O Progresso dos Regressados: a "Idade das Trevas" ofuscada pelha brilhantez de seu tempo

by - outubro 30, 2015


 O Progresso dos Regressados

Àqueles que constantemente utilizam o argumento da "regressão à Idade Média", vos falo: foi na dita "idade das trevas" que surgiram as universidades, hospitais e escolas, tais como os conhecemos hoje. Foi na dita "era da ignorância" que a ciência moderna se mostrou ao mundo: o professor de Tomás de Aquino era, veja só, um biólogo! A ciência não começou com Galileu. Copérnico morreu no século XVI, mas ele era um padre astrônomo em uma universidade polonesa fundada na Idade Média. Ele nem sequer foi o primeiro a sugerir, a título de exemplo, que a Terra orbita o Sol! Outros tiveram essa sugestão: o mais proeminente deles foi Nicholas de Cusa, um filósofo e cardinal da Igreja Católica.

E sobre a arquitetura? Foi na dita "era escura" que pessoas comuns (pedreiros, carpinteiros, pintores, escultores e vidraceiros) ergueram as maiores e mais belas construções que já enfeitaram a Terra, vide os castelos medievais e as catedrais góticas. Sem o auxílio de ferramentas modernas, utilizando apenas roldanas, guindastes, andaimes, suas mãos e suas mentes, eles foram capazes de criar estonteantes esculturas, rendilhados em pedra e vitrais hipnotizantes que inundavam com cores e luzes o interior das majestosas catedrais. Foi na dita "época da barbárie" que o homem introduziu ao mundo gêneros artísticos inteiros, os quais ninguém jamais havia visto: A Divina Comédia de Dante; Os Contos da Cantuária; As Lendas do Rei Arthur, as pinturas de Giotto; entre outras inúmeras maravilhas da antiguidade.

Foi na dita "era do sangue" que se fincaram as raízes dos ouvidos musicais do Ocidente. Eles inventaram a nossa notação musical e harmonia, sem contar os cânticos natalinos. Longe de ser a "Idade das Trevas", a Idade Média pode ser melhor descrita como a Idade Brilhante: uma época do progresso surpreendente da ciência à arte, da filosofia à medicina. Na verdade, se olharmos mais atentamente, veremos que somos menos civilizados que nossos antepassados, ao passo que desvalorizamos indiscriminadamente suas conquistas. Não obstante, nós acumulamos as duas maiores guerras que a humanidade já viu e continuamos a superar os limites da bestialidade humana. Dito isso, eu vos pergunto: o que é o progresso?

A. Santos

Graduando em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense

Imagem: Milan Cathedral, Italy.

You May Also Like

22 comentários

  1. Além de antropólogo, gostas de ser irônico, não, Andrei Santos?
    Parabéns pelo texto!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A era das trevas não passa de uma caricatura ensino médio brasileiro iluminista e marxista

      Excluir
    2. Gostaria que você, quando puder, fizesse uma crítica com suas próprias palavras a respeito do argumento principal do ateísmo (problema do mal).

      Excluir
    3. Hahahaha! Obrigado pelos comentários! Sim, de fato, a era das trevas é uma caricatura risível propagada no iluminismo e que persiste até hoje. Muitos se aproveitam da ingenuidade para propagar tais besteiras na condição de verdade.

      Com relação ao texto sobre o problema do mal, eu irei sim abordá-lo mais a frente. Pretendo, inclusive, incluí-lo em meu futuro livro. Obrigado pela dica.

      Excluir
    4. Não há de quê. Abraços.

      Excluir
    5. Vejo que seu blog é interdisciplinar, pois bem, por favor, poderia escrever um post a respeito das objeções sobre a hipótese da homossexualidade genética?

      Excluir
    6. Certamente! No entanto, estou com um projeto no momento de escrever acerca da santa inquisição. É algo que julgo ser necessário em tempos onde muitos ainda acreditam nos mitos do iluminismo francês.

      Excluir
    7. Boa sorte para com o projeto, após tudo isto, irás escrever a respeito da fragilidade da homossexualidade genética, tal como fez com a moral ilusória ateísta?

      Excluir
    8. Sim, com certeza está entre as minhas aspirações.

      Excluir
    9. Vou lhe dar uma dica para o título da sua futura obra:
      Há bons fundamentos para a hipótese da homossexualidade genética? (Análise cética)
      Está aí, abraços e boa sorte para com sua graduação.

      Excluir
    10. Bem legal o título! Obrigado pelos votos de sucesso e pela dica. Abraços!

      Excluir
    11. Como o objetivo do blog é aprofundar o conhecimento de ambos (autor e leitor) por meio de diálogos e debates creio que a definição de conhecimento aqui é treinar o cérebro continuamente

      Excluir
    12. Tenho como propósito contribuir o máximo possível para com nossas visões de mundo.

      Excluir
  2. Respostas
    1. Eu é que agradeço pela participação e por cada contribuição de meus leitores.

      Excluir
    2. Qual a razão suficiente ou explicação para a existência das coisas?
      Resposta típica de um ateu:
      As coisas simplesmente existem.
      Será?
      Onde está o argumento da contingência, Andrei Santos? Quando irás publicar a respeito?

      Excluir
    3. Se somos o efeito, logicamente há uma causa antecedente ao universo

      Excluir
    4. A explicação mais coerente para haver coisas imutáveis seria existir um padrão imutável?

      Excluir
    5. Pretendo postar em breve. E sim, há uma causa imutável para um padrão imutável.

      Excluir
    6. Sinceramente, usando o bom senso, dificilmente dá pra negar a objetividade dos valores morais, afinal, acreditamos que nossas palavras possuem valor. Prova? Experimente ser ignorado por alguém, surge em nós uma repulsa ao ato deste por desprezar nossa integridade

      Excluir
    7. Essa é uma entre diversas maneiras que podemos utilizar para provar a objetividade dos valores morais.

      Excluir