O Argumento da Contingência (Análise)
by
Andrei
- dezembro 30, 2015
O Argumento Cosmológico da Contingência
Este é, sem sombra de dúvidas, um dos meus argumentos filosóficos preferidos. O argumento da contingência, também conhecido como argumento cosmológico modal, é, ao meu ver, um das mais fortes evidências lógicas que dispomos acerca da existência de Deus. Ele me surpreende não somente pela sua força e solidez, mas também por sua simplicidade. Este é, basicamente, um tipo de argumento cosmológico que afirma que a contingência do mundo ou do universo é melhor explicada por Deus. Além disso, este é um dos argumentos para a existência de Deus mais antigos e o mais proeminente dos argumentos cosmológicos. É interessante ressaltar que ele se distingue do argumento cosmológico Kalam por ser consistente com a possibilidade do universo ser eterno no passado, ainda que tenha sido apresentado em diferentes versões por filósofos como Platão, Tomás de Aquino e Leibniz.
A estrutura do argumento
Conclusão e considerações finais
Este é, sem sombra de dúvidas, um dos meus argumentos filosóficos preferidos. O argumento da contingência, também conhecido como argumento cosmológico modal, é, ao meu ver, um das mais fortes evidências lógicas que dispomos acerca da existência de Deus. Ele me surpreende não somente pela sua força e solidez, mas também por sua simplicidade. Este é, basicamente, um tipo de argumento cosmológico que afirma que a contingência do mundo ou do universo é melhor explicada por Deus. Além disso, este é um dos argumentos para a existência de Deus mais antigos e o mais proeminente dos argumentos cosmológicos. É interessante ressaltar que ele se distingue do argumento cosmológico Kalam por ser consistente com a possibilidade do universo ser eterno no passado, ainda que tenha sido apresentado em diferentes versões por filósofos como Platão, Tomás de Aquino e Leibniz.
Sabemos que o argumento cosmológico da contingência apresenta-se de várias formas, no entanto, eis uma versão simples da famosa versão da contingência, versão esta atualmente defendida e apresentada por filósofos como W.L. Craig, Richard Swinburne, Robert Koons, Alexander Pruss, Stephen Davis e Timothy O'Connor:
(1) Tudo que existe tem uma explicação para a sua existência, quer na necessidade de sua própria natureza, quer numa causa externa.
(2) Se o universo tem uma explicação para sua existência, essa explicação é Deus.
(3) O universo existe.
(4) Logo, o universo tem uma explicação para sua existência (de 1, 3).
(5) Logo, a explicação da existência do universo é Deus (de 2, 4).
Percebam que esse argumento é, em termos de estrutura, logicamente perfeito. Em decorrência disso, se as premissas forem verdadeiras, logo a conclusão será inevitável, quer gostemos ou não. Não importa que tenhamos outras objeções à existência de Deus, pois, uma vez que admitamos a validade das três premissas, temos de aceitar necessariamente a conclusão. Por fim, a pergunta que devemos fazer é: o que é mais plausível, essas premissas serem verdadeiras ou falsas?
Analisando a premissa 1
Consideremos primeiro a primeira premissa. De acordo com ela, há dois tipos de coisas: as que existem necessariamente, e as que são produzidas por alguma causa externa (contingências). Permitam-me explicar. As coisas que existem necessariamente existem por uma necessidade da sua própria natureza. Para elas, é impossível não existir. Muitos matemáticos pensam que números, conjuntos numéricos e outras entidades matemáticas existam dessa forma. A sua existência, portanto, não seria causada por outra coisa qualquer; elas apenas existiriam necessariamente. Em contrapartida, as coisas cuja existência é causada por outra coisa qualquer, não existem necessariamente, ou seja, objetos físicos conhecidos, como pessoas, planetas e galáxias, pertencem a essa categoria, cujo nome nos é assimilável por contingências.
Portanto, a Premissa 1 assevera que tudo o que existe pode ser explicado por uma dessas duas maneiras. Essa afirmação, quando se refletida na referida premissa, parece-nos sólida e verdadeira. Como o Dr. Craig exemplifica:
"Imagine que você está fazendo uma caminhada pela mata e, então, se depara com uma bola translúcida no chão do bosque. Naturalmente, você fica pensando em como foi que ela chegou ali. Se algum de seus companheiros de caminhada lhe dissesse: “Não se preocupe com isso! Não existe explicação para a existência disso!”, você acharia que ele é maluco ou que apenas queria que você continuasse andando. Ninguém levaria a sério a sugestão de que a bola existia ali literalmente sem nenhuma explicação."
Suponha agora que você aumente a bola dessa história para o tamanho de um caminhão. Isso em nada serviria para satisfazer ou remover a exigência de uma explicação. Imagine agora que fosse do tamanho de um prédio. Do mesmo modo, a exigência continuaria. Presuma que fosse do tamanho de um continente ou de um planeta. Sim, teríamos o mesmo problema. Agora, consideremos que seja do tamanho de um universo inteiro. Teríamos exatamente o mesmo problema. Mais uma vez, nos fica evidente que mero aumento do tamanho da bola nada faz para afetar a necessidade de uma explicação. Uma vez que qualquer objeto poderia ser substituído pela bola nessa história, isso proporciona a base para pensar que a Premissa 1 deve ser verdadeira.
Alguns ateus até aceitam que a Premissa 1 seja, de fato, verdadeira, porém, eles pensam que assim o é para todas as coisas que há no universo, mas não em relação ao universo em si. Em síntese, tudo o que existe no universo tem uma explicação, mas o próprio universo não teria explicação. Como o Dr. Craig salienta:
"Essa resposta comete o engano que tem sido apropriadamente chamado de “falácia do táxi”. Pois, segundo o gracejo de Arthur Schopenhauer, filósofo ateu do século XIX, a Premissa 1 não pode ser despachada como um táxi, uma vez que se chegue ao destino desejado! Não se pode dizer que há uma explicação para a existência de tudo e então, de repente, deixar o universo de fora. Seria arbitrário alegar que o universo é uma exceção à regra. (Deus não é uma exceção à Premissa 1: ver abaixo em 1.4). A nossa ilustração da bola no meio da mata mostra que o mero aumento do tamanho do objeto a ser explicado, até mesmo tornando-se o próprio universo, nada faz para dispensar a necessidade de uma explicação para sua existência."
Não obstante, alguns filósofos sustentam que é impossível haver uma explicação para a existência do universo, pois tal explicação estaria em algum estado prévio de coisas em que o universo não existia ainda. Mas isso seria o nada, e o nada não pode ser a explicação de alguma coisa. Portanto, o universo deve existir exatamente de modo inexplicável. Essa linha de raciocínio, no entanto, é obviamente falaciosa, pois assume que o universo é tudo o que existe; se o universo não existisse, nada existiria. Noutras palavras, a objeção considera que o próprio ateísmo é verdadeiro. Quem levanta a objeção está, portanto, utilizando uma petição de princípio em favor do ateísmo, isto é, argumentando em círculos. O teísta concordará que a explicação do universo deve ser (explicativamente) algum estado de coisas anterior em que o universo não existia, mas esse estado de coisas é Deus e sua vontade, não o nada. Mas, então, por que não o nada?
Na verdade, esta pergunta está um tanto mal formulada. A indagação correta seria: pode algo vir do nada? Se não existia nada físico, então teríamos apenas duas opções:
(1) O Universo emergiu de alguma substância não-física, de natureza ontológica, que existia naquele estado.
(2) O Universo surgiu a partir de absolutamente nada. E É ESSE o maior erro dos ateus! O nada não é material e o nada também não é imaterial, o nada simplesmente não é. O nada absoluto é justamente aquilo que não tem NENHUM predicado positivo. Justamente por isso ele não é algo ontológico.
(2) O Universo surgiu a partir de absolutamente nada. E É ESSE o maior erro dos ateus! O nada não é material e o nada também não é imaterial, o nada simplesmente não é. O nada absoluto é justamente aquilo que não tem NENHUM predicado positivo. Justamente por isso ele não é algo ontológico.
Muitas vezes os ateus surgem falando que “o Universo surgiu do nada” sugerindo que ele surgiu do vácuo quântico. O que eles falham em perceber, no entanto, é que o vácuo quântico é um ente cheio de características, ou seja, ele não é um "nada", mas um mar de energia flutuante dotada de uma rica estrutura e sujeita a leis físicas de diversas espécies. O próprio fato do vácuo quântico ser estudado pela ciência demonstra que ele tem um caráter ontológico, pois assim como a ciência não pode estudar o "não-cachorro" ou "não-humano", ela não pode estudar o "não-ser". Nesse caso, absolutamente coisa alguma positiva poderia se falar acerca do nada. Só poderíamos negar as suas características. Essa é a verdadeira definição do nada. No momento em que os ateus começam a dizer que, por exemplo, a lei da gravidade criou o Universo, eles estarão admitindo que alguma substância ontológica é o estado do qual emergiu o Universo, só discordando qual é a natureza dessa substância. Igualar “Lei da Gravidade” ou “Vácuo Quântico” com “Nada” seria simplesmente uma tolice. Logo, em função do argumento da contingência, parece que a Premissa 1 é de, fato, muito mais plausivelmente verdadeira do que falsa, e isso é tudo o que precisamos para um bom argumento.
Analisando a Premissa 2
Seria ela mais plausivelmente verdadeira do que falsa? Embora, à primeira vista, essa premissa pareça dúbia, o que é embaraçoso de fato para o ateu é que ela equivale à resposta ateísta típica ao argumento da contingência. (Duas declarações são logicamente equivalentes se for impossível que uma seja verdadeira e a outra seja falsa. Elas permanecem ou caem juntas.) Assim, o que o ateu quase sempre diz em resposta ao argumento da contingência? Ele, tipicamente, afirma o seguinte:
(A) Se o ateísmo é verdadeiro, não há explicação para a existência do universo.
Haja vista que, no ateísmo, o universo é a realidade máxima, ele existe exclusivamente como fato bruto. Isso equivale logicamente a dizer que:
(B) Se o universo tem uma explicação para sua existência, então o ateísmo não é verdadeiro.
Logo, não é possível afirmar (A) e negar (B). Mas (B) é praticamente sinônima da Premissa 2! Portanto, ao afirmar que, dado o ateísmo, o universo não tem explicação, o ateu está admitindo implicitamente a Premissa 2: se o universo tem de fato uma explicação, então Deus existe.
Além disso, a Premissa 2 é por si só muito plausível. Basta pensarmos naquilo de que o universo é composto: toda a realidade espaço-temporal, inclusive toda matéria e energia. Por isso, se há uma causa para que o universo exista, tal causa deve ser um ser não físico, imaterial, além do tempo e do espaço. (Ver Argumento Cosmológico Kalam) Ora, só há dois tipos de coisa que caberiam nessa descrição: um objeto abstrato, como um número, ou então uma mente incorpórea. Mas objetos abstratos nada podem causar; faz parte do significado de ser abstrato. O número sete, por exemplo, não é capaz de causar nenhum efeito. Logo, se há uma causa para a existência do universo, ela tem de ser uma Mente incorpórea e transcendente que os cristãos entendem ser Deus.
Analisando a Premissa 3
Bem, a Premissa 3 é inegável para qualquer um que sinceramente procure a verdade. É óbvio que o universo existe!
Conclusão e considerações finais
Dessas três premissas, infere-se que Deus existe. Logo, se Deus existe, a explicação para a sua existência está na necessidade da sua própria natureza, visto que, conforme até mesmo os ateus admitem, é impossível que Deus tenha uma causa. Portanto, se for válido, esse argumento prova a existência de um Criador do universo que é necessário, incausado, atemporal, ilimitado, imaterial, pessoal. Temos aqui, portanto, um argumento logicamente válido e bastante forte para a existência de Deus.
Referências:
Referências:
[1] Craig, William Lane. Reasonable Faith, 3.ed. Wheaton: Crossway, 2008 [cap. 3]. [Publicado em português com o título Apologética contemporânea: a veracidade da fé cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012.]
[2] Davis, Stephen T. “The Cosmological Argument and the Epistemic Status of Belief in God”. Philosophia Christi 1 (1999): 5–15.
[3] *———. God, Reason, and Theistic Proofs. Reason and Religion. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
[4] Leibniz, G. W. F. von. “On the Ultimate Origin of Things”, pp. 345–355, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque York: Scribner’s, 1951.
[5] ———. “The Principles of Nature and of Grace, Based on Reason”, pp. 522–533, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque: Scribner’s, 1951.
[6] *O’Connor, Timothy. Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency. Oxford: Blackwell, 2008.
[7] *Pruss, Alexander. “The Leibnizian Cosmological Argument”, pp. 24–100, in The Blackwell Companion to Natural Theology, William Lane Craig e J. P. Moreland, orgs.. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
[8] *———. The Principle of Sufficient Reason: A Reassessment. Cambridge Studies in Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
[9] http://teonismo.wikia.com/wiki/Argumento_da_conting%C3%AAncia
[2] Davis, Stephen T. “The Cosmological Argument and the Epistemic Status of Belief in God”. Philosophia Christi 1 (1999): 5–15.
[3] *———. God, Reason, and Theistic Proofs. Reason and Religion. Grand Rapids: Eerdmans, 1997.
[4] Leibniz, G. W. F. von. “On the Ultimate Origin of Things”, pp. 345–355, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque York: Scribner’s, 1951.
[5] ———. “The Principles of Nature and of Grace, Based on Reason”, pp. 522–533, in Leibniz Selections, P. Wiener, ed. Nova Iorque: Scribner’s, 1951.
[6] *O’Connor, Timothy. Theism and Ultimate Explanation: The Necessary Shape of Contingency. Oxford: Blackwell, 2008.
[7] *Pruss, Alexander. “The Leibnizian Cosmological Argument”, pp. 24–100, in The Blackwell Companion to Natural Theology, William Lane Craig e J. P. Moreland, orgs.. Oxford: Wiley-Blackwell, 2009.
[8] *———. The Principle of Sufficient Reason: A Reassessment. Cambridge Studies in Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
[9] http://teonismo.wikia.com/wiki/Argumento_da_conting%C3%AAncia
[10] http://www.reasonablefaith.org/portuguese/o-argumento-da-contingencia