Pálido ponto azul (Por Carl Sagan)

by - agosto 27, 2013


O Pálido Ponto Azul

O termo pálido ponto azul é derivado de uma famosa fotografia da terra captada pela sonda "Voyager 1", onde o foco é o planeta terra como um minúsculo ponto, distante, aproximadamente, 6.4 bilhões de quilômetros, no meio de um raio solar, circulado em azul. Esta imagem serve para mostrar o quão pequeno e insignificante somos nesse universo. Obviamente, esta imagem foi e é amplamente utilizada no intuito de demonstrar os parâmetros físicos do Universo para dizer que Deus não existe. Como o Universo, em escala, torna a Terra um local muito pequeno, tal fato significa que seres humanos são insignificantes. Tal trucagem tem origem, provavelmente, nesse livro de Carl Sagan, que por sua vez tirou inspiração de uma foto.

Mas sejamos justos, eu, particularmente, não lembro de Carl Sagan ter usado essa citação ou esta foto ESPECIFICAMENTE para difamar o teísmo ou a religião (embora ele faça isso em outros momentos na obra). Portanto, se há culpa, ela vai diretamente para o usuário da técnica, não para Sagan. A ideia, como já explicado, é simples. Compara-se o tamanho da Terra com o tamanho geral do Universo e daí se faz um nexo para a inexistência de Deus. Por exemplo:

"- Olhe para o Universo. Ele é milhões de vezes maior do que a Terra! Nós somos apenas poeiras das estrelas em um pálido ponto azul. Nós somos tão insignificantes… E vocês ainda acham que Deus existe? Hahahaha…"

Na verdade, o que essa falácia esconde é o velho sentimento de “Se Deus não determina as coisas do jeito que eu gostaria, então ele não existe”. O fato de o Universo ser muito grande não demonstra em nada a inexistência de Deus. A suposta insignificância é totalmente relativa, afinal, podemos muito bem dizer o contrário. Nós humanos já conhecemos uma grande parte do Universo em extensão. Dentro dessa extensão, somente o nosso planeta, no meio de tantas possibilidades, possui vida inteligente capaz de ter evoluído e se organizado em sociedade. Pense em quão raro um evento assim é: há bilhões e bilhões de espaços que poderiam ser assim e só nós temos essa qualidade. É como se um viajante, dentro de um extenso deserto, encontrasse um oásis repleto de palmeiras, água e comida. Obviamente, esse seria um evento único e digno de nota: Por mais pequeno que o oásis fosse comparado ao deserto, ele ainda seria algo muito bom!

Dessa forma, nós poderíamos nos considerar como seres especiais. Afinal, a maior parte do Universo só possui matéria inanimada sem consciência. É praticamente um milagre que eu, em específico, esteja vivo sendo capaz de experimentar alegria, paixão e outros sentimentos. Mas será que o texto acima apresenta uma visão coerente? Sim, tanto quanto a alegação de que somos “insignificantes”. A alegação de “insignificante” ou não depende unicamente da PERSPECTIVA utilizada. E, é claro, a perspectiva que você escolhe não serve para formar um ARGUMENTO.

Também é logicamente possível compatibilizar a existência de Deus com um grande Universo. Não há contradição entre as duas ideias. Inclusive podemos pensar em alguns motivos para isso. Pode ser que Deus quisesse criar várias espécies como a nossa em diferentes espaços, utilizando para isso uma escala larga. Pode ser que a extensão do Universo simplesmente seja uma forma de nos lembrar da nossa contingência e nos levar, pela apreciação de sua beleza, ao encontro com Deus. Abraham Lincoln, por exemplo, teria dito: “Acho impossível que um indivíduo contemplando o céu possa dizer que não existe um Criador.”  E por aí vai, sendo possíveis outros motivos. O mais importante é lembrar que uma alegação também depende do escopo total, ou seja, mesmo que esse fosse um aspecto contra, ainda poderiam existir MUITOS outros a favor (e que deveriam ser analisados). Portanto, não é tão fácil assim tirar o teísmo filosoficamente da jogada. Em resumo, os pontos a serem observados são:


1- A alegação de “insignificância” depende da perspectiva e do critério utilizado pelo investigador.


2- A utilização de uma perspectiva própria e relativamente arbitrária NÃO serve como base para um argumento.

3- Não há contradição entre Deus e um Universo impressionante, pois podemos compatibilizar as duas ideias.

4- E, por último, a análise de uma alegação depende do escopo TOTAL que ela apresenta e mesmo que o argumento fosse correto, ainda teriam outros fatores para contrabalanceá-los.


Conclusão e considerações finais:

Essa técnica tem um foco emocional, ou seja, é apenas uma falácia de apelo à emoção. Acho que podemos dizer que mostrando que há uma alternativa válida a ela, então ela perde seu poder. Basta ter em mente que o foco é a emoção e a perspectiva a ser observada, bem como é preciso estar atento para não se deixar levar pela emoção em apelo, pois de início o argumento pode parecer convincente, mas se analisado de forma correta, sua falácia fica em evidência.

Referências:

https://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/

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