materialista, não há razão para considerarmos que os seres humanos sejam moralmente mais valiosos do que ratos, uma vez que nesse cenário não há objetividade de valores. Em segundo lugar, se mente e cérebro são a mesmíssima coisa, tudo o que pensamos e fazemos é determinado pela percepção dos nossos cinco sentidos e pela nossa estrutura genética. Não há livre arbítrio. Sem liberdade, nenhuma de nossas escolhas é moralmente importante. Em suma, nossas ações morais são como os gestos espasmódicos dos membros de uma marionete, controlada pelos cordões da percepção sensorial e da constituição física. E que valor moral tem uma marionete ou seus movimentos? Aqui, o valor humano está comprometido, e, com ele, os valores inalienáveis como o respeito e a dignidade, descritos no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em conclusão, se o naturalismo é verdadeiro, torna-se impossível condenar a guerra, a opressão ou o crime como maus, nem será possível enaltecer a fraternidade, a igualdade ou o amor como benignos, uma vez que tudo o que fazemos é fruto de reações neuroquímicas em nossos cérebros. Nesse cenário, não há sequer responsabilidade moral, uma vez que tudo o que fazemos somente o é porque nosso cérebro reage de determinada maneira. Sem responsabilidade moral, consequentemente, não há culpabilidade moral. Aqui, uma atrocidade como o Holocausto seria um evento moralmente indiferente, sem culpados. Pode ser que você o ache errado e moralmente abominável, mas nada há de ser feito, uma vez que os culpados apenas agiram segundo sua natureza. Aqui, é possível que o naturalista tente fugir das consequências retornando à subjetividades dos valores, mas o tiro sai pela culatra. Nesse cenário, como já vimos, a sua opinião condenatória acerca do holocausto não seria mais válida do que a do oficial nazista, que o considerava certo e bom, agindo de acordo com os valores propagados na Alemanha Nazista. Richard Taylor, eminente especialista em ética, escreve:
"A era moderna, ao repudiar em maior ou menor medida a ideia de um legislador divino, tem, no entanto, procurado preservar as ideias do que é moralmente certo e errado, sem perceber que, ao descartar Deus, as pessoas aboliram, da mesma maneira, as condições de significado para o que é moralmente certo ou errado. Assim, até mesmo indivíduos letrados declaram que certas coisas como guerra, aborto ou violação de certos direitos humanos são “moralmente erradas” e imaginam terem dito algo verdadeiro e cheio de sentido. Entretanto, é dispensável dizer a pessoas instruídas que questões desse tipo jamais foram respondidas fora do âmbito da religião. [...] Contemporaneamente, os autores que escrevem sobre ética, que discursam descuidadamente sobre o que é moralmente certo ou errado e sobre a obrigação moral sem nenhuma referência à religião, na verdade só estão tecendo teias intelectuais no ar rarefeito; isso equivale a dizer que o discurso deles não tem sentido."
Richard Taylor
Um dos argumentos comumente utilizados por ateístas contra Deus, enquanto legislador moral, é que o universo parece cruel e injusto. Alguns ateus tentam defender o ateísmo e a moral objetiva ao mesmo tempo, mas todos, sem exceção, caem no misticismo, tornando-se mais uns místicos do que ateus em si. É notável como a moral subjetiva é justamente a raiz de grandes tragédias do século XX. Hitler foi o responsável pela morte de milhões de judeus porque ele acreditava que quem iria julgá-lo era a sociedade germânica, e não Deus. Vale ressaltar, no entanto, que, embora os nazistas mantivessem um sistema moral próprio, ainda assim, tendiam a universalizá-lo, isto é, tornar o referido padrão um modelo para o mundo, uma verdade moral universal e absoluta (o mesmo pode ser dito, de certa forma, acerca dos extremistas islâmicos). No cenário do subjetivismo moral, a ética nazista não poderia ser condenada por outra sociedade porque, como vimos, uma opinião ou gosto pessoal não é mais válido que o outro, mesmo que seja coletivo. Essa crítica só poderia ser lançada a partir de uma posição privilegiada transcendente, acima dos costumes morais socioculturais. Porém, na ausência de um legislador moral externo que sirva como fonte de valores e deveres morais objetivos, falta exatamente essa perspectiva privilegiada. Tudo o que resta, no entanto, é mundo moralmente subjetivo, onde atitudes como essas não podem ser postuladas como erradas e tampouco más, pois a regra moral está na cabeça de cada um, ou, nesse caso, de cada sociedade.
Eis a questão: se a moralidade na cosmovisão ateísta deriva de convenções sociais, isto é, se é a sociedade quem decide o que é certo e errado, o que é que nos impede de dizer que Hitler tinha razão? Tenhamos em mente que a sociedade alemã acreditava que o que fazia era, de fato, correto. A pergunta acima, torna-se então, extremamente problemática para um ateu. Perceba que ela não pode ser respondida com um simples "não gosto de genocídio" ou "genocídio é errado". O ateu tem que responder de acordo com o significado do ateísmo, que falha em justificar a existência de valores e deveres morais objetivos, ou ainda, se posicionando contrariamente a eles. Como, para o ateu, parece impossível justificá-los adequadamente, como fica a resposta para essa pergunta?
Muitos apelam à empatia ou à cooperação como um sistema moral opcional, mas será que tais recursos são válidos? Vejamos: se você tem algumas propriedades acidentais instanciadas no cérebro (empatia) que te faz não gostar do ato, logo isso significa que o ato é errado? Obviamente, não. Voltamos ao subjetivismo moral. Nesse contexto, nós apenas não gostamos do ato subjetivamente, mas ele não é de fato errado. Até mesmo se todas as pessoas do mundo tivessem a mesma experiência empática para com um mesmo ser, ainda assim, o ato não seria errado e tampouco mau, pois estaria, da mesma forma, sujeito à subjetividade. Nesse cenário, nós apenas projetamos nosso estado mental em um ato indiferente. Além disso, a empatia não serve como moralidade porque não trata da ontologia de valores, mas sim do reconhecimento dos mesmos. A empatia é importante para a ignição da ação moral, mas não diz sobre como valorá-la. Ainda assim, ela parece apenas empurrar a questão ontológica para um ponto anterior: qual o fundamento da empatia? Notem ainda que ela não está presente em boa parte das espécies animais, seja em função da competição oriunda da seleção natural ou por limitações neurofisiológicas, que por sua vez, desempenham um importante papel na sobrevivência das espécies.
A empatia não está presente sequer entre espécies de macacos menores, onde se pensava que era unanimidade. Com relação à cooperação, a mesma, enquanto aplicada à natureza, visa estritamente à sobrevivência. Em contrapartida, o sacrifício heroico, prática esta exaltada e louvada por nós, visa justamente o contrário. É, portanto, logicamente inconcebível concluir que o último é resultado do primeiro. Não é preciso sequer estruturar analogicamente essa afirmativa para provar que é falsa, haja vista que valores morais objetivos não têm como propósito a sobrevivência, mas sim sua própria natureza. Conclui-se, portanto, que a única saída lógica para o ateu é abraçar o fato de que não há como justificar a existência de valores e deveres morais objetivos em sua cosmovisão, implicando que o certo e errado, assim como o bem e mal são fundamentados nos gostos e opiniões humanas. Esta implicação os aproxima demasiadamente do Niilismo, que, por sua vez, mediante a conclusão que nos foi aqui apresentada, parece ser a consequência final do ateísmo.
Como um último suspiro, alguns ateus, tentando desesperadamente escapar da inquietante indiferença do subjetivismo moral, tendem a objetificar máximas e redefinir os conceitos de bem e mal para, então, concluírem que a existência dos mesmos faz algum sentido na cosmovisão naturalista, algo como: "o mal é tudo aquilo que atrapalha a sobrevivência e bem é tudo aquilo que ajuda a sobreviver". Ou ainda: "não faça com os outros aquilo que não quer que façam com você", conceito este que nos lembra muito o Imperativo Categórico Kantiano. Se colocarmos, no entanto, esse conceito de mal em uma analogia apropriada, o erro fica em evidência: imagine-se em um jogo de xadrez onde você é o Rei. Se você fez uma jogada contra a sua própria sobrevivência, logo você é uma pessoa má? Obviamente, isso não faz nenhum sentido. Você fez apenas uma jogada desvantajosa para a sua sobrevivência, essa é a definição correta. Ainda assim, toda essa redefinição de conceitos não passa de uma confusão entre semântica moral e ontologia moral. A semântica moral tem a ver com o significado dos termos morais como "bom" e "certo". O que estamos fazendo aqui, no entanto, é justamente oferecer um fundamento para a existência de valores morais, ou seja, ontologia moral.
A dissociação é muito importante, haja vista que alguns ateus
insistem em realizar modificações semânticas indiscriminadas ao
definirem, a título de exemplo, "bom" como sendo "o bem-estar das
criaturas conscientes." O problema é que não podemos redefinir termos ao nosso bel-prazer e torná-lo objetivos. A redefinição de conceitos é, em conclusão, uma tática arbitrária e idiossincrática, mas comumente utilizada em debates como recurso para escapar das consequências desagradáveis do subjetivismo moral. Ainda assim, por que deveríamos considerar como uma norma ética tais máximas ao invés de “o mais forte sobrevive” ou "faça aquilo que te dá prazer"? Notem que a última soa particularmente agradável aos ouvidos dos psicopatas e sádicos.
Em seguimento, na ausência de um fundamento adequado para o fundamento normativo das máximas levantadas, devemos concluir que absolutamente nada te obriga a não prejudicar as pessoas. Na natureza, quando dois grupos de animais competem em um mesmo ambiente, eles podem “prejudicar” ao outro, mas perceba que isso, na realidade, não é moralmente ruim, mas apenas uma questão de sobrevivência pessoal. Na cosmovisão ateísta, este mesmo exemplo se aplica à sociedade. Nós poderíamos prejudicar uns aos outros, e isso não seria de forma alguma maldade, mas apenas uma simples questão de sobrevivência ou gosto pessoal.
O darwinismo social (deturpação da teoria da evolução) nos diz que os mais "adaptáveis" tendem a sobreviver, enquanto os menos capazes morrem. Na visão de Hitler, um ávido darwinista social, os judeus eram esses
menos capazes, inclusive ele não só matava judeus mas também foi um dos
primeiros governantes a incentivar abertamente a eutanásia e morte de incapazes e deficientes. Se perguntarmos a um subjetivista moral "por que é errado matar uma
criança de três anos?" a resposta mais racional que iríamos obter é: "porque
a sociedade assim decidiu". Isso acontece porque simplesmente não há justificativa melhor do que essa. Embora muitos neo-ateus antirreligiosos não deem o braço a torcer, preservam em si o
senso de moralidade (ironicamente moldado pela formação cristã da civilização ocidental), mesmo que não reconheçam. Isso acontece porque a experiência moral é comum a todos os seres humanos, independentemente da crença em Deus.
Moralidade Objetiva
Através da nossa experiência moral, entendemos que, diante de determinadas situações, sempre emerge de dentro de todos nós, vindos de qualquer cultura, o sentimento de certo e errado. Até mesmo um ladrão se sente frustrado e maltratado quando alguém o rouba. Se alguém rapta uma criança da família e a violenta sexualmente, há uma revolta coletiva e raiva que confrontam aquele ato como abominável, independente da cultura. De onde vem essa noção de certo e errado? Como explicamos uma lei universal na consciência de todas as pessoas de diversas culturas dispostas no espaço e diversificadas no tempo, que diz que assassinato por diversão é errado? De onde surgem valores como coragem, morrer por uma causa, amar, ter dignidade, dever e compaixão, perceptíveis em toda e qualquer cultura, mesmo que interpretados de formas distintas? De onde surge a noção interna de que há um certo a ser feito e um errado a ser evitado? De onde herdamos essa noção interior de certo, errado, bem e mal? A resposta mais racional é que a nossa consciência é fundamentada em um legislador moral externo. Dessa forma, fica evidente que a moralidade objetiva não depende da religião ou da crença em Deus, mas sim da existência do próprio legislador moral, na condição de parâmetro para nossos juízos de valor e ações. A partir deste raciocínio, podemos concluir que ateus também podem ser bons e morais, pois os valores são intrínsecos e inteligíveis a todo e qualquer ser humano.
Os filósofos, ao refletirem sobre nossa experiência moral, não veem razões para desconfiar dessa experiência mais do que veem para a experiência dos nossos cinco sentidos. Acredito naquilo que meus cinco sentidos me dizem, ou seja, que existe um mundo de objetos físicos à minha volta. Meus sentidos não são infalíveis, mas isso não me leva a pensar que não haja um mundo exterior à minha volta. Do mesmo modo, na ausência de alguma razão para desconfiar de minha experiência moral, devo aceitar o que ela me diz, isto é, que algumas coisas são objetivamente boas ou más, certas ou erradas. Então, de onde é que os ateus retiram os conceitos do justo e injusto, certo e errado, bem e mal visto que, para eles, não existe moralidade objetiva?
(1) Um homem não
qualifica uma linha torta de “torta” a não ser que ele tenha uma ideia do que
uma linha reta é. Com o quê é que alguém compara o Universo quando o próprio o
qualifica como sendo “injusto”? Se tudo o que aconteceu desde o princípio foi
mau e injusto, como é que o ateu, que supostamente faz parte do espetáculo,
encontra-se na posição de rebeldia contra a situação? Um homem sente-se molhado
quando cai na água porque ele não é um animal aquático: um peixe nunca se
sentiria molhado. (C.S. Lewis)
(2) Claro que um ateu poderia, certamente, ter abandonado a ideia de justiça afirmando que ela apenas era uma
ideia pessoal. Porém, se ele fizesse isso, o argumento contra Deus entraria em colapso, uma vez que o argumento depende do fato de o mundo ser de fato injusto
e não simplesmente que ele não agrada suas preferências pessoais.
(3) Portanto,
durante o ato em tentar provar que Deus não existe – em outras palavras, que não há um sentido real no universo – o ateu é
forçado a assumir que uma parte da realidade – nomeadamente, sua concepção de
justiça – fazia sentido. Consequentemente o ateísmo revela-se muito simples.
(4) Se o universo
não tem um propósito, nós nunca haveríamos de saber que ele não tem propósito ou
sentido: do mesmo modo que se não existisse luz no universo, e portanto não
houvesse criaturas com olhos, nós nunca saberíamos que ele estava escuro. A
palavra “escuro” não faria sentido.
(5) Quando o ateu
usa o argumento do “mal”, ele, inconsequentemente, assume coisas que contradizem diretamente o que ele
tenta provar com esse mesmo argumento. Ele simplesmente revela ter um determinado conhecimento que vai para além do mundo em que vivemos.
(6) O argumento do
mal assume muitas coisas, uma delas sendo que o ser humano não foi feito para
viver com o que o ateu qualifica de “mal”. No entanto, de onde vem essa crença? Se a
morte, violência, assassinatos, violações, pedofilia, terremotos e outras
coisas mais sempre fizeram parte da existência humana, de onde é que vem o
conhecimento de que essas coisas são intrinsecamente más? Com o quê um ateu as
compara? Existe algum padrão moral absoluto na qual o ateu qualifica comportamentos e eventos? Houve alguma altura em
que o homem não sofreu? Será que há uma versão ateísta do Jardim do Éden?
(7) Quer
o ateu aceite ou não, a conclusão lógica pela qual o ateu sabe que
isto está errado é devido a existência de um parâmetro moral objetivo. Portanto, existem, de fato, valores objetivos.
Para resumir, temos que:
(1) Se um legislador moral não existe, valores morais objetivos não existem.
(2) Valores morais objetivos existem.
(3) Logo, um legislador moral existe.
Em suma, bases meta-éticas parecem ser necessárias para moralidade. Se um legislador moral não existe, então é plausível crer que não há valores morais objetivos, que não temos obrigações morais, e não existe responsabilidade moral pela maneira que vivemos e agimos. O horror de tal mundo moralmente neutro, no entanto, é óbvio. Se, por outro lado, cremos, como isso parece ser racional, que responsabilidades e valores morais objetivos existem, então temos bons fundamentos para crer na existência de um legislador moral. Em adição, temos razões poderosas para adotar o teísmo em vista dos efeitos moralmente fortificantes que a crença na responsabilidade moral produz. Logo, não podemos ser realmente bons sem a existência de um legislador moral, na condição de fonte dos valores, mas se podemos ser bons de alguma forma, como nossa experiência moral atesta, então segue-se que um legislador moral existe.
O que torna esse argumento tão cativante não é só o fato de ser logicamente válido, mas também que, de modo geral, as pessoas acreditam nas duas premissas. Numa era pluralista e pós-moderna, os indivíduos têm medo de impor seus valores aos outros. Assim, a Premissa 1 parece-lhes correta. Eles acreditam que valores e deveres morais não são objetivas (ou seja, válidas e obrigatórias, a despeito da opinião humana), mas são opiniões meramente subjetivas ou imbuídas em nós pela evolução biológica e pelo condicionamento social. Ao mesmo tempo, porém, acreditam profundamente que certos valores e deveres morais como tolerância, mente aberta e amor são objetivamente válidos. Assim, inconscientemente ou não, estão profundamente envolvidos também com a Premissa 2. Logo, se atestam a veracidade das premissas 1 e 2, a conclusão é inevitável. Um legislador moral deve existir.
Para resumir, temos que:
(1) Se um legislador moral não existe, valores morais objetivos não existem.
(2) Valores morais objetivos existem.
(3) Logo, um legislador moral existe.
Em suma, bases meta-éticas parecem ser necessárias para moralidade. Se um legislador moral não existe, então é plausível crer que não há valores morais objetivos, que não temos obrigações morais, e não existe responsabilidade moral pela maneira que vivemos e agimos. O horror de tal mundo moralmente neutro, no entanto, é óbvio. Se, por outro lado, cremos, como isso parece ser racional, que responsabilidades e valores morais objetivos existem, então temos bons fundamentos para crer na existência de um legislador moral. Em adição, temos razões poderosas para adotar o teísmo em vista dos efeitos moralmente fortificantes que a crença na responsabilidade moral produz. Logo, não podemos ser realmente bons sem a existência de um legislador moral, na condição de fonte dos valores, mas se podemos ser bons de alguma forma, como nossa experiência moral atesta, então segue-se que um legislador moral existe.
O que torna esse argumento tão cativante não é só o fato de ser logicamente válido, mas também que, de modo geral, as pessoas acreditam nas duas premissas. Numa era pluralista e pós-moderna, os indivíduos têm medo de impor seus valores aos outros. Assim, a Premissa 1 parece-lhes correta. Eles acreditam que valores e deveres morais não são objetivas (ou seja, válidas e obrigatórias, a despeito da opinião humana), mas são opiniões meramente subjetivas ou imbuídas em nós pela evolução biológica e pelo condicionamento social. Ao mesmo tempo, porém, acreditam profundamente que certos valores e deveres morais como tolerância, mente aberta e amor são objetivamente válidos. Assim, inconscientemente ou não, estão profundamente envolvidos também com a Premissa 2. Logo, se atestam a veracidade das premissas 1 e 2, a conclusão é inevitável. Um legislador moral deve existir.
O mal como evidência da existência de um legislador moral
Uma forma bem eficiente através da qual nós podemos ver que muitos ateus, inconscientemente, admitem que um legislador moral existe são as suas constantes alusões ao “problema do mal”. O que eles falham em perceber, no entanto, é que não há como sustentar a existência do bem ou do mal no naturalismo, portanto, não há o que se falar acerca de bondade ou maldade. Se Deus não existe, logo não há um padrão objetivo que sirva de modelo comportamental, e, como tal, o ateu
não tem argumento nem forma de classificar situações e comportamentos como
“maus”, senão pelo gosto ou opinião pessoal. Assim como é difícil para qualquer pessoa negar a existência objetiva do bem e do mal, assim também o é para um ateu. Logo, como uma tentativa de fuga, ele apela a uma lei moral
absoluta, embora se tente convencer de que o Criador dessa mesma lei não
existe. O mal torna-se, portanto, uma prova da existência de um legislador moral. No entanto, o que é o mal? Segundo o filósofo Dr. William Lane Craig, o mal pode ser definido no seguinte argumento lógico-estrutural:
(1) O mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser.
(2) Se o mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser, logo há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser.
(3) Se há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser, logo há um padrão objetivo e transcendental que determina como as coisas deveriam ser.
À luz das premissas, podemos concluir que o mal não só se coloca a favor da existência de um legislador moral, como também parece ser a única saída lógica para explicar sua própria existência. Após análise dos pontos, conclui-se que não só é o caso que a existência de valores morais objetivos depende da existência de Deus, como também é o caso que tais valores morais objetivos existem, donde segue-se que Deus precisa existir. Desta forma, diante da relação ontológica existente entre a objetividade dos valores morais e do constante testemunho da existência destes valores através da experiência pessoal acessível a todo e qualquer ser humano, tem-se um argumento válido para a existência de Deus: a existência concreta da moralidade objetiva. Entretanto, por que a maioria dos ateus é tão moralista? Por que os ateus criticam pastores ladrões e padres pedófilos, por exemplo? Por que os ateus fazem distinção entre alimentar um faminto e queimar uma criança? O que os faz pensar que realmente existe uma moral objetiva? Como relativizar os valores morais frente a algumas coisas que, mediante a nossa capacidade intuitiva, sabemos que são realmente más, tais como o estupro, a tortura de bebês, o abuso sexual infantil, o ódio e a crueldade? Percebam que ao se portarem como moralistas e afirmarem que determinados valores como pedofilia e roubo são errados, eles estão, inconscientemente, afirmando a existência de valores morais objetivos.
(1) O mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser.
(2) Se o mal é um desvio do modo pelo qual as coisas deveriam ser, logo há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser.
(3) Se há uma maneira pela qual as coisas deveriam ser, logo há um padrão objetivo e transcendental que determina como as coisas deveriam ser.
À luz das premissas, podemos concluir que o mal não só se coloca a favor da existência de um legislador moral, como também parece ser a única saída lógica para explicar sua própria existência. Após análise dos pontos, conclui-se que não só é o caso que a existência de valores morais objetivos depende da existência de Deus, como também é o caso que tais valores morais objetivos existem, donde segue-se que Deus precisa existir. Desta forma, diante da relação ontológica existente entre a objetividade dos valores morais e do constante testemunho da existência destes valores através da experiência pessoal acessível a todo e qualquer ser humano, tem-se um argumento válido para a existência de Deus: a existência concreta da moralidade objetiva. Entretanto, por que a maioria dos ateus é tão moralista? Por que os ateus criticam pastores ladrões e padres pedófilos, por exemplo? Por que os ateus fazem distinção entre alimentar um faminto e queimar uma criança? O que os faz pensar que realmente existe uma moral objetiva? Como relativizar os valores morais frente a algumas coisas que, mediante a nossa capacidade intuitiva, sabemos que são realmente más, tais como o estupro, a tortura de bebês, o abuso sexual infantil, o ódio e a crueldade? Percebam que ao se portarem como moralistas e afirmarem que determinados valores como pedofilia e roubo são errados, eles estão, inconscientemente, afirmando a existência de valores morais objetivos.
Moralidade e Cultura
Ainda que existam divergências com relação à aplicação dos valores morais em diversas culturas, os mesmos são universais. Deve-se ressaltar, no entanto, que a discussão aqui é sobre valores morais objetivos, e não sobre a interpretação desses valores. Em toda e qualquer cultura, o heroísmo, o altruísmo, a liberdade e a justiça são objetivados e exaltados, isto é, esses valores são válidos em toda e qualquer parte do universo, sendo, em função disso, universais. As culturas que praticam o infanticídio, a título de exemplo, o fazem a fim de garantir a sobrevivência da tribo e, por vezes, expressa através da cosmogonia. Mães amorosas são muitas vezes forçadas pela tradição cultural a trair seus instintos e desistir de suas crianças. Algumas preferem se suicidar a fazer isso. Outras têm que conviver com a dor e o remorso pelo resto da vida. Em alguns casos, as mães lutam pela vida de seus filhos enquanto podem, e são obrigadas a viverem excluídas da sociedade ou a se refugiar fora da sua comunidade. O que percebemos aqui? A presença de valores em comum: Heroísmo , altruísmo e sacrifício expostos das mais variadas formas. Portanto, é evidente que o que muda de sociedade em sociedade é a interpretação sobre eles, e não os valores em si. Confundir comportamento com valor é um erro muito comum. Basicamente, trata-se de uma confusão entre aquilo que é com o que deveria ser. O que pessoas fazem pode mudar, mas o que deveriam fazer, não. Eis abaixo alguns exemplos:
(1) Um indivíduo pró aborto é a favor de tal posição porque considera um direito da mulher, já um conservador é contra o ato pois considera assassinato. Perceba que eles discordam acerca do que é considerado assassinato, mas não se assassinato é ou não é errado.
(2) Um indivíduo a favor da pena de morte considera tal ato como justiça, já um indivíduo contra a pena capital considera que é injusto. Observe que eles discordam acerca do que é justiça e não se devem ou não ser justos.
À luz dos exemplos acima, nos fica evidente que a justiça é, de fato, um valor objetivo e universal, atestado pela nossa experiência moral. É estritamente necessário observar que quaisquer objeções que tratem de interpretações morais, não apenas perdem o sentido do argumento como também cometem uma falácia non sequitur ao alegar que, porque as diferentes sociedades não chegaram a realizar os mesmos atos de valores morais, então estes não existem. Ainda assim, a possibilidade de uma moral subjetiva em nada responde ao argumento, pois ela não tira a insignificância ainda presente no subjetivismo da moralidade numa cosmovisão ateísta. Em tempo: a validade moral de uma ação é totalmente indiferente ao número de pessoas que concordam sobre se ela é moralmente boa ou má, bem como uma ação não recebe um valor moral objetivo porque um número grande de indivíduos, mesmo que todos os indivíduos existentes em todo o universo, venha a concordar sobre o valor moral que tal ação tem. Dessa forma, mesmo que a humanidade inteira concordasse que, por exemplo, o estupro é algo ruim, e um único indivíduo se prostrasse de forma contrária a essa resolução, alegando ser o estupro algo bom, de modo algum a primeira estaria correta (e tampouco teria o direito) de julgar tal indivíduo como estando errado ou sofrendo de algum problema mental, pois a moralidade continuaria sendo puramente subjetiva, ou seja, uma mera opinião da sociedade. Da mesma maneira, se toda a humanidade, sem nenhuma exceção, viesse a concordar que o estupro é algo ruim, isso não tornaria tal ação ruim: continuaria a ser algo totalmente subjetivo e, uma vez que a humanidade tomasse isso como verdadeiro, tal ação apenas constituiria numa auto-ilusão.
A moralidade biológica, o determinismo e o naturalismo
Como já vimos anteriormente, os naturalistas tendem a pensar que não existe nada além da matéria. Em outras palavras, nossa mente seria apenas um subproduto natural do acaso. Mas se as leis da natureza, na cosmovisão em questão, possuem caráter prescritivo, isto é, guiam o mundo natural, logo, como consequência lógica, tornam-se pré-determinantes. Isto é, todo o efeito (leis da natureza) está presente por completo na causa (universo), o que configura um determinismo de caráter inconsciente e mecanicista, ou seja, a determinação é colocada no passado, em uma sucessão de causas que tem sua explicação no início do universo. Logo, se nossas mentes são produtos da evolução biológica, que por sua vez, é subordinada às leis da natureza, não temos livre-arbítrio. Dessa forma, nós não teríamos igualmente o controle dos nossos próprios pensamentos, tornando-nos prisioneiros da determinação físico-biológica. Entretanto, se temos a liberdade de nos questionar sobre a origem do Universo, segue-se que não há determinação alguma, e se não há determinação, segue-se que o naturalismo é falso. Não obstante, se a moralidade for analisada nessa mesma perspectiva naturalista, o problema pode ser igualmente evidenciado:
Se o naturalismo é verdadeiro, então eu não posso ser moralmente louvável ou censurável por nenhuma de minhas ações, pois valores e deveres morais objetivos não existem. Porém, eu sou moralmente louvável ou censurável por minhas ações. Se você pensar que alguma vez fez algo verdadeiramente errado ou correto, bom ou mau, logo, devemos concluir, igualmente, que o naturalismo não é verdadeiro. Ainda assim, a alegação da moral biológica viola a lei básica de toda a ciência: a lei da causalidade. Ela coloca mais no efeito do que na causa, dizendo-nos que a moralidade surgiu da amoralidade. O naturalismo metodológico científico, no entanto, não possui a capacidade de explicar nada sobre como ou porque a mente funciona, mas apenas o que acontece durante o funcionamento. Se os elementos materiais fossem os únicos responsáveis pela moralidade, logo, psicopatas como Hitler não teriam verdadeira responsabilidade moral pelo que fizeram, pois eles apenas tinham algumas propriedades biológicas substanciais instauradas em seus cérebros sujeitas às leis determinantes da natureza. Ainda à luz da biologia, alguns naturalistas tendem a dizer que a moralidade como um todo é produto da evolução, porém, inferir que, em virtude de a evolução nos ter programado a acreditar em certos valores, esses valores não são objetivos, incorre em uma falácia lógica. O filósofo americano Dr. William Lane Craig apresenta um artigo contra Michael Ruse em um debate:
"O raciocínio de Ruse é, na pior das hipóteses, um exemplo de falácia genética num livro escolar, e, na melhor das hipóteses, só prova que a nossa percepção subjetiva de valores morais é fruto da evolução. Mas, se os valores morais forem descobertos gradualmente, não inventados, então essa apreensão gradual e falível do universo moral mina a realidade objetiva desse âmbito, tanto quanto a nossa percepção gradual e falível do mundo físico mina a objetividade desse outro âmbito."
W.L. Craig
A falácia genética é implícita sempre que um indivíduo procura invalidar uma visão explicando como tal visão se originou ou passou a ser adotada. As pessoas cometem essa falácia, por exemplo, quando rejeitam a sua crença na democracia dizendo: “você só acredita nela porque nasceu numa sociedade democrática.” Essa pode ser, de fato, a razão por que você acredita num governo democrático, mas isso por si só não serve de nada para provar que a sua crença é falsa. Ou ainda: “você crê que a terra é redonda só porque nasceu numa era científica!”. Desta forma, é evidente que a afirmação não torna falsa a crença na forma da Terra. Tomemos como um outro exemplo, a beleza como valor estético: consideremos que a evolução programou os homens para enxergarem as mulheres jovens como mais bonitas do que as mulheres idosas por causa da vantagem seletiva para a espécie de acasalar com mulheres mais jovens. Será que isso serve de algum modo para provar que as mulheres mais jovens são realmente mais bonitas fisicamente que as mulheres idosas, que não existe diferença objetiva entre beleza e feiura? Obviamente, não. Valores estéticos objetivos podem existir a despeito de como passamos a apreendê-los. Além da falácia genética, quando se tenta fundamentar a existência de valores morais no naturalismo, quer seja em processos neurológicos ou evolutivos, inconscientemente, pressupõe-se que o naturalismo seja verdadeiro, logo, incorre-se em petição de princípio. Em síntese, subentende-se que o naturalismo seja verdadeiro e que os valores morais são meros produtos naturais.
Não obstante, em função de alegações do tipo "nossos valores morais são produtos da evolução biológica", faz-se estritamente necessário ressaltar que o argumento aqui utilizado para evidenciar a existência de valores objetivos diz respeito à ontologia da moralidade, e não à questão epistemológica, que por sua vez, diz respeito ao vir a conhecer quais são estes valores morais. A afirmação de que os valores e deveres morais são fundamentados em Deus é uma afirmação Meta-ética sobre Ontologia Moral, não sobre Linguística Moral ou Epistemologia. É fundamentalmente uma afirmação sobre o status objetivo de propriedades morais, e não uma afirmação sobre o significado de frases morais ou sobre justificação ou conhecimento de princípios morais. É importante ressaltar igualmente que afirmar os fundamentos ontológicos de valores e deveres objetivos morais em Deus não diz nada sobre como nós viemos a conhecer esses valores e deveres. O modo como nós viemos a conhecer nossos valores e deveres morais, por outro lado, é uma questão de epistemologia moral e é, portanto, irrelevante ao propósito do texto. Devemos, portanto, ter o cuidado de dissociar epistemologia moral de ontologia moral quando tratamos da origem e dos fundamentos dos valores morais. Nós não precisamos conhecer ou até mesmo acreditar que Deus existe a fim de discernir valores morais objetivos ou reconhecer nossos deveres morais. Afirmar os fundamentos ontológicos de valores e deveres objetivos morais em Deus da mesma forma não diz nada sobre como nós viemos a conhecer esses valores e deveres. O teísta pode e deve estar genuinamente aberto a quaisquer teorias epistemológicas que seu oponente secular propuser de como viemos a conhecer valores e deveres objetivos.
Insistentemente, alguns naturalistas costumam dizer que que a Lei Moral é uma simples consequência das pressões evolucionárias na forma de altruísmo. Essa objeção surge no campo da sociobiologia e tenta fornecer explicações naturalistas para o comportamento altruísta com base no valor positivo da seleção natural. Além de incorrer mais uma vez em falácia genética, reduzimos ao absurdo a moralidade humana. Ao interpretarmos a lei moral desta forma, inevitavelmente, enfrentaríamos um problema em potencial. O que é, à priori, o altruísmo? O impulso altruísta é simplesmente a voz da consciência nos chamando a ajudar o próximo, mesmo sem receber nada em troca. É importante ressaltar, no entanto, que nem todas as exigências da lei moral se resumem ao altruísmo, é claro. O inexplicável peso na consciência que alguém sente após uma mínima distorção dos fatos na declaração de imposto de renda não pode ser atribuído à sensação de ter prejudicado um ser humano identificável. Em tempo, o altruísmo não deve ser entendido como um comportamento do tipo "uma mão lava a outra", ou seja, praticar a bondade esperando algum benefício em troca. O altruísmo está um grau acima: dar-se sem egoísmo aos outros, com sinceridade, sem nenhuma intenção secundária. Quando observamos, no dia-a-dia, a demonstração desse tipo de amor e generosidade, ficamos dominados por surpresa e respeito profundo. Oskar Schindler, a título de exemplo, colocou sua vida em grande risco para proteger mais de mil judeus do extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial e, por fim, morreu pobre. Todos nós sentimos uma grande admiração por seus atos. Algumas vezes, o altruísmo pode ampliar-se até para circunstâncias em que a pessoa beneficiada pareceria um inimigo visceral. No notório exemplo contido na obra do Dr. Francis Collins - A linguagem de Deus -, a freira beneditina irmã Joan Chittister narra a seguinte história sufi:
Era uma vez uma idosa que costumava meditar às margens do Ganges. Certa manhã, ao encerrar sua meditação, ela avistou um escorpião flutuando indefeso na forte correnteza. À medida que era arrastado para mais perto, prendeu-se nas raízes que se ramificavam para dentro do rio. O escorpião lutava freneticamente para se libertar, mas cada vez ficava mais emaranhado. Imediatamente a senhora aproximou- se do escorpião que se afogava e este, assim que ela o tocou, cravou-lhe seu ferrão. A mulher afastou a mão, mas, após ter recobrado o equilíbrio, tentou de novo salvar a criatura. Todas as vezes que ela tentava, porém, o ferrão na cauda do animal a atingia com tamanha gravidade que suas mãos sangravam e seu rosto distorcia-se de dor. Um transeunte que via a idosa lutando com o escorpião gritou para ela:
— Qual o seu problema, sua tola? Quer se matar tentando salvar essa coisa feia?
Olhando nos olhos do estranho, ela retrucou:
— Só porque é da natureza do escorpião ferroar, por que eu deveria negar minha própria natureza de salvá-lo?
Sufi é como é conhecido o adepto do sufismo, forma de ascetismo e misticismo islâmico, influenciada pelo hinduísmo, pelo budismo e pelo cristianismo. Talvez, esse pareça um exemplo drástico, pois não há muitos dentre nós que arriscariam a vida para salvar um escorpião. No entanto, não é disso que se trata. Não é o fazer, mas sim o entender acerca do certo e do errado. A maioria das pessoas, sem dúvida, já experimentou um chamado interno para ajudar um estranho em necessidade, mesmo sem nenhuma possível vantagem pessoal. E, se de fato agiu guiada por esse impulso, teve como consequência uma sensação confortável de "ter feito a coisa certa". C. S. Lewis, em seu destacado livro Os Quatro Amores, explora ainda mais a natureza desse amor generoso, que ele chama de "ágape", palavra derivada do grego. O autor ressalta que essa forma de amor se distingue das outras três (afeto, amizade e amor romântico), podendo ser mais bem compreendida como vantagem recíproca, e que podemos vê-la destacada em outros animais além de nós. A ágape, ou o altruísmo, desta forma, apresenta-se como um importante desafio aos evolucionistas. Trata-se, basicamente, de um escândalo para o raciocínio reducionista. Não pode ser responsabilizado pelo impulso de se perpetuar dos genes egoístas do indivíduo. Muito pelo contrário: pode levar os seres humanos a realizar sacrifícios que trarão sofrimento pessoal, ferimento ou morte, sem prova alguma de benefício. E, contudo, se examinarmos com cuidado aquela voz interior que às vezes chamamos de consciência, perceberemos que a motivação para a prática desse tipo de comportamento existe objetivamente dentro de todos nós, apesar de nossos esforços frequentes para ignorá-la.
Todavia, sociobiólogos tentaram explicar, sem sucesso, esse comportamento com base em algum benefício reprodutivo indireto para o praticante da ação altruísta. Os argumentos, contudo, rapidamente se tornam um problema. Uma suposição é de que os repetidos comportamentos altruístas de um indivíduo são reconhecidos como atributo positivo na seleção do companheiro. Tal hipótese, entretanto, entra em conflito direto com observações feitas em primatas não-humanos que, em geral, mostram o oposto, como, por exemplo, a prática do infanticídio por um macaco recém-dominante para limpar o caminho a sua futura ninhada. Um outro argumento naturalista é o de que benefícios recíprocos indiretos, oriundos do altruísmo, proporcionaram vantagens ao praticante durante o período da evolução, no entanto, essa explicação não leva em conta a motivação do ser humano para praticar pequenos atos de consciência a respeito dos quais ninguém mais sabe. Um terceiro argumento naturalista é o de que o comportamento altruísta entre membros de um grupo beneficia o grupo todo. Como exemplos temos os formigueiros, nos quais operárias estéreis trabalham de maneira árdua e incessante para criar um ambiente onde suas mães possam gerar mais filhos.
Esse tipo de altruísmo das formigas, contudo, é prontamente explicado em termos evolucionários pelo fato de que os genes que incentivam as formigas operárias estéreis, são exatamente os mesmos que serão transmitidos pela mãe aos irmãos e irmãs que aquelas estão ajudando a criar. Em suma, trata-se de cooperação em função da perpetuação da espécie. Os evolucionistas agora concordam, quase unânimes, que essas conexões de DNA incomuns não se aplicam a populações mais complexas, nas quais a seleção trabalha no indivíduo, não na população. O comportamento limitado da formiga operária, portanto, apresenta uma diferença essencial com relação à voz interior que faz com que eu me sinta compelido a saltar no rio para tentar salvar um estranho que está se afogando, mesmo que eu não seja um bom nadador e possa morrer na tentativa. Além disso, para que o argumento evolucionário referente a benefícios grupais de altruísmo se mantivesse, seria necessária, aparentemente, uma reação oposta, ou seja, a hostilidade a indivíduos que não fizessem parte do grupo, a competição. A ágape de Oskar Schindler distorce completamente esse tipo de raciocínio. A lei moral nos diz que é certo que salvemos alguém que está se afogando, mesmo que seja um inimigo. Por fim, se a Lei da Natureza Humana não pode ser explicada sem hesitação como uma ferramenta cultural ou um produto indireto da evolução naturalista, como, então, podemos justificar sua presença? C.S Lewis responde:
"Se houve um poder controlador fora do universo, este não poderia apresentar- se a nós como um dos fatos que fazem parte do universo — assim como o arquiteto de uma casa não é, de fato, uma das paredes, ou a escada,ou a lareira dessa casa. A única maneira pela qual podemos esperar que ele se mostre é dentro de nós, como uma influência ou um comando tentando fazer com que nos comportemos de determinado modo. E é isso que encontramos dentro de nós. Sem dúvida, isso não deveria levantar suspeitas?"
C.S Lewis
Acerca do naturalismo, que este encontra-se em uma grande dificuldade filosófica é um fato, e o é em diversos aspectos. Segundo alguns filósofos, não temos razão suficiente para pensarmos que a evolução apoia de alguma maneira o naturalismo. Alvin Plantinga vai além, afirmando que a evolução e o naturalismo são logicamente inconsistentes. Em outras palavras, não se pode racionalmente aceitar ambos. O problema, como muitos pensadores (C.S. Lewis, por exemplo) têm visto, é que o naturalismo parece nos conduzir a um ceticismo fundo e penetrante. Ele nos leva, inevitavelmente, à conclusão de que nossa cognição ou faculdades produtoras de crenças – memória, percepção, insight lógico, etc. – são duvidosas e não se pode confiar nelas para produzir uma preponderância de crenças verdadeiras sobre crenças falsas. Ora, pois, o próprio Darwin teve preocupações com esses assuntos:
“Comigo”, diz Darwin, “a dúvida horrível sempre surge se as convicções da mente do homem, as quais têm sido desenvolvidas da mente de animais inferiores, são de qualquer valor ou dignas de confiança. Poderia qualquer um confiar nas convicções da mente de um macaco, se houvesse qualquer convicção em tal mente?”
Charles Darwin
Claramente, esta dúvida surge para os naturalistas, mas não para aqueles que acreditam em um Ser criador. Isto porque se Deus nos criou à sua imagem, então, mesmo que ele tenha nos moldado por meios evolucionários, ele presumivelmente queria que nós parecêssemos com ele na capacidade de conhecer a verdade, mas então a maior parte do que nós acreditamos pode ser verdade mesmo que nossas mentes tenham se desenvolvido a partir daquelas dos animais inferiores. Por outro lado, há um problema real aqui para o naturalista evolucionista. Se nós, seres humanos, somos objetos materiais, com nenhuma alma imaterial ou espiritual, logo, somos apenas nossos corpos, ou talvez algumas partes dos nossos corpos, tais como o nosso sistema nervoso, ou cérebros, ou talvez parte de nossos cérebros (o hemisfério direito ou esquerdo, por exemplo) ou talvez alguma parte ainda menor. Para fins argumentativos, vamos pensar no naturalismo como incluindo o materialismo. De acordo com os materialistas, crenças, juntamente com o resto da vida mental, são causadas ou determinadas pela neurofisiologia, pelo que acontece no cérebro e no sistema nervoso. A neurofisiologia, além disso, também causa o comportamento. De acordo com a história habitual, sinais elétricos seguem via nervos dos órgãos sensoriais até o cérebro. Lá, alguns processos continuam: impulsos elétricos vão via nervos eferentes do cérebro para outros órgãos incluindo músculos; em resposta a estes sinais, certos músculos se contraem, assim causando movimento e comportamento.
Agora, o que a evolução nos diz (supondo que nos diz a verdade) é que nosso comportamento (talvez mais exatamente o comportamento de nossos ancestrais) é adaptativo; desde que os membros de nossa espécie têm sobrevivido e se reproduzido, o comportamento de nossos ancestrais foi conduzido, no seu meio, à sobrevivência e à reprodução. Portanto, a neurofisiologia que causou este comportamento era também adaptativa; nós podemos sensatamente inferir que permanece adaptativa. O que a evolução nos diz, portanto, é que nosso tipo de neurofisiologia promove ou causa comportamento adaptativo, o tipo de comportamento que resulta em sobrevivência e reprodução. Agora, esta mesma neurofisiologia, de acordo com o materialista, também pode causar crenças. Esse é o ponto: a seleção natural premia o comportamento adaptativo (premia-o com sobrevivência e reprodução) e penaliza comportamentos mal-adaptativos, ele não se importa nem um pouco a respeito da crença verdadeira. Como Francis Crick, o co-descobridor do código genético, escreve no livro The Astonishing Hypothesis:
“Nossos cérebros altamente desenvolvidos, consequentemente, não evoluíram sob a pressão da verdadeira descoberta científica, mas apenas nos possibilitam a ser sagazes o bastante para sobreviver e deixar descendentes”.
Francis Crick
Retomando este tema, a filósofa naturalista Patrícia Churchland declara que a coisa mais importante sobre o cérebro humano é que ele evoluiu; portanto, ela diz que a sua principal função é possibilitar ao organismo mover-se apropriadamente. Resumindo o essencial, o sistema nervoso possibilita o organismo ter êxito nos quatro aspectos: alimentação, fuga, luta e reprodução. O cerne principal do sistema nervoso é colocar as partes do corpo onde elas deveriam estar, a fim de que o organismo possa sobreviver. Melhoramentos no controle sensório-motor conferem uma vantagem evolucionária: um estilo imaginativo de representação é vantajoso na medida em que está engrenado no modo de vida do organismo e aumenta as suas chances de sobrevivência. Em síntese, a verdade, ou que quer que seja, definitivamente, não importa.
A seleção natural não se preocupa acerca da verdade ou da falsidade de suas crenças, mas preocupa-se apenas com o comportamento adaptativo. Suas crenças podem todas ser falsas - ridiculamente falsas. Se seu comportamento é adaptativo, você sobreviverá e reproduzirá. Considere um sapo sentado sobre uma vitória régia. Uma mosca o ignora; o sapo estende sua língua e a captura. Talvez a neurofisiologia que causa isto dessa maneira, também cause crenças. Até onde a sobrevivência e a reprodução sejam levadas em conta, isto não importará em absoluto o que essas crenças são: se a neurofisiologia adaptativa causa uma crença verdadeira (por exemplo, aquelas coisas pequenas e pretas são boas de comer), ótimo. Mas se causa uma crença falsa (por exemplo, se eu capturar a mosca correta, eu me transformarei em um príncipe), isto também está ótimo. De fato, a neurofisiologia em questão pode causar crenças que não tem nada a ver com as circunstâncias presentes da criatura (como no caso de nossos sonhos); enquanto a neurofisiologia causar comportamento adaptativo, isto também está ótimo. Tudo que realmente importa, no que diz respeito à sobrevivência é à reprodução, é que a neurofisiologia cause o tipo certo de comportamento; se ela também causa crença verdadeira (em vez de crença falsa) é irrelevante. Isso inclui, logicamente, crenças em valores e deveres morais, em Deus e no próprio naturalismo.
Agora, calculemos a probabilidade de que uma crença, nesse contexto, seja verdadeira. Bem, o que nós sabemos é que uma crença em questão é produzida pela neurofisiologia adaptativa, isto é, neurofisiologia que produz comportamento adaptativo. Mas como nós temos visto, isto não nos dá nenhuma razão para pensar que essa crença seja verdadeira (e nenhuma para pensar que seja falsa). Nós devemos supor, portanto, que a crença em questão tem tanta probabilidade de ser falsa quanto de ser verdadeira; a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira está perto de 1/2. Mas então, adicionamos aqui o fato de que é solidamente improvável que as faculdades cognitivas dessas criaturas produzam preponderantemente crenças verdadeiras sobre falsas conforme exigido pela confiabilidade. Se eu tenho 1.000 crenças independentes, por exemplo, e a probabilidade de qualquer crença particular ser verdadeira é 1/2, então a probabilidade de que 3/4 ou mais dessas crenças são verdadeiras (certamente uma exigência modesta o bastante para confiabilidade) será pouco menos do que 10(-58). E mesmo se eu estivesse trabalhando com um modesto sistema epistêmico de apenas 100 crenças, a probabilidade de que 3/4 delas sejam verdadeiras, dado que a probabilidade de qualquer um seja verdadeira é de 1/2, é muito baixa, alguma coisa como 0,000001. Então as chances de que as crenças verdadeiras dessas criaturas substancialmente sobrepujem suas falsas crenças (mesmo numa área particular) são pequenas. A conclusão retirada é que é extremamente improvável que suas faculdades cognitivas sejam confiáveis. A evolução, portanto, longe de sustentar o naturalismo, é incompatível com ele, nesse sentido que você não pode racionalmente acreditar em ambos.
Consequencialismo e Utilitarismo
O consequencialismo e o utilitarismo são duas correntes filosóficas praticamente idênticas, haja vista que ambas se pautam na consequência das ações. A grosso modo, estamos falando de sistemas éticos através dos quais podemos entender o que é moralmente correto e incorreto simplesmente em função de seus fins. Embora as duas visões tenham como foco a consequência das ações, o utilitarismo, doutrina esta teorizada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século XIX, difere do consequencialismo no sentido de que a atitude mais correta seria a que resulta no maior bem-estar ou prazer para o máximo de pessoas (hedonismo), ao passo que o primeiro se sustenta na premissa eudemonística de que é a felicidade quem possui valor intrínseco.
Muito influente nos séculos XIX e XX, o utilitarismo ganhou os corações de muitos pela roupagem "racional" e "nobre" com que se apresentava aos olhos do mundo. Para os mais entusistas, ser utilitarista significa "se atirar sobre uma bomba para salvar a vida de inocentes", ou ainda, empregar todos os esforços para proporcionar o maior bem-estar para a maior parte da população. Embora muitos ateus, como Sam Harris, busquem nestas correntes filosóficas um sistema moral alternativo que não necessite de um legislador externo, esta pode não ser a melhor opção de fuga, uma vez que a ética de escolher o mal menor tem um lado bastante perigoso. Mas afinal, qual é o problema com o utilitarismo e suas vertentes? Considerem o seguinte dilema:
Um trem está prestes a atingir cinco pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha, porém, você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as cinco pessoas e matando uma?
A princípio, para muitos de nós, a opção de mudar o trajeto pode soar mais atrativa. Afinal, salvar cinco vidas é melhor que salvar apenas uma. No entanto, o dilema não é tão simples assim. Salvar as cinco pessoas significa direcionar intencionalmente o trem para a outra, o que configuraria assassinato. Se você respondeu sim, logo, você agiu de acordo com o utilitarismo. Porém, basta multiplicar o número de pessoas em questão por um milhão. Você mataria um milhão de pessoas para salvar a vida de cinco milhões? Decisões como esta vêm sustentando regimes totalitários desde o século XX, que, por sua vez, desgraçaram, em nome da maioria, uma minoria tão inocente quanto o homem sozinho no trilho, o que nos remete à conclusão de que o ato de matar um para salvar cinco simplesmente ignora o fato de que toda a vida humana possui valor intrínseco. Nesse cenário, utilizar a razão é indiferente. Ainda assim, o utilitarismo pode ser utilizado para justificar outras ações que são claramente imorais:
Consideremos o caso de um feto ou um neonato severamente deformados. É certo que tais crianças viverão brevemente, embora de forma indolor. De todo modo, em função de suas condições biológicas, eles não irão fazer nenhuma contribuição à sociedade. Em contrapartida, seus pais irão suportar grandes despesas. Médicos e outros profissionais de saúde irão investir tempo, recursos, emoção e esforço em adicionar algumas meras horas de vida ao bebê. Os pais vão conhecer e amar a criança apenas tempo o suficiente para terem seus corações partidos por uma perda inevitável. Do ponto de vista utilitarista, o aborto nega todas essas perdas e resguarda recursos. Não há utilidade positiva perdida. Sendo assim, o aborto e infanticídio de fetos e neonatos severamente deformados estariam moralmente justificados. O problema, no entanto, é que muitos dos mesmos custos e recursos aqui aplicados estão envolvidos igualmente no cuidado de muitos de nós, incluindo doentes idosos e acidentados. Muitos desses também não sofrem nenhuma dor, assim como não oferecem nenhum benefício útil à sociedade. Como consequência, além do aborto e infanticídio, o gericídio e a eutanásia ativa de acidentados passam a ser obrigações morais.
Um trem está prestes a atingir cinco pessoas que trabalham desprevenidas sobre a linha, porém, você tem a chance de evitar a tragédia acionando uma alavanca que leva o trem para outra linha, onde ele atingirá apenas uma pessoa. Você mudaria o trajeto, salvando as cinco pessoas e matando uma?
A princípio, para muitos de nós, a opção de mudar o trajeto pode soar mais atrativa. Afinal, salvar cinco vidas é melhor que salvar apenas uma. No entanto, o dilema não é tão simples assim. Salvar as cinco pessoas significa direcionar intencionalmente o trem para a outra, o que configuraria assassinato. Se você respondeu sim, logo, você agiu de acordo com o utilitarismo. Porém, basta multiplicar o número de pessoas em questão por um milhão. Você mataria um milhão de pessoas para salvar a vida de cinco milhões? Decisões como esta vêm sustentando regimes totalitários desde o século XX, que, por sua vez, desgraçaram, em nome da maioria, uma minoria tão inocente quanto o homem sozinho no trilho, o que nos remete à conclusão de que o ato de matar um para salvar cinco simplesmente ignora o fato de que toda a vida humana possui valor intrínseco. Nesse cenário, utilizar a razão é indiferente. Ainda assim, o utilitarismo pode ser utilizado para justificar outras ações que são claramente imorais:
Consideremos o caso de um feto ou um neonato severamente deformados. É certo que tais crianças viverão brevemente, embora de forma indolor. De todo modo, em função de suas condições biológicas, eles não irão fazer nenhuma contribuição à sociedade. Em contrapartida, seus pais irão suportar grandes despesas. Médicos e outros profissionais de saúde irão investir tempo, recursos, emoção e esforço em adicionar algumas meras horas de vida ao bebê. Os pais vão conhecer e amar a criança apenas tempo o suficiente para terem seus corações partidos por uma perda inevitável. Do ponto de vista utilitarista, o aborto nega todas essas perdas e resguarda recursos. Não há utilidade positiva perdida. Sendo assim, o aborto e infanticídio de fetos e neonatos severamente deformados estariam moralmente justificados. O problema, no entanto, é que muitos dos mesmos custos e recursos aqui aplicados estão envolvidos igualmente no cuidado de muitos de nós, incluindo doentes idosos e acidentados. Muitos desses também não sofrem nenhuma dor, assim como não oferecem nenhum benefício útil à sociedade. Como consequência, além do aborto e infanticídio, o gericídio e a eutanásia ativa de acidentados passam a ser obrigações morais.
Agora consideremos o exemplo da escravidão. Segundo a historiadora americana Mary C. Karasch (2000), por volta de 1821, a população escrava no Rio de Janeiro era de 36.182. Isso representava cerca de 46% do total de habitantes à época. Em outras palavras, quase a metade da população carioca era escrava. Ora, se escravizar uma minoria de pessoas produz o maior bem para o maior número de pessoas, tal atitude poderia ser perfeitamente justificada em um esquema utilitarista. No caso do Brasil do século XIX, o bem-estar proporcionado pela escravidão, aliado a sua utilidade para a sociedade, era claramente superior à sua contraparte: os lucros enormes obtidos pela coroa com o tráfico de escravos; a economia impulsionada pela mão-de-obra escrava; todos os edifícios oficiais e construções do centro da cidade erguidos por mãos escravas; serviços braçais indignos à elite escravagista; etc. Entretanto, a escravização claramente viola os direitos individuais, assim como tratar as pessoas como um meio para um fim, uma vez que todos somos criaturas com valor moral intrínseco.
Como vimos, equilibrando aspectos positivos e negativos na balança da razão e excluindo da equação todo e qualquer valor e dever moral objetivo e intrínseco, chegaríamos a decisões moralmente repugnantes. Aqui, a ética deontológica claramente nos conduziu ao que é mais fácil, útil e vantajoso ao invés do que é certo. De maneira similar, o utilitarismo nega a existência de atos superabundantes, isto é, atos de heroísmo moral que não seriam moralmente obrigatórios, mas que ainda seriam louváveis. Exemplos claros são a doação de setenta e cinco por cento de sua renda para os pobres ou jogar-se sobre uma bomba para salvar um estranho. O utilitarismo demonstra uma visão extremamente inadequada dos direitos humanos e da dignidade humana.
Se atos como o aborto, infanticídio, gericídio, suicídio ou a escravidão maximizam a utilidade ou o bem-estar geral da sociedade, então eles são moralmente obrigatórios para um utilitarista. No entanto, é nítido que qualquer sistema moral que faz do infanticídio e escravidão algo moralmente obrigatório, certamente, é imperfeito. É um fato inteligível a todo e qualquer ser humano, através de nossa consciência e experiência moral, que devemos louvar o bem em si e buscar um bom caráter porque estes são intrinsecamente valiosos. Por outro lado, o utilitarismo implica que a única razão pela qual devemos procurar fazer o bem ao invés do mal, ou buscar um bom caráter em vez do mau caráter, é porque tais atos iriam maximizar a utilidade. Parece óbvio que devemos louvar bons motivos e culpar os maus simplesmente porque eles são intrinsecamente bons e ruins, e não porque tais atos produzem boas ou más consequências.
Em suma, deve ficar claro que o utilitarismo é uma teoria moral inadequada. Outro grave problema presente no utilitarismo é o seu foco no prazer ao contrário do que é intrinsecamente bom. O prazer, embora enraizado na biologia, é uma definição humana de bem e, por isso subjetiva. Pessoas sentem dor e prazer de formas diferentes. Em outras palavras, o que é agradável para um pode não ser agradável para o outro. Isso acaba por implodir a base do utilitarismo, uma vez que não há consenso sobre o que é ou não prazeroso, e muito menos uma autoridade legítima para proclamar uma determinada fonte de prazer como absoluta e objetiva, o que nos coloca novamente diante do problema do referencial.
Entretanto, segundo a filosofia, Deus é benevolente e imutável, logo, uma vez que Deus não muda, consequentemente, a definição acerca do que é bom também não pode mudar, ou seja, trata-se de uma objetividade. Por fim, após evidenciarmos os males do utilitarismo, a conclusão que se segue é que, não importa a vertente consequencialista adotada, sua base não só é amplamente rejeitada pelos estudiosos da ética, como também é amplamente implausível e absurda, haja vista as inúmeras e graves falhas morais demonstradas anteriormente. Não é à toa que tal teoria caiu em desuso e seus ideólogos foram e são constantemente acusados de promover, sem justificativa alguma, uma sociedade superior, ao passo que a referida corrente filosófica, segundo a filosofa americana Ayn Rand, poderia justificar até mesmo o holocausto nazista.
Dilemas morais, de acordo com a filosofia, são situações nas quais nenhuma solução é satisfatória. São situações que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado. Comumente, nos deparamos com uma pequena história, por vezes contada por relativistas, para demonstrar que não existe uma lei moral objetiva e que tudo é relativo. Eis um exemplo:
Existem cinco pessoas tentando sobreviver em um bote salva-vidas projetado para levar apenas quatro pessoas. Se uma pessoa não for jogada ao mar, todos morrerão.
O dilema é então discutido, propõe-se diferentes soluções e, então, conclui-se que seu desacordo prova que a moralidade deve ser relativa. O que não foi percebido, porém, é que esse dilema prova o oposto. Se não houvesse uma lei moral absoluta e objetiva, não haveria um dilema. As pessoas diriam “ah, joga qualquer um no mar. Quem se importa?” Se não existisse um certo e um errado, ou um bem e mal de fato, logo não haveria problemas em realizar um ato como esse, afinal de contas, em uma dimensão subjetiva, o que vale é a sobrevivência pessoal. À luz da resolução do dilema, C.S. Lewis responde:
“Suponhamos que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá dois desejos: o de prestar socorro (que se deve aos impulsos) e o de fugir do perigo (que se deve à auto-preservação). Mas você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no piano e não outra, é equivalente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.”
C.S Lewis
Dilemas morais
Dilemas morais, de acordo com a filosofia, são situações nas quais nenhuma solução é satisfatória. São situações que desafiam todos que tentam criar regras para decidir o que é certo e o que é errado. Comumente, nos deparamos com uma pequena história, por vezes contada por relativistas, para demonstrar que não existe uma lei moral objetiva e que tudo é relativo. Eis um exemplo:
Existem cinco pessoas tentando sobreviver em um bote salva-vidas projetado para levar apenas quatro pessoas. Se uma pessoa não for jogada ao mar, todos morrerão.
O dilema é então discutido, propõe-se diferentes soluções e, então, conclui-se que seu desacordo prova que a moralidade deve ser relativa. O que não foi percebido, porém, é que esse dilema prova o oposto. Se não houvesse uma lei moral absoluta e objetiva, não haveria um dilema. As pessoas diriam “ah, joga qualquer um no mar. Quem se importa?” Se não existisse um certo e um errado, ou um bem e mal de fato, logo não haveria problemas em realizar um ato como esse, afinal de contas, em uma dimensão subjetiva, o que vale é a sobrevivência pessoal. À luz da resolução do dilema, C.S. Lewis responde:
“Suponhamos que você ouça o grito de socorro de um homem em perigo. Provavelmente sentirá dois desejos: o de prestar socorro (que se deve aos impulsos) e o de fugir do perigo (que se deve à auto-preservação). Mas você encontrará dentro de si, além desses dois impulsos, um terceiro elemento, que lhe mandará seguir o impulso da ajuda e suprimir o impulso da fuga. Esse elemento, que põe na balança os dois instintos e decide qual deles deve ser seguido, não pode ser nenhum dos dois. Você poderia pensar também que a partitura musical, que lhe manda, num determinado momento, tocar tal nota no piano e não outra, é equivalente a uma das notas no teclado. A Lei Moral nos informa da melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.”
C.S Lewis
No final das contas, os dilemas morais nos servem não apenas como um exercício lógico ou um estimulante para debates polêmicos, mas sobretudo para estabelecer uma verdade muito importante e, por vezes, negligenciada: nossas escolhas morais importam.
O Dilema final
Enfim, após uma longa discussão sobre a ontologia dos valores e deveres morais, finalmente nos deparamos com o dilema final sob o qual todo esta obra se assenta. Na ausência de evidências adequadas para sustentar um sistema moral puramente objetivo sem recorrer a um parâmetro externo, os ateus têm de enfrentar de peito aberto o inevitável dilema:
(1) Negar que valores e deveres morais objetivos existam no mundo ao mesmo tempo que vivem como se realmente existissem. Aqui, se habita um castelo de ilusões particular, onde há o certo e o errado e cada ser tem o seu valor moral, mesmo que não exista nenhuma justificativa racional para isso. No entanto, fora dos limites do castelo imaginário, há uma realidade crua e indiferente, onde atos como o estupro e o assassinato são vistos como meras escolhas pessoais.
(2) Admitir, junto de seus fundamentos, que há valores e deveres morais objetivos no mundo, pois estes são inteligíveis a todo e qualquer ser humano. Aqui há a aceitação do fato de que há coisas verdadeiramente boas e más no mundo.
Se, para o ateu, a primeira opção está correta, então ele, assim como a maioria dos ateus, age de maneira contraditória e irracional, escondendo-se em um castelo de ilusões construído com o propósito de maquilar a cruel indiferença do subjetivismo moral. Se a segunda opção está correta, então segue-se, inevitavelmente, que um legislador moral, cuja essência é a fonte de todo o Bem, existe.
Considerações finais
Por meio da nossa experiência moral, nos fica claro que valores e deveres morais de fato existem e a verdade de nossas declarações morais independe de qualquer inferência humana. O ateísmo, em contrapartida, não somente falha em fornecer uma base ontológica razoável para a existência de valores e deveres morais objetivos, como também nos apresenta uma explícita contradição: ao passo que se afirma explicitamente a subjetividade dos valores e deveres morais, se afirma, quase sempre inconscientemente, a objetividade dos mesmos. A conclusão que atingimos, portanto, é que, aparentemente, não há uma escapatória: é notoriamente mais razoável aceitar a existência de um legislador moral do que persistir na auto-ilusão de que não há regras morais no mundo, uma vez que sempre recorremos as mesmas para louvar ou condenar determinada ação moral. O ateu parece estar, portanto, não entre a cruz e a espada, mas entre a ilusão e a contradição.
Referências bibliográficas: C.S. Lewis - Cristianismo Puro e Simples; W.L. Craig - Objective Moral Values Exist; MORELAND, J.P - Utilitarianism and consequentialism; PLANTINGA, Alvin - Deus, a liberdade e o mal; W.L. Craig - On Guard; TeonisWiki - O argumento da moralidade objetiva; John Lennox; Francis Collins: A linguagem de Deus; FRANCK, R, ROZE, CONNOLLY, R. (Orgs.). What Does It Mean To Be Human? Reverence for life Reaffirmed by Responses from Around the World. New York: St. Martin's Griffin, 2000. p. 151.
214 comentários
Caramba, Andrei, esse texto é bem forte e usa um argumento poderoso a favor de um esclarecimentos para os ateus. Até eu me converti de novo (Hehehe.... essa foi boa). O texto é ótimo, fácil de entender, simples e esclarecedor. Ainda não tive o oportunidade de conversar com um ateu, pois na minha cidade a maioria as pessoas quando se dizem ateu não conseguem sustentar suas próprias convicções. Sempre é bom vim aqui no seu blog e ler algo que edifica. Sei que o objetivo do blog não é evangelistíco ou é sem eu saber, mas de qualquer forma ajuda muito aqueles que ainda andam como mortos por esse "mundão". Deus te abençoe, meu caro!
ResponderExcluirEste argumento, ao meu ver, é o mais forte de todos, junto ao argumento ontológico de Alvin Plantinga. Porém. este, em especial, tem uma peculiaridade: Ele é simples e possui um poder absurdo. Ele nos faz refletir seriamente. Este argumento prova que são muito poucos, mas muito poucos mesmo, os ateus que realmente conhecem o que seguem. Para um ser humano adotar uma cosmovisão ateísta, ele precisa, necessariamente, abdicar das ideias de bem, mal, justo, injusto, certo e errado, sobrando apenas convenções sociais que serviriam para a sobrevivência em um mundo cruel. Isso é MUITO DIFÍCIL de se fazer, pois seria preciso ignorar toda a nossa experiência moral. Mas a constante alusão deles ao problema do mal, é a maior prova da existência da moralidade objetiva. O mal não existe no naturalismo, mas então, por que eles insistem que este existe? O.o hahahaha.. De fato, o blog não tem a intenção de evangelizar, apenas tem a missão de passar conhecimento. Enfim, muito obrigado pelos elogios e que Deus te abençoe!
ExcluirE de sua total autoria?
ExcluirSim. As partes que concernem a outros autores eu, devidamente, referenciei.
ExcluirA humildade é o princípio de todo o conhecimento, certo, Andrei Santos?
ExcluirExatamente. Esse é um parâmetro que temos que levar para nossa vida sempre.
ExcluirEm questões de prática é muito difícil negar a objetividade e realidade dos valores morais, embora de acordo com a teoria muitos recusem acreditar na verdade destes.
ExcluirPor que é difícil?
Isto é uma conclusão de nossa própria vida, haja vista que guiamos nossas vidas CONFORME esses valores sem ao menos saber o que eles significam.
Exatamente. É difícil porque todos nós temos uma experiência moral que nos diz que existem atos verdadeiramente bons ou ruins, ao passo que pautamos nossa conduta em valores objetivos como a justiça, por exemplo, mesmo que nossa interpretação acerca dela varie. Fazer afirmações sobre quais seriam esses valores ou como nós viemos a aprendê-los seria adentrar no campo da epistemologia, o que é irrelevante para o nosso propósito, afinal, estamos tratando da ontologia deles.
ExcluirSoaria pleonasmo afirmar que a natureza deles é a própria natureza, enquanto esta última é amoral e sem princípios morais objetivos.
ExcluirNo naturalismo o que vale é preservar sua vida da maneira que for possível, em outras palavras, os paranóicos seriam mais sensatos que muitos
Durante séculos a clássica alusão ao mal no mundo é o único argumento ateísta que tenho conhecimento.
ExcluirPor vezes, o "problema" do mal é usualmente colocado como um questionamento.
Perceba que a clássica pergunta: "Não vejo nenhuma razão para Deus permitir males no mundo, porque diabos ele permite algo que contradiz sua toda bondade?"
Qualquer graduando em filosofia percebe que há uma petição de princípio nesta pergunta.
De antemão, muitos ateus admitem que é impossível haver um motivo divino para permitir o mal e sofrimento.
Primeira falha.
ExcluirA próxima falha é a impossibilidade lógica de haver o mal CASO o Ateísmo for verdadeiro. Pois, se a natureza é amoral, como diabos pode haver o mal?
O mal sempre implica em coisas erradas ou coisas que não deveriam acontecer segundo o senso comum.
Outra falha.
Todo ateu de verdade sabe as implicações de sua visão de mundo, afinal, se minha posição é amoral por natureza, com que base vou acusar Deus de haver feito uma escolha errada permitindo o mal neste mundo (considerando a hipótese destes dois últimos existirem)?
Qual seria minha base? Opinião?
Por fim, agradeço a atenção e parabéns por seu blog apologético.
Para complementar a segunda falha no problema:
ExcluirComo podemos acreditar que as coisas não DEVERIAM acontecer de uma maneira e, sim, de outra simultaneamente crendo na falta de ordem, sentido, propósito ou fundamento no universo?
Como? Não faz sentido!
De fato, é estranho pensarmos em um mal presente na cosmovisão naturalista, haja vista que são coisas mutuamente excludentes. Sua base seria a razão, no sentido de apontar uma contradição explícita em levantar questionamentos morais para tentar provar que uma cosmovisão amoral existe. Concordo com todas as suas objeções, muito interessantes por sinal. Obrigado pelo elogio e pelos comentários.
ExcluirEstá dizendo que é impossível provar que seres humanos são amorais ou que os valores são infundados por questão de mera opinião?
ExcluirVocê afirmou a praticamente dois anos que são poucos os ateus que realmente conhecem sua posição, certo?
ExcluirDe fato isto é por causa do chamado neo Ateísmo, né?
São poucos os ateus que realmente se interessem por filosofia ultimamente, acho isto uma pena, afinal, independente da visão de mundo, vale a pena discutir estes assuntos com pessoas que pensem diferente de nós, cristãos, certo?
O neo Ateísmo é um movimento populacho que trata o Ateísmo como se fosse a gênese da verdade, além de impor preconceitos contra teístas
ExcluirSão poucos os ateus dignos de respeito ultimamente, deplorável
ExcluirRealmente, são poucos os ateus que conhecem o que seguem a fundo. A filosofia poderia ser de grande valia para eles. Nietzsche, Camus, Schopenhauer, Bertrand Russell, Sartre... Todo seriam de enorme valia... Enfim, eu afirmo que valores não se fundamentam em opinião porque eu, por exemplo, não teria direito algum de impor a minha opinião a quem quer que seja, ainda mais em um mundo totalmente subjetivo. E, sinceramente, penso que seja muito difícil provar que seres humanos são amorais, até porque precisaríamos de uma explicação ontológica para o que chamamos de moralidade (não explicando como ela surgiu, mas o porquê e onde ela se assenta, o que é inconsistente com a amoralidade do naturalismo).
ExcluirSe alguém quiser se orgulhar, que se orgulhe de me conhecer e de me entender, porque eu, o SENHOR, sou Deus de amor e faço o que é justo e direito no mundo. Essas são as coisas que me agradam.
ExcluirCreio que este verso, sob uma perspectiva cristã, já refuta o problema do mal.
Fazemos o que o criador deseja?
Não. Só temos a sensibilidade moral que ele implantou em nós, porém voluntariamente ignoramos isto
Excelente!
ExcluirVocê poderia explicar a proporção áurea com meios filosóficos?
ExcluirEmbora seja totalmente irrelevante para a veracidade do argumento, poderia fazer a gentileza de listar quantos valores existem?
ExcluirInfelizmente, não se sabe, mas podemos inferir seguramente que todos os nossos atos são medidos pelo valor objetivo da justiça.
ExcluirCom relação à proporção áurea, temo que eu não possua conhecimento suficiente para responder a sua pergunta. No entanto, disponho-me a pesquisar acerca do tema e respondê-lo o mais breve possível.
ExcluirPelo que tenho de conhecimento moral, eu poderia dizer que humildade, respeito, honestidade, coragem, amor, companheirismo são valores objetivos
ExcluirPode ser que sejam.
ExcluirNão devemos duvidar da capacidade dos outros, ninguém merece ser subestimado. O que é isso? Respeito (isto é um valor objetivo). Afinal todos possuem potencial, né?
ExcluirExato!
ExcluirDevemos reconhecer que não sabemos de tudo e ignorar esse valor é ignorar o mais valioso valor que é admitir a própria ignorância (humildade).
ExcluirNão acha?
ExcluirPorque será que todos agem feito realistas morais diante da hipocrisia? Isto é, condenando-a como uma ação não somente reprovável, mas também extremamente errada que deveria ser corrigida?
Excluirporque são contraditórios, somente por isso.
ExcluirAcho que entendi. Então o que é bom ou ruim o é simplesmente porque Deus quis assim. É uma escolha completamente arbitrária... ;D
ResponderExcluirNa verdade não entendeu. Esqueceu-se de que um dos atributos da natureza de Deus é a benevolência, isto é, ele é a fonte de toda a bondade. A maldade é simplesmente a ausência de bondade. Leia a postagem sobre o paradoxo de Epícuro e verás que existem diversos tipos de mal, dentre eles o mal moral, que é cometido diretamente pelo homem e seu livre-arbítrio. Seu raciocínio é: "O homem decide cometer um ato imoral, portanto Deus quis assim." Non sequitur.
ExcluirA única coisa que pude observar neste blog foi uma enciclopédia gigante de falácias. Falácia genética, espantalhos... Interessante! :D
ResponderExcluirNunca (mentira) li algo tão tendencioso sobre ateus, eu não iria comentar mas como nenhum ateu se pronunciou me sinto na obrigação de manter justiça sobre as baboseiras tendenciosas escritas acima.
ResponderExcluirA VC que escreveu o texto, tenha vergonha de induzir outras pessoas ao erro, aos que leram e concordaram, por favor, sejam mais inteligentes ( pelo amor de deus).
foi por este tipo de raciocínio escarnecedor e subjugador que deixei de discutir religião com deístas.
Se vc acha no seu íntimo que exista um deus, por favor, não se associem a outros, procurem a resposta por sí só, se a resposta for ( eu acho q deus existe pq sinto) ótimo, viva feliz assim e se algum ateu lhe criticar por isso pense que vc pode estar um passo à frente dele na autoaceitação, se vc se sente bem acreditando, ótimo, se vc se sente bem não acreditando, ótimo tbm pq na vida o importante é viver bem.
Obrigado pelo comentário, mas devo dizer que, da mesma forma que o ateísmo vive de objeções, o teísmo também pode fazê-lo. Não sou eu quem diz que a moralidade na cosmovisão ateísta é subjetiva, mas sim a própria necessidade lógica. Todo ateu bem informado sabe disso. Nietzsche sabia, compreendia e defendia este fato. Eu somente expus o pensamento deles e realizei um diálogo com o argumento dos valores morais objetivos. Falta estudo.
ResponderExcluirSe acreditar em deus é sinônimo de referência moral, então qual o motivo de ter tantos cristãos nas cadeias???
ExcluirNão confunda o que fazemos com o que deveríamos fazer.
ExcluirDever implica poder. Responsabilidade implica liberdade. Juízo implica objetividade. Dilema implica em escolha.
ExcluirO que escrevi tem lógica? É o que penso.
ExcluirDepende do contexto. O dever implica em poder em que sentido? A liberdade, por sua vez, é que implica em responsabilidade, penso eu. Por fim, concordo parcialmente que juízo implica em objetividade. E, sim, dilema implica em escolha.
ExcluirDeus fez uma jogada entregou a rainha pra dar cheque mate? É isso que entendi, vcs usam pressupostos caricaturando ateus... Chega ser ridículo esse argumento esse esboço que forçam falando q é lógica e filosofia, é pregação rebuscada de algo intelectual, quem estudou filosofia sabe distinguir...
ResponderExcluirSe você estudou filosofia, sabe que a visão ontológico-naturalista é não-dualista. Existencialistas como Sartre, Nieztsche e Russel entendiam perfeitamente as implicações da subjetividade de valores. Se o referido texto fosse uma pregação, conteria versículos da bíblia, e, claramente, este não é o caso. O que se tem aqui é uma abstração lógica com base na própria cosmovisão ateísta. Acusar o argumento de ridículo é fácil, mas já refutá-lo... Passar bem.
Excluirmuito bem escrito seu texto, porem cheio de falacias... como demonstra o Prof. Hawkings neste curtissimo video: https://www.youtube.com/watch?v=zhavlWdjshY
ResponderExcluirObrigado pelo elogio. Sinto dizer, mas o vídeo é que é uma grande falácia. Em nenhum momento o Dawkins respondeu a pergunta do espectador. A pergunta era sobre a ontologia dos valores morais e não se determinado ato é moral ou não. Dawkins em nenhum momento estabeleceu um fundamento para uma moralidade subjetiva.
ExcluirNo subjetivismo, não existe uma moral REAL. Tudo que temos são seres conscientes que CRIAM valores morais, a partir de impulsos irracionais. Por exemplo: alguém estupra uma garotinha. Eu tenho algumas propriedades acidentais instanciadas no meu cérebro (como o que as pessoas costumam chamar de “empatia”) que me fazem NÃO gostar do ato. Mas isso que ele significa que ele estava errado? Não. Eu não gosto subjetivamente, mas não é DE FATO errado. O bem-estar humano não é mais importante do que o bem-estar dos fungos para o Universo cru.
Nesse sentido, o secularista utiliza uma máscara tapando a verdadeira face da realidade. Ele não passa de um farsante que cria um castelo de ilusões na sua vida em mundo intrinsicamente amoral. Ele não encara a realidade como ela é e projeta seus estados mentais em fatos indiferentes. Richard Dawkins julga determinados atos como sendo ruins, mas não fundamenta isso. A discrepância de moralidade não é o objeto a ser analisado, mas sim os valores em comum entre as diversas culturas dispostas no espaço e diversificadas no tempo. A resposta mais bem exemplificada está no exemplo do texto: "Mas e a diferença de moralidade com relação às culturas?".
Segundo ponto a ser ressaltado é que Dawkins ignora toda a contribuição do Cristianismo para com a moralidade. O mesmo é, junto à Filosofia Grega e ao Direito Romano, um dos pilares da civilização ocidental. Ele também parece não entender que os relatos na bíblia (não sei acerca do Corão) acerca da moralidade são RELATOS HISTÓRICOS, isto é, são narrativas acerca da moralidade vigente na época. Ele também não teve o cuidado de utilizar a palavra "evolução" corretamente. A evolução não é progressiva, mas sim uma simples mudança. Foi sob este pretexto que os males como escravidão e supremacia racial ocorreram. Enfim, Dawkins, claramente não é preparado para defender o ateísmo, e este é um pensamento que os próprios ateus sérios compartilham.
Olá Andrei! Parabéns pelo texto, blog e por abrir estas discussões, são muito importantes.
ResponderExcluirAcerca do trecho:
"De onde herdamos essa noção interior de certo, errado, bem e mal? A resposta mais racional é que a nossa consciência é fundamentada em um legislador moral. Dessa forma, fica evidente que a moralidade não depende da religião para existir, mas sim do próprio Deus, na condição de legislador moral. A partir deste raciocínio, podemos concluir igualmente que ateus, por exemplo, também podem ser bons e morais, pois os valores são intrínsecos e inteligíveis a todo e qualquer ser humano. Resumindo: a moralidade não depende da crença em Deus, mas sim de sua existência."
Gostaria de saber mais pois conheço muitos que dizem que sua moral e ética não dependem de qualquer religião ou de que Deus fale o que é certo ou errado, mas atribuem a educação recebida dos pais, família, amigos ou pessoas mais sábias. E dizem que são boas (moralmente corretas) e cumprem seus deveres sem precisar crer em Deus, mas seguindo seu próprio bom senso. Não precisam crer num legislador moral e que um dia terão de prestar contas a ele para serem moralmente corretas. Como deixar claro a ponte entre a moral objetiva com a existência de Deus/Legistlador Moral?
Olá, agradeço o comentário! Bem, acerca do referido ponto, quando dizemos que a moralidade não depende da crença em Deus, mas sim de sua existência, na verdade, queremos dizer que os valores morais estão fundamentados em um legislador moral (DEUS). Isto quer dizer que a pessoa não precisa acreditar em Deus para ser moral, pois a existência dos valores dependem exclusivamente da existência do mesmo. Nós, teístas, entendemos que Deus é a fonte de toda a bondade, e portanto, é também a fonte dos valores morais. É interessante ressaltar que a moralidade é todo o conjunto de valores morais em forma de regras e costumes, porém, o debate que nos interessa se dá estritamente acerca da existência dos VALORES em si (Justiça, honra, amor, et cetera), que são inteligidos por nós como sendo bons, objetivos e universais. Estes valores são imutáveis. Por mais que a moralidade como um todo venha a divergir em meio a tantas culturas, os valores objetivos permanecem. Observe: Um indivíduo é a favor do aborto porque pensa que é um direito, enquanto um outro indivíduo é contra porque acha que é assassinato. Perceba que a discussão se dá acerca do que é ou não assassinato, mas não se assassinato é certo ou errado. O que podemos inferir é que esse subjetivismo se dá a nível dos meios e não dos fins. Por fim, o que essas pessoas parecem não compreender é que em um mundo moralmente subjetivo, não há fundamentos para ações morais, portanto, tudo é válido. Dessa forma, não haveria certo e errado, porém, sabemos, através da experiência pessoal que pode ser acessada por todo e qualquer ser humano, que não é assim que as coisas são. Esse bom senso que afirmam ser a bússola moral, é, na verdade, o senso de percepção de tais valores morais. São estes valores, no final das contas, que fundamentam a moralidade em si. É por isso que dizemos que a moralidade é objetiva: porque os valores que os fundamentam os são. De certa forma, eles estão corretos, não precisam crer em um legislador moral para serem bons e justos, porém, sem a existência Dele, nada disso existiria, pois se não há um propósito universal, um padrão moral, julgamentos e nem vida após a morte, seriam os seres humanos que definiriam o certo e o errado através de convenções sociais. Dito isso, se um indivíduo diz que o aborto é certo e o outro diz que é errado, na ausência de um absoluto, quem é que está certo e quem está errado? Ninguém, pois sem um padrão objetivo, tornam-se verdades mutuamente excludentes. Espero ter ajudado, abraços!
ExcluirJ GARCIA: "Se acreditar em deus é sinônimo de referência moral, então qual o motivo de ter tantos cristãos nas cadeias???"
ResponderExcluir- Acreditar em Deus não é sinônimo de referência moral, mas sim a EXISTÊNCIA dele. É através de um padrão moral objetivo que podemos ter consciência de um certo e um errado absolutos, isso é o que conhecemos como objetivismo moral. Este fator independe da crença, isto é, não é preciso acreditar em Deus para ser bom. Embora saibamos, através de um padrão objetivo, o que é o bem e o que é o mal, nada nos impede de escolhermos livremente entre os mesmos. A escolha entre fazer o bem e o mal cabe exclusivamente ao indivíduo, independente de sua posição filosófica. Sugiro a releitura do argumento. Obrigado pelo comentário.
O problema moral já foi resolvido:http://religiaoeateismo.blogspot.com.br/2015/04/o-problema-moral-resolvido-como-podemos.html
ResponderExcluirMoralidade não é uma questão de opinião mas sim de necessidade. Sem a necessidade não existe moralidade e muitos menos deveres morais.
Se valores morais são trabalhados à luz de necessidades biológicas, então Hitler não teve culpa do que fez, pois agiu sob instâncias físico-químicas instauradas em seu cérebro. Leia o trecho "A moralidade biológica, o determinismo e o naturalismo". Argumento realmente falho. Os ateus cometem sempre o mesmo erro: confundir ontologia com reconhecimento e moralidade com valores morais. Leia o texto com atenção e verás que cada ponto desse texto (que foi um dos mais vazios que já li, por sinal) foi devidamente refutado.
ExcluirQual o maior erro do texto dele?
ExcluirO erro que todos eles cometem: ausência de fundamentos para uma moralidade naturalista.
ExcluirO termo objetivo significa o quê em relação aos valores morais?
ExcluirSignifica que constituem uma verdade independente de qualquer inferência humana.
ExcluirExemplos?
ExcluirA justiça constitui verdade independente do que achamos. O exemplo está no texto: se um indivíduo é a favor da pena de morte porque acha justo e um outro indivíduo é contra porque é injusto, tem-se que a discordância se dá no fato de uma atitude ser justa ou não (lembrando que a interpretação acerca da justiça é subjetiva), mas ninguém discorda se devemos ou não ser justos. Esse é o ponto: a justiça é objetiva (constitui um parâmetro verdadeiro) independentemente de nossas inferências pessoais.
Excluirhttp://tratadonaturalista.blogspot.com.br/2013/07/o-argumento-moral-para-existencia-de.html?m=1
ResponderExcluirO que acha?
Andrei Santos, leia aí o Tratado Naturalista (A suposta "refutação" do argumento moral).
ResponderExcluirAssumo postura agnóstica e, a meu ver, o argumento abreviado seria assim:
Excluir1- Se não há alicerce para a existência de valores, juízos morais não deveriam existir.
2- Juízos morais existem, ou seja, temos senso moral sobre o que é certo e errado além de nossa necessidade biológica de sobrevivência ou cooperação.
3- Portanto, é razoável acreditar que exista uma base bem fundamentada para a existência objetiva de valores e juízos morais.
Está equivocado, Andrei Santos?
ExcluirAo meu ver, está correto.
ExcluirAo que parece, em nenhum momento eles fundamentam os valores objetivos em alguma coisa. Sequer sabem o que significa objetividade. Em tempo: nunca tinha visto essa formulação do argumento moral. Eu, particularmente, não usaria.
ExcluirPor quê?
ExcluirMinha versão do argumento possui falhas?
ResponderExcluirEu apenas fiz uma omissão da palavra Deus (Como o argumento cosmológico o faz).
ExcluirAo que parece, não. Seu argumento tem como intuito provar a existência de uma base para valores e juízos morais. Resta saber qual é essa base dentro de um conjunto possível de entes necessários, ex: {Deus; Números; Formas geométricas}
ExcluirOmissão da palavra não significa que a conclusão não se chegue ao ser dos seres.
Excluir1. Deus existe;
ResponderExcluir2. O mal existe;
(3) Deus é todo poderoso, todo bom e odeia o mal;
(3.1) Se Deus é todo poderoso, então pode criar qualquer mundo que desejar;
(3.2) Se ele pode criar qualquer mundo que desejar, então ele iria preferir um mundo sem nenhum mal;
(4) Mas o mal existe;
(5) Logo, Deus não existe;
Um mundo em que ações erradas fossem impossíveis, tornaria a liberdade inexistente.
ExcluirEssa é a refutação. A impossibilidade de um mundo sem nenhum tipo de mal em conflito com a liberdade de escolha.
Excluir1- Deus criou um mundo com seres significativamente livres.
ResponderExcluir2- Deus pode criar criaturas livres, mas não pode causar ou determinar que elas façam apenas o que é certo, pois se o fizesse, não seriam criaturas livres.
3- Portanto, para criar seres com moral boa, Deus deve criar criaturas capazes de moral ruim. Ele não pode criá-las com capacidade de fazer o mal e, ao mesmo tempo, impedi-las de fazê-lo. Um mundo em que ações erradas fossem impossíveis, tornaria o livre-arbítrio nulo.
Exatamente.
Excluirhttps://rebeldiametafisica.wordpress.com/2012/10/20/fatos-morais-existem-naturalmente-e-a-ciencia-pode-descobri-los-parte-7-fatos-morais-universais-existem/
ResponderExcluirOla Andrei Santos... Tenho acompanhado seus textos e os considero de muita inteligência... Queria saber aonde a lei moral se aplica aos psicopatas por exemplo... Como os teístas como nós reagem as pessoas com distorções mentais sobre a realidade.... Desde já agradeço e espero que possa me responder.... Ass. Davi
ResponderExcluirRespostas ao ateísmo, é você?
ExcluirA lei moral está dentro deles da mesma forma que em nós, eles sabem que há o bom e o ruim, porém, interpretam de forma errada. A maioria o faz pelo prazer que o mal fornece. Os psicopatas esquecem o bem porque nunca tiveram contato direto com eles, logo, o bem dá lugar ao prazer, não importando o meio de obtê-lo. C.S. Lewis mostrou que é logicamente impossível alguém ser mau apenas por maldade. Na realidade, não temos experiência de alguém que é mau apenas por ser mau. O mais próximo disso seria a crueldade. Mas, na realidade, as pessoas são cruéis apenas para ganhar algo, tal como poder, prazer ou segurança. Mas essas coisas(poder, prazer e segurança) não são ruins, são coisas boas de se possuir. A maldade consiste em buscá-las com motivos errados ou da forma errada. Quando você examina ao fundo, o mal não é nada mais do que a busca por algo bom de uma maneira errada. Agora, diferente do mal, você pode ser bom por amor à própria bondade. Você pode realizar um ato de bondade, mesmo que isso não te dê prazer, simplesmente porque é o CERTO a se fazer. Mas ninguém pode ser mau simplesmente porque a crueldade é má, ou ser mau sem ganhar algo bom. Em outras palavras, a maldade não consegue sequer ser má como a bondade é boa. A bondade, por assim dizer, é ela mesma, ao passo que a maldade é apenas o bem pervertido. E, para que haja uma perversão, é preciso que antes haja uma perfeição.
ExcluirPorque o utilitarismo não serve como um sistema moral? O naturalismo é auto refutável ou simplesmente não há evidências POSITIVAS para ele?
ExcluirAndrei Santos?
ExcluirO Utilitarismo não serve como um sistema moral porque ainda está preso ao subjetivismo das inferências humanas, ao passo que também não explica qual é a natureza da justiça, mas apenas o que é justo e o que não é. Além disso, tem-se ainda um fato mais grave: o utilitarismo poderia justificar, por exemplo, a escravidão. É só olharmos a história do mundo e percebermos que, algumas vezes, ter escravos foi algo "útil".
ExcluirJustiça não seria oferecer a alguém o que devidamente merece? Implicaria objetividade, certo?
ExcluirOutra coisa que eu queria te perguntar Andrei é em relação a teoria da relatividade de Einstein, que segundo ele afirma que o tempo é uma ilusão e que somos marionetes do universo ja q passado presente e futuro acontecem ao msm tempo... vc concorda? e como o teismo encara isso...
ResponderExcluirNão vejo relação entre a concepção de tempo e supressão da liberdade. Mas há um vídeo do Kauê Varella que é espetacular que posso indicar. Fala exatamente sobre isso. Tente procurá-lo no YT.
ExcluirVocê é aberto a criticas por mais que sejam negativas?
ResponderExcluirNão somente a críticas como também mudança de posição, sempre mediante evidências concretas.
ExcluirTambém gosto de agir assim, mente aberta, sabe?
ExcluirSim, é a posição a qual julgo ser a mais sensata.
ExcluirCreio que tu cometeste a falácia https://pt.wikipedia.org/wiki/Argumentum_ad_consequentiam
ResponderExcluirQUANDO TU FALASTE SOBRE HITLER
Se você quer discutir a validade de algo, é errado abordar por alguma consequência que esse algo gera ao mundo. Creio que você falhou na tentativa de refutar o utilitarismo.
ExcluirNão vejo como posso ter cometido tais falácias. Perceba que, quanto ao Hitler, o pilar de sustentação do trecho da argumentação é a moralidade subjetiva. Se todas as nossas regras são frutos de convenções sociais, isto é, se cada sociedade quem decide o que é certo e errado, o que é que nos impede de dizer que Hitler tinha razão? O que eu quis dizer é que, se cada regra é interna a cada sociedade, logo, nenhuma teria o direito de impor as suas regras as outras, entende?
ExcluirQuanto ao utilitarismo, também penso que não há falácias. Afinal, existem poucas maneiras de medirmos nossas ações: através dos valores morais em si na condição de padrão absoluto permeadas em nossas intenções, ou diretamente na consequência de nossas ações. No entanto, perceba que a intenção do utilitarismo é a própria utilidade. Logo, a medida é feita tanto na intenção como também na consequência das ações.
Defendo o subjetivismo e ceticismo moral e respeito quem discorda de mim, porém, ao meu ver, você não refutou o utilitarismo, apenas o descartou pois a prática deste pode chegar a cometermos abominações morais.
ExcluirEu, como condizente de minha posição, não creio que haja certo e errado absolutos, creio que o princípio da vida seja somente sobreviver e cooperar para com isso, evitando o sofrimento possível.
Ora, se sou fruto de algo indiferente também meus julgamentos há de serem indiferentes quanto a conduta moral dos outros.
Evitar sofrimento e dor é um princípio para sobrevivência e como nascemos ignorantes, devemos aprender a lidar com isso e evitar as paixões que nos levam a isso.
ExcluirSe o utilitarismo é conveniência pura, está aí um sistema que demonstra a maior de todas as subjetividades
ExcluirConcordo com tudo o que foi dito acima. No entanto, levanto alguns questionamentos: por que deveríamos evitar o sofrimento e a dor, ao passo que, muitas vezes, a dor e o sofrimento pode nos levar ao aprendizado, à sabedoria e até mesmo a um suposto bem maior? Por que estamos falando em "abominações morais" se no subjetivismo não há moral, tampouco bem e mal?
ExcluirNão sei responder essas objeções com o conhecimento que possuo.
ExcluirMas acredito que não podemos julgar nossas ações como boas por serem convenientes, CREIO (melhor frisar para não haver acusações de leitura mental) eu que você esteja pensando:
ExcluirHá ações praticadas verdadeiramente boas e estas podem até nos prejudicar (auto sacrifício), porém, também irei levantar algumas objeções:
Porque agimos benignamente para com os outros?
Porque esperamos coisas em troca. Admiração. Respeito etc. Estes exemplos podem ser visíveis e acredito que no fundo, todas nossas ações são sem valor algum, pois agimos de acordo com nossos próprios interesses até quando queremos ser "bons"
Concordo que ações não devem ser julgadas como boas por serem convenientes. Penso que o próprio utilitarismo enxerga o espectro moral dessa maneira. Com relação ao seu questionamento, eu respondo: alguém que age de forma benigna com o outro esperando algo em troca, não está praticando o bem em si, ao passo que esta não é a finalidade nem o princípio da ação. Como exemplo, vamos pegar o altruísmo: este não deve, de maneira alguma, ser entendido como um comportamento do tipo "uma mão lava a outra", ou seja, praticar a bondade esperando algum benefício em troca. O altruísmo está um grau acima: dar-se sem egoísmo aos outros, com sinceridade, sem nenhuma intenção secundária. Oskar Schindler é um dos melhores exemplos que posso oferecer: ele colocou sua própria vida em risco extremo para proteger mais de mil judeus do extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial e, por fim, morreu pobre. O que ele ganhou? Absolutamente, nada. Por fim, tenhamos em mente que não devemos tratar daquilo que fazemos, mas sim daquilo que deve ser feito. Em tempo: penso que afirmar que todas as nossas ações são sem valor porque agimos de acordo com interesses próprios se enquadre na falácia de generalização.
ExcluirAfirmei que todas nossas ações não possuem valor algum fora as convenientes para ser harmônico com meu ateísmo
ExcluirAndrei Santos, não se trata essencialmente de lucro e sim de agir segundo os próprios interesses embora se pense no outro para cooperação.
ExcluirSobre Oskar Schindler, não posso julgar seus atos como benignos nem como malignos, pois estaria contradizendo minhas crenças.
ExcluirExatamente, não podemos julgar as ações do Oskar, mas ela nos mostra que ações podem ser puramente boas em si, sem relações de troca. Se essa ação é possível, logo nós temos a confirmação do altruísmo, e, consequentemente, de um bem objetivo, independentemente de nossas inferências pessoais.
ExcluirNós simplesmente temos a capacidade de reconhecer o bem-em-si, nas ações humanas, haja vista a existência de valores morais objetivos que permeiam nossa conduta humana. Agir conforme interesse, é, como vimos, algo não condizente com o verdadeiro altruísmo. Reduzi-lo a questões de interesses é um pensamento por demasiado reducionista. Em tempo: se é possível, tal como Oskar nos demonstroi, uma ação boa-em-si, unilateral, sem esperar nada em troca, é uma evidência de que o bem, de fato, existe.
ExcluirSomente podemos compreender os outros após passarmos pelas mesmas experiências vividas por eles. Está defendendo isso?
ExcluirA nossa crença de que existem atos certos e errados, bons e maus, está no mesmo nível que as crenças ditas “básicas”, como por exemplo, o mundo externo existe de verdade e não apenas na minha cabeça; o universo não foi criado nesse instante com a ilusão de ser antigo; eu existo; etc. Podemos até ter dúvidas e desacordos em alguns pontos da moral, da mesma forma que temos dúvidas sobre verdades científicas. Mas é difícil alguém negar, por exemplo, que ajudar um faminto é moralmente melhor do que torturar crianças inocentes.
ExcluirO argumento diz respeito à existência do certo e errado. Certo e errado poderia muito bem ser apenas conveniência e inconveniência, respectivamente, correto?
ExcluirNo fundo as pessoas sempre se movem alimentadas pelo interesse próprio. Mesmo que todos acreditem que o altruísmo é uma ação moralmente boa, isto não prova que o altruísmo é verdadeiramente bom, consenso não valida uma verdade.
ExcluirA lógica por trás do argumento do estrupo (o estupro sempre será considerado errado independentemente da cultura também pode ser aplicado ao ceticismo moral). Mesmo que alguém venha a discordar, este alguém é somente moralmente aleijado, quem é você para discordar da posição da pessoa?
Excluir"Somente podemos compreender os outros após passarmos pelas mesmas experiências vividas por eles. Está defendendo isso?"
Excluir- Jamais. Não é preciso passar por um estupro para saber que tal ato é intrinsecamente errado e moralmente abominável. A partir daí, podemos inferir que uma pessoa que passa por um estupro, um mal objetivo, sofre.
Prosseguindo, o argumento diz respeito apenas à existência do bem e do mal. O certo e o errado são socialmente construídos em função da interpretação sociocultural acerca dos valores objetivos. Em tempo, para responder a questão de forma satisfatória, considere o seguinte exemplo: um indivíduo pró aborto é a favor de tal posição porque considera um direito da mulher, já um conservador é contra o ato pois considera assassinato.
Perceba que eles discordam acerca do que é considerado assassinato, mas não se assassinato é ou não é errado. O mesmo acontece com o estupro, que, por sua vez, constitui uma violência abominável que fere o auto-respeito, a dignidade e a liberdade da vítima. Pode-se discordar acerca do que é estupro, mas não se o estupro é ou não é errado. Discorda-se na interpretação, mas os valores objetivos permanecem imutáveis.
Por fim, se afirmas que todas as pessoas sempre se movem alimentadas pelo interesse próprio, cabe a prova. Eu forneci uma prova concreta de que é possível fazer o bem unicamente pelo bem. Espero suas evidências.
O que o senhor chama de "bem" é simplesmente empatia. Empatia é definitivamente colocar-se no lugar de outrem. O que não quero para mim não devo desejar para outrem. Pois pode ser inconveniente com minha sobrevivência, afinal, posso depender dos outros em algum posterior evento em minha vida.
ExcluirCooperação é essencial para sobreviver, caso contrário, talvez iremos nos matar e extinguir a nossa espécie.
ExcluirBem e mal são somente construções socioculturais segundo o ateísmo. Creio que não estou cometendo falácia genética, pois não estou descartando a existência do bem e do mal, só estou demonstrando meus argumentos que não há evidências suficientes para se afirmar que estas abstrações existem realmente
ExcluirLhe dei o exemplo do estupro, quem sou eu para julgá-lo como errado? Se ele acha que está certo, então, está! Por mais que duvidem disto.
ExcluirACREDITO (para frisar) que consideramos o estupro como errado pela vítima ser violentada e obrigada a fazer algo a força, algo que, convenhamos, ninguém quer para sua vida, quem gostaria de ter prazer na dor fora masoquistas? Claro, estes são exceções. Quanto a afirmação de que é possível ser bom por assim o ser creio que você está PRESSUPONDO que bondade exista. Primeiramente, gostaria de perguntar, o que é bondade?
Excluir"O que o senhor chama de "bem" é simplesmente empatia."
Excluir- Na verdade, empatia é a capacidade de compreender emocionalmente um objeto, só isso. Em nada tem a ver com a ontologia dos valores morais, mas apenas com epistemologia moral. Agora, quando você diz algo como " O que não quero para mim não devo desejar para outrem." está, na verdade, se contradizendo, pois em um mundo subjetivo não há regra de conduta alguma. O que nos impede de escolher "faça aquilo que te dá prazer", o que é um prato cheio para psicopatas, ao invés dessa máxima? O fato é que não se pode objetivar máximas em um mundo subjetivo. É contradição. Prosseguindo, cooperação é tão importante quanto a competição. Logo, não se pode falar de uma e esquecer a outra parte.
Por fim, quando você diz que bem e mal são construções sociais, você afirma consequentemente que não existem ações intrinsecamente boas ou ruins. Mediante isso, uma ação como o estupro e a decapitação de uma criança é moralmente neutra. Será que é isso o que de fato ocorre?
Ainda assim, você diz acreditar que consideramos o estupro como sendo errado pelo fato da vítima ser obrigada a fazer algo a força. Isso é supressão da liberdade. Liberdade é um valor que não pode ser explicado pelo naturalismo determinista. Logo, temos outra contradição. Enfim, tenhamos em mente que, no subjetivismo, não se pode falar coisa alguma sobre bem e mal, tampouco certo ou errado. Por que os masoquistas estão errados em querer obter prazer na base da força? Simplesmente porque fere-se a LIBERDADE? Como pode apelar para algo que não existe na referida cosmovisão? Enfim, respondendo a sua última pergunta: entendo a bondade como a natureza de Deus, ao passo que, nela, se fincam os valores morais objetivos, como a justiça. Em síntese, eu resumiria o bem como o modo pelo qual as coisas deveriam ser, ao passo que o mal é justamente o contrário disso.
Tenho ciência que a ontologia dos valores morais responde a questão da natureza dos valores, que seria Deus. A bondade é uma característica ou qualidade de Deus, uma abstração que reflete sua personalidade, certo?
ExcluirPor que os masoquistas estão errados em querer obter prazer na base da força? Simplesmente porque se fere a LIBERDADE?
ExcluirEm nenhum momento falei sobre liberdade, Andrei.
ACREDITO (para frisar) que consideramos o estupro como errado pela vítima ser violentada e obrigada a fazer algo à força, algo que, convenhamos ninguém quer para sua vida. Eu falei neste ponto sobre masoquistas apenas para ilustrar minha posição quanto a isso, em NENHUM MOMENTO CONDENEI OU CONCORDEI com suas ações praticadas, apenas permaneço neutro, pois ambas as ações praticadas possuem o mesmo valor.
ExcluirPor fim, quando você diz que bem e mal são construções sociais, você afirma consequentemente que não existem ações intrinsecamente boas ou ruins. Mediante isso, uma ação como o estupro e a decapitação de uma criança é moralmente neutra. Será que é isso o que de fato ocorre?
ExcluirSó porque acreditamos que isto seja errado, em NADA prova que é errado, nossas opiniões são infundadas e creio eu que a explicação para isso ser Deus é pressupor o teísmo. Cabe a minha pessoa provar que nossas opiniões são infundadas, pois bem, você tem seus hábitos e eu tenho os meus. Esta é minha resposta para minha questão.
Por que os masoquistas estão errados em querer obter prazer na base da força?
ExcluirNão afirmei que estavam, Andrei. Apenas ressaltei que consideramos isto errado, não que de FATO SEJA ERRADO. NÃO ESTOU DEFENDENDO VALORES, ANDREI, ESTOU DEFENDENDO A AUSÊNCIA DESTES, QUE INSINUA EM NIILISMO DE MINHA PARTE.
Para responder a questão do altruísmo de Schindler, citarei Nietzsche:
Excluir“Quem se rebaixa quer ser exaltado"
No fundo aquele que se rebaixa tem um desejo imenso de ser exaltado. Penso até que quem se exalta pede mesmo pra ser exaltado, é mais honesto em sua paixão, e a escancara.
1- A bondade é uma característica de Deus, pois faz parte de sua natureza.
Excluir2- Concordo com você. A validade moral de uma ação é totalmente indiferente ao número de pessoas que concordam sobre se ela é moralmente boa ou má, bem como uma ação não recebe um valor moral objetivo porque um número grande de indivíduos, mesmo que todos os indivíduos existentes em todo o universo, venha a concordar sobre o valor moral que tal ação tem. No entanto, são se trata de crer ou não se algo é errado, mas sim em enxergar que existem ações verdadeiramente boas e más. Ninguém está falando em certo ou errado aqui, mas apenas de BEM e MAL. O ponto é, o estupro e a decapitação de um bebê é algo intrinsecamente maligno, não importando a opinião de alguém. Assim o é porque temos dentro de nós que ferir a dignidade, a liberdade ou agir injustamente com alguém é errado. O ponto do argumento é provar que valores morais existem, tal como o bem e o mal. A justiça existe e independe de convenções humanas, ao passo que pressupomos a justiça como um parâmetro para nossas ações, embora divergimos acerca do que é ou não justo. A justiça é imutável e objetiva, mas a nossa interpretação acerca dela, não. Com relação ao bem e o mal, recuso-me a acreditar que você realmente pense, por exemplo, que o estupro de um bebê só por diversão é um ato moralmente neutro. Tal afirmação me deixa surpreso, ao passo que a experiência moral nos diz que existem de fato atos bons e ruins, experiência essa acessível a todo e qualquer ser humano.
Por fim, mais uma vez você utilizou o reducionismo para se referir ao altruísmo de Schindler. Não passa uma afirmação sem provas. Como alguém que se arriscou e morreu pobre queria ser exaltado? Além dele, pessoas que salvaram milhares de Judeus e preferiram ficar no anonimato, tal como é o caso de Nicholas Winton. Justificações subjetivas não refutam fatos.
Correção: Assim o é porque temos dentro de nós que ferir a dignidade, a liberdade ou agir injustamente com alguém é RUIM.
ExcluirSe isto foi um debate, admito minha derrota, pois ainda sou um estudante de filosofia, mas, como ateu, sinto que tenho de defender minha posição, apesar de tudo, agradeço por discutir comigo. Você possui mais conhecimento que eu. Vou estudar mais minha posição. Por fim, obrigado e abraços
ExcluirEu é que agradeço pelo debate. Espero, sinceramente, ter contribuído de alguma forma para a sua visão de mundo. Seja sempre bem-vindo. Sucesso em sua empreitada. Abraços.
ExcluirPorque a afirmação de Nietzsche é reducionista?
ExcluirPorque reduz o altruísmo a uma mera relação de interesses. O altruísmo em si está um grau acima disso. É dar-se sem receber nada em troca, ou até mesmo colocando-se em perigo, somente pelo fato de ser o certo a se fazer.
ExcluirComo você define o certo?
ExcluirAquilo que deveria ser feito.
ExcluirVocê acredita que a noção e principalmente distinção de bem em contrapartida com o mal é uma crença básica epistemológica?
ExcluirAndrei Santos, o que acha a respeito?
ExcluirEmbora muitos ateus busquem nestas correntes filosóficas um sistema moral alternativo que não necessite de um legislador externo, esta pode não ser a melhor opção de fuga, haja vista que a ética de escolher o mal menor tem um lado bastante perigoso.
ResponderExcluirSe você quer discutir a validade de algo não importa as consequências que isto faz ao mundo, em nada o refuta como possivelmente verdadeiro.
ExcluirConcordo com a primeira fala. Sem dúvidas, posturas utilitaristas e consequencialistas são perigosas.
ExcluirO que são absolutos morais?
Excluirhttps://rebeldiametafisica.wordpress.com/tag/argumento-logico-do-mal/
ExcluirDá para refutar?
Absolutos morais são verdades morais, apenas isso. Quanto ao argumento do mal, a premissa "O mal existe" já derruba o argumento. O mal, no naturalismo, não existe. Não há como continuar a analisar um argumento que sustenta algo que não acreditam para se provar outro algo em que não acreditam.
ExcluirEsta falácia é muito praticada junto à falácia genética.
ResponderExcluirSinceramente, qualquer principiante em filosofia aplicado sabe que o problema do mal não é lá grande coisa.
ResponderExcluirConcordo plenamente com você.
ResponderExcluirO mal não é uma prova contrária a Deus, é apenas um pretexto para a descrença.
ResponderExcluirExatamente!
ResponderExcluirDá pra resumir o problema do mal em um comentário apenas.
ResponderExcluirA questão do problema está centrada num dilema:
Deus possui motivos convincentes para permitir a existência de males no mundo?
Se sim, diga adeus ao problema.
Viu só? Tudo se resume a uma justificativa para existir o mal da parte de Deus (segundo ateus).
Mas nós que somos cristãos que vivenciam sua fé (creio eu) estamos cientes que o mal provém ou emana do abuso da liberdade humana e cada um desrespeitar o lugar (dignidade) de seu próximo.
Haja vista também o mal ser um inconveniente físico ou mental caso o Ateísmo for verdadeiro, só isso. Não há nenhuma razão para ele existir no Ateísmo.
ResponderExcluirAfinal, nossa vida não possui nenhum propósito ou valor no Ateísmo, porque inconvenientes seriam relevantes, hein?
ResponderExcluirEnfim, acabei me exaltando em afirmar que poderia resumir em um comentário apenas. Minhas ações provaram o contrário.
ResponderExcluirEspero que minha explicação sobre o assunto seja razoável.
ResponderExcluirLamentável é o fato do problema do mal jamais haver sido um argumento realmente satisfatório por parte dos ateus desinformados.
ResponderExcluirAfinal, o argumento nunca procurou provar que não há Deus, mas sim que Deus é irresponsável, mal ou indiferente para com a humanidade em permitir a existência do mal.
Certa vez ouvi falar da existência de quatro males: moral, natural, gratuito ou injustificado e mal justificado. O que são essas coisas, hein, Andrei Santos?
ResponderExcluirMal moral: o mal derivado da escolha moral, isto é, um mal praticado por seres livres de vontade própria.
ResponderExcluirMal natural: desastres naturais, tais como tsunamis, terremotos, etc.
mal injustificado: uma ação livre que tem como finalidade o próprio mal.
mal justificado: geralmente, um mal camuflado de bem.
E concordo com suas objeções acima.
ResponderExcluirQual a explicação cristã para o mal natural?
ResponderExcluirPergunto porque não sei. Não sou cristão, sou agnóstico, mas também não sou ignorante em áreas como a apologética.
ResponderExcluirExistem várias respostas para essa questão. Uma delas é que o mal natural seria proveniente do pecado original, segundo o cristianismo. Ainda assim, devo dizer que tais eventos naturais são, eles próprios, eticamente neutros. A moralidade não se aplica às rochas, à chuva ou ao vento. Pelo contrário, se há algo de ruim sobre tais acontecimentos, é que os seres humanos são pegos neles. Nós sentimos que as crianças não devem ser arrastadas para o mar e se afogarem, mas perceba que um naturalista, por exemplo, não tem base alguma para dizer que um tsunami que varre uma ilha do Pacífico é uma coisa ruim. Pode ser ruim para os habitantes da ilha, mas é um grande benefício para a vida marinha que circunda a ilha! Se dizemos que tais coisas não deveriam acontecer, então estamos reconhecendo que existe uma maneira como as coisas deveriam ser. Isso é reconhecer um plano de projeto que o naturalismo não suporta, um plano que requer um planejador que determinou como as coisas deveriam ser.
ResponderExcluirPor fim, precisamos apenas de uma justificativa plausível para a existência do mal natural. É muito plausível, por exemplo, que um mundo que está impregnado com o mal natural levaria um grande número de pessoas livremente conhecer a Deus e encontrar a vida eterna. Em um mundo totalmente desprovido de mal natural, provavelmente seríamos crianças mimadas, esquecendo-nos de Deus, agentes morais imaturos - uma ênfase que encaixa perfeitamente com sua própria teodiceia de construção de alma. Portanto, não seria errado da parte de Deus permitir que as catástrofes naturais. Desta forma, temos um argumento bastante plausível e logicamente coerente contra o mal natural.
Obrigado.
ResponderExcluirJá ouvi falar por aí que a afirmação "existe uma maneira pela qual as coisas deveriam ser" é o estado ideal platonista. O que acha a respeito?
ResponderExcluirPenso que essa afirmação, nesse sentido, quer dizer apenas que há um padrão objetivo que determina como as coisas deveriam ser, parâmetro este que está acima de qualquer inferência, idealização ou organização humana no que tange às normas de uma determinada sociedade.
ResponderExcluir1- Tudo o que existe tem uma explicação para sua existência
ResponderExcluir2- O mal existe
3- O mal deve possuir uma explicação para sua existência
4- O mal, por definição, contradiz o naturalismo
5- Portanto, o naturalismo é falso
Conclusão:
O mal não pode ser explicado pelo naturalismo, haja vista que se este último for verdadeiro, nada faz sentido, tudo dá na mesma, nada possui um significado intrínseco. Então, logicamente a explicação para o mal está além da natureza.
Alguma objeção ao argumento, Andrei Santos, está incorreto ou tem falácias contidas nele?
ExcluirAndrei Santos?
ExcluirA premissa 4 não segue a 3. Teria que estruturar melhor o argumento, ou adicionar a sua conclusão lógica e necessária, que é a explicação da existência do mal. Ou você poderia reformular o argumento de forma a evidenciar a ausência de sentido no naturalismo.
ExcluirPoderia me dizer o que significa o gênio maligno de Descartes?
ExcluirAndrei?
ExcluirO gênio maligno em Descartes nada mais é que uma formidável metáfora que busca evidenciar o ceticismo do pensamento. Um gênio do mal poderia literalmente confundir nossos pensamentos de forma que os faça parecer reais. O gênio maligno estaria, então, continuamente trabalhando para criar ilusões. O intuito de Descartes ao utilizar essa metáfora foi justamente mostrar que somos falhos e que devemos ter muito cuidado ao examinar nossos próprios pensamentos, buscando a verdade em todos os detalhes. Essa analogia foi utilizada pela primeira vez em sua obra "Meditações sobre filosofia primeira".
ExcluirA moralidade pode ser resumida ao que os homens devem fazer?
ResponderExcluirEm questões de vivência, pessoalmente, acredito que existem certas atitudes tomadas por nosso ego que são absolutamente erradas. Exemplos como preconceito, discriminação, racismo, estupro, abusar de vidas humanas são abominações morais que deveriam ser evitadas. Não há sustentação para a existência do bem e do mal no ateísmo, ambos só podem existir graças a Deus, certo?
Sim, é necessário um legislador moral na condição de parâmetro objetivo. Certamente, poderíamos resumir assim.
ExcluirO mal existir no ateísmo não possui sustentação sequer coerência.
ExcluirAfinal de contas o realismo moral é um fato?
ResponderExcluirAo meu ver, sim.
ExcluirA humildade se resume a admissão própria dos próprios erros ou falhas, para haver erros é necessário existir uma maneira a qual devemos nos corrigir, certo?
ResponderExcluirCorreto!
ExcluirSe valores morais realmente não existissem, palavras como culpa, responsabilidade, remorso e arrependimento não fariam o menor sentido! Tudo daria na mesma! Não teríamos o direito de criticar ninguém por suas ações, sejam maldosas ou bondosas! Tudo seria uno, incluindo os sentimentos negativos (arrogância, inveja, intolerância, hipocrisia) etc. Não haveria motivo para haver governos, ordem etc.
ResponderExcluirExato. Foram as interpretações do Cristianismo acerca dos valores morais objetivos que deram origem ao sistema de leis tal como conhecemos hoje.
ExcluirLi tudo, um aluno meu me mandou. Porém, faltou uma questão que considero fundamental e uma outra concatenada desta. Se é possível saber quem o que é este legislador externo? E assim saber para agora, antes e todos os tempos quais são os valores objetivos?
ResponderExcluirEspero que tal legislador externo não possa cair na subjetividade elaborada de cada cultura e assim consequentemente os valores objetivos já que partem de sua natureza.
Sou ateu, "a teu dispor" rs. Parabéns pelo texto, precisamos de mais teístas assim, penso com certeza que você relativiza proposições de líderes religiosos, encaixando dentro do que você entende (melhor, do que pra você e seu estudo) é objetivo e válido para todos.
Boa tarde! Primeiramente, eu gostaria de agradecer o elogio, a pergunta e, acima de tudo, a paciência que teve para ler este texto tão extenso! Vou tentar responder a sua pergunta: acredito que podemos saber, em certa medida, quem é o legislador moral. À luz de alguns argumentos aqui no blog apresentados, tal como o Argumento Cosmológico Kalam e o Argumento Ontológico Modal de Alvin Plantinga, se corretos, nos levam a uma causa externa bem parecida com o Deus Abraâmico (o Deus monoteísta clássico do qual a filosofia trata). Nós, cristãos, a título de exemplo, consideramos essa causa como sendo o Deus Judaico-cristão, justamente pela similaridade descrita no argumento em comparação com as descrições teológicas que dispomos: um ser transcendente, imaterial, eterno, imutável, onisciente, onipotente, benevolente, etc. Eu gosto muito de utilizar o termo do Filósofo Cristão Alvin Plantinga para definir o legislador moral: um ser maximamente grande, isto é, o maior ser logicamente concebível.
ExcluirNo que concerne à segunda pergunta, é importante ressaltar que o argumento não leva em consideração as questões de epistemologia moral, tais como o processo ou o modo pelo qual viemos a conhecer tais valores, tampouco quais seriam estes. O argumento trata apenas de seus fundamentos. Basicamente, ele trata de ontologia moral. No entanto, arrisco-me a dizer, mediante nossa experiência moral e intuitiva, que alguns valores são claros aos nossos olhos e corações, como a justiça, a dignidade, a honra, a liberdade, a humildade e a compaixão. Obviamente, não podemos esquecer da bondade, que é, por sua vez, o conjunto que concentra todos os valores. A bondade, por fim, seria a expressão da natureza desse ser maximamente grande.
Espero ter ajudado. Obrigado.
O Argumento Moral se resume basicamente na seguinte lógica:
ResponderExcluir(1) Se valores morais objetivos existem, então Deus existe;
(2) valores morais objetivos realmente existem;
(3), portanto, Deus existe.
Premissa (1); O ‘valor moral’ diz respeito ao mérito de uma pessoa ou ação, seja ela boa ou má. O ‘dever moral’ diz respeito a nossa obrigação de agir de certa forma, seja essa ação certa ou errada, ou seja, valor tem a ver com o fato de algo ser bom ou mau.
Deveres têm a ver com algo ser certo ou errado.
“Objetivo” Significa algo independente da opinião humana.
Por exemplo, as leis da natureza se sustentam, quer as reconheçamos ou não; logo, são objetivas.
Então, valores e deveres morais objetivos exigem a existência de Deus.
Premissa (2); Algumas coisas são realmente más: Estupro, torturar bebês, abuso sexual infantil, ódio, crueldade são coisas realmente erradas.
Por outro lado: Amor, generosidade, alto-sacrifício, tolerância etc.
São coisas boas, logo a premissa fica obvia que tais valores e deveres objetivos existem. Isso tudo são valores morais objetivos.
E dessas duas premissas segue a conclusão da 3° Logo Deus existe.
Se valores e obrigações morais objetivas não existem sem a existência de Deus, e valores e obrigações morais objetivas existem como é evidente em nossa experiência moral, segue necessariamente disso que Deus existe.
Vamos analisar a primeira premissa: Existem valores morais que sejam objetivos, ou seja, que são independentes de opiniões contrárias a sua existência?
ResponderExcluirSe a moralidade é relativa e não absoluta, este argumento é destruído!
Só para entender o vocabulário utilizado, moralidade objetiva significa que a diferença entre o certo e o errado é muita clara entre a humanidade, enquanto a moralidade relativa significa que a moralidade depende, ou não é clara para os seres humanos.
Abordamos até certa extensão deste assunto no artigo a respeito de verdade relativa versus verdade absoluta, mas aprofundaremos a questão mais um pouco.
Existem três tipos de moralidade relativa: Relativismo Cultural, Convencionalismo e Subjetivismo Ético.
O Relativismo Cultural defende que o que é certo em uma cultura pode ser errado em outra cultura, e por isso a moralidade não é objetiva.
Por exemplo, o aborto é completamente proibido em países como o México, opcional em países como os Estados Unidos e liberalmente praticado em países como a China. O grande problema dessa afirmação é que a moralidade não é descritiva e sim prescritiva. Ela diz como deveria ser o mundo e não o que é o mundo hoje. Além disso, só porque a resposta das culturas é diferente para uma determinada pergunta, não quer dizer que não exista uma resposta correta para essa pergunta.
Quando esse assunto surge, muitos céticos gostam de ilustrar com a história do elefante e das três pessoas vendadas. Ao apalpar partes diferentes do elefante, elas divergem na definição do objeto. Ao apalpar a trompa do elefante, uma diz que é uma cobra. Ao apalpar a pata do animal, a outra diz que é o tronco de uma árvore. A última, ao apalpar as orelhas do elefante, diz que é uma grande folha. Com essa história, querem dizer que pessoas diferentes veem a realidade de forma diferente, dependendo de onde você está e qual a cultura que você tem. Mas, com isso, eles se esquecem de um detalhe: apesar de cada pessoa ter dito uma coisa, a verdade não deixava de ser que eles estavam apalpando um elefante! Percebe? Quando as pessoas discordam a respeito da moralidade, não significa que não exista moralidade objetiva!
O segundo tipo, chamado Convencionalismo, diz que a sociedade seria o agente que deveria decidir o que é certo ou errado. Ao contrário do Relativismo Cultural segundo o qual não existem respostas certas ou erradas, o Convencionalismo diz que existe certo ou errado, porém, cada sociedade deve decidir. Não precisamos ir muito longe para entender que o Convencionalismo não dá certo. Essa era a filosofia da Alemanha na época de Segunda Guerra Mundial. A lei dizia que os judeus eram sub-humanos e indignos de viver. Essa lei era “moral” porque, em um sistema Convencionalista, tudo o que é legal é moral, e o que é ilegal é imoral.
ResponderExcluirA forma mais propagada de moralidade relativa é o Subjetivismo Ético. Nessa filosofia, é o indivíduo que define o que é certo e errado para ele. A moralidade nada mais é do que preferência e opinião pessoal. Nesse caso, ninguém poderia dar qualquer opinião concreta sobre um fato ou uma ação de forma coerente. Não poderia ser dito que os ataques terroristas ou guerras realizadas nas últimas décadas foram ruins, e nem que os grandes pacificadores e altruístas foram bons. Um subjetivista ético teria que passar indiferentemente por uma situação de homicídio ou de estupro sem dizer nada, porque, para ele, isso pode ser errado, mas para outros pode não ser. Pode parecer exagero, mas sua casa pode ser roubada e sua filha morta, desde que o ladrão e o assassino acreditem que suas ações são corretas.
Agora vamos para o outro lado da moeda: a Moralidade Objetiva. A Moralidade Objetiva é uma prescrição de princípios morais aplicáveis em todas as situações, para todas as pessoas em todas as épocas. Uma das formas de observar sua existência é simplesmente por nossa intuição. É o que percebemos, por exemplo, quando vemos a frase “Crianças são torturadas como forma de entretenimento”. Qual a sua intuição primária ao ler essa frase? Isto é errado! E quando lê a frase: “Homem mata esposa e filha com trinta facadas”. Errado!
O mais famoso ateu fundamentalista da atualidade, em seu livro O Rio que Saía do Éden, diz que nosso universo não oferece nenhum propósito, nenhum mal e nenhum bem.
Nada senão uma cega e impiedosa indiferença.
O DNA não se importa.
O DNA simplesmente é.
E nós dançamos conforme sua música.
Mas seu livro Deus, um Delírio está completamente permeado de um sentimento de profundo desgosto por atos “imoral”, assim demonstrado também por sua ativa participação em protestos contra abuso de crianças e pelo preconceito contra homossexuais.
Mas, se o DNA não sabe e nem se importa, por que e como sabemos o que é certo e errado e por que nos importamos?
Ele então continua a argumentar que a moralidade evoluiu dos chimpanzés que têm uma noção de viver em família, de ajudar seus parceiros e trabalhar em grupo. O problema disso tudo é que, se foi realmente a evolução que nos levou a adquirir o senso de moralidade que temos hoje, a moralidade é subjetiva, ou seja, cada pessoa, família ou grupo pode construir seu próprio código de moralidade. Isso não seria, porém, a moralidade absoluta que observamos na humanidade.
A Moralidade Objetiva é a única forma coerente de moralidade e a única que pode ser vivida consistentemente.
ResponderExcluirAgora que estamos tranquilos com a primeira e a segunda premissa, temos que entender como chegamos diretamente à terceira. Por que precisamos necessariamente chegar prematuramente à ideia de que a Moralidade Objetiva prova a existência de Deus? Não podemos explicar essa moralidade simplesmente atribuindo-a a lógica e à evolução naturalista? Para isso, precisamos explicar de onde veio à moralidade.
Primeiro, vejamos esta citação de um filósofo ateu dinamarquês: “Não fomos capazes de mostrar que a razão exige o ponto de vista moral, nem que todas as pessoas realmente racionais não deveriam ser individualistas egoístas ou não morais clássicos. A razão não decide aqui. O que pintei para você não é agradável. A reflexão sobre isso me deprime. [...] A razão prática, pura, mesmo com um bom conhecimento dos fatos, não o levará à moralidade.” [2] Isso se explica facilmente porque na visão ateia evolucionista o ser humano é apenas um animal, e animais não têm qualquer obrigação moral.
Outra citação interessante é do filósofo que tentou provar com unhas e dentes que a moralidade é relativa: “Se há valores objetivos, eles tornam a existência de um deus mais provável do que seria sem eles. Portanto, temos um argumento defensável a partir da moralidade para a existência de um deus.”
Com isso em mente, vamos relembrar os fatos que temos por enquanto. Sabemos que a moralidade é: (1) Prescritiva, (2) um comando, (3) universal, (4) objetiva, (5) autoritária.
Levando isso em consideração, em primeiro lugar, prescrições e comandos são feitos apenas entre seres pensantes, portanto, podemos saber que, seja de onde vem à moralidade, tem que vir de uma mente pensante. Em segundo lugar, a moralidade vem com um propósito e uma vontade, portanto, a fonte de moralidade também deve ter um propósito e uma vontade. Em terceiro lugar, a moralidade é universal e transcende os seres humanos, o tempo e o espaço, portanto, a fonte também deve ser transcendente. Em quarto lugar, já que a moralidade é autoritária, deve ter vindo de uma autoridade e autoridade só pode ser mantida por uma pessoa, portanto, a fonte deve ser pessoal. E, finalmente, a fonte deve ter o poder e a habilidade para impor a sua vontade moral em nossa intuição. Como podemos chamar essa fonte de moralidade? Deus.
Nas palavras de um filósofo e teólogo americano: “A razão pela qual o teísmo faz mais sentido aqui é que a personalidade e a moralidade estão necessariamente conectadas. Isto é, os valores morais estão enraizados na personalidade. Sem Deus (um Ser pessoal), nenhuma pessoa – e, portanto, nenhum valor moral – poderia existir.”
ResponderExcluirEspero ter ajudado contribuído com a conversa. abraços.
Contribuiu bastante, muito obrigado. Realmente, essa foi uma ótima defesa do argumento da moralidade. Gostaria de se identificar, anônimo?
ExcluirNa page do Facebook Respostas ao Ateísmo você saberá.
ExcluirValores morais absolutos. Absolutos, nesse contexto, significa que os valores são auto suficientes (existem por si mesmos) que entra em contradição com uma natureza moralmente neutra, né? Eis um dos motivos pra Deus ser o pilar dos valores morais, né, não, meu amigo?
ExcluirAndrei, você tá aí?
ExcluirAndrei, para evitar problemas e confusões recomendo que em um dos trechos de seu texto você acrescente isto:
ResponderExcluirÉ conveniente ressaltar que estamos discutindo a respeito da EXISTÊNCIA de valores morais que sejam objetivos e não como é a interpretação destes de acordo com culturas diversas.
Também percebi que você só defendeu a existência de valores objetivos no texto, em nada você falou a respeito de DEVERES ou obrigações
Essa distinção acerca dos valores objetivos e suas interpretações está na parte de Moralidade e Cultura. E, com relação aos deveres, está um pouco mais a frente.
ExcluirUma ação moralmente reprovável ou abominação moral só seria diferença de opinião num mundo sem um referencial objetivo moralmente perfeito.
ResponderExcluirPorque um referencial absoluto seria a razão da existência de valores morais?
Por favor, responda detalhando, exemplificando e resumindo para fácil entendimento e compreensão.
Porque valores subjetivos, na realidade, não existem. Um exemplo que citei no meu texto demonstra isso: Se um indivíduo considera que o aborto é algo bom e outro considera como sendo algo abominável, logo, quem está certo e quem está errado? Tornam-se verdades mutuamente excludentes. A razão nos diz que duas verdades antagônicas são uma impossibilidade lógica, afinal, um lápis não pode ser monocromaticamente verde e azul ao mesmo tempo. Deste modo, são necessárias, de fato, verdades morais. E, como leis só podem derivar de um legislador, só podemos inferir que a causa/razão dos valores morais é um ser pessoal.
ExcluirAgradeço o esclarecimento. Boa tarde
ExcluirNão esquenta com isso, eu não falei objetivamente. Espero que entenda.
ExcluirO que quero dizer é que os valores morais não poderiam ser mero especismo?
Não vejo como poderiam corresponder ao especismo, haja vista que somos os únicos seres vivos com capacidade de reconhecer os valores morais, assim como o bem e o mal.
ExcluirCerta vez alguém disse pra mim que valores morais são só expressões subjetivas de nossos sentimentos.
ExcluirEntão a justiça varia de acordo com o meu humor? Se eu estou com raiva e matar alguém, logo, sou justo? De todas as "teorias" que eu já ouvir, essa foi uma das piores. rsrsrs
ExcluirEsse sujeito A falou/afirmou para outro B que valores morais são subjetivos porque expressam sentimentos, sejam estes negativos ou positivos. Fora isso, ele não forneceu muito suporte para a afirmação dele. Como você procederia quanto a isso??
ExcluirE se os valores morais forem mero especismo? Seria uma exemplificação de reducionismo
ResponderExcluirNão entendi muito bem esta afirmação, desculpe-me.
Excluirhttps://www.youtube.com/watch?v=T2M9urzqqVs
ResponderExcluirPor mim,diria que o limite de Deus seria seu próprio caráter que consideramos imutável.
ExcluirPoderia me explicar com palavras bem simples a razão do ateísmo não poder sustentar nenhum dever e valor moral? Faria esse favor pra mim? Tenho dificuldade de aprendizagem, então gostaria que você Andrei Santos esclarecesse pra mim. Obrigado pela atenção.
ResponderExcluirBoa noite. Temo que tudo o que eu disse nas primeiras linhas do texto possa resumir tudo. Acredito que tentar reler seria de maior produtividade, pois o conteúdo ali é mais denso e conectado com outros pontos cruciais do tema.
ExcluirO universo é desprovido de propósito ou razão de existência no ateísmo. Verdade seja dita, a vida é um conjunto de decepções, ilusões e arrependimentos segundo os fundamentos desta filosofia.
ResponderExcluir